Solidariedade

Combate à fome: articulação agroecológica garante comida de verdade em Florianópolis

Projeto iniciado durante pandemia de covid-19 reafirma direito à alimentação com produtos saudáveis

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O trabalho coletivo é feito em três piquetes em áreas cultiváveis da UFSC - Núcleo de Agroecologia da FER/UFSC
A ideia é aproveitar os 5 hectares de área cultivável da UFSC

Florianópolis (SC) é oficialmente a primeira Zona Livre de Agrotóxicos do Brasil. A aprovação do Projeto de Lei 17538/2018 em 2019 baniu o uso e venda de venenos agrícolas em todo o território da capital catarinense. 

A conquista legislativa é fruto de mobilizações de diversos setores locais no âmbito da agroecologia. Um dos exemplos desses processos agroecológicos na Ilha está configurado na solidariedade diante da pandemia do novo coronavírus.

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Ainda nos primeiros dias após o decreto de isolamento social em Florianópolis nasceu o Projeto Plantio Agroecológico Solidário (PAS). A iniciativa produz alimentos na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e faz doações para pessoas impactadas pelas crises sociais e econômicas ampliadas com a covid-19.  

A professora de Zootecnica e Desenvolvimento Rural do Centro de Ciências Agrárias da UFSC, Patrizia Ana Bricarello, além de uma das coordenadoras do projeto. 

"A ideia é aproveitar os 5 hectares de área cultivável [da UFSC] e a área Pastoreio Racional Voisin - que é onde os nossos animais são mantidos. E começamos destinando um dos piquetes para uma pequena horta", ressalta Patrizia, que é uma das coordenadoras do PAS. 

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O PAS é uma parceria que juntou os trabalhos do Núcleo de Agroecologia da Fazenda Experimental da Ressacada (FER) da UFSC com outras redes e organizações locais, a exemplo do Mandato Agroecológico, tocado pelo vereador Marcos José de Abreu (PSOL), mais conhecido como Marquito. O parlamentar afirma que a ideia do Propjeto é lutar por direitos populares.    

"O [projeto] Plantio Agroecológico Solidário surge como uma resposta de que as universidades podem ter um diálogo com a sociedade civil, que as pessoas estão interessadas na agroecologia, e que a agroecologia é uma resposta à pandemia e que em todos os espaços é possível produzir alimentos", afirma Marquito, que foi reeleito para a Câmara dos Vereadores de Florianópolis nas Eleições de 2020.  

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Algumas das colaborações do Mandato Agroecológico com o PAS são articulação entre demais parceiros e mobilização de voluntários, que atuam entre os três piquetes de 600 m². Ao longo das atividades já foram doados mais de 2 toneladas de alimentos in natura ou pré-processado.  

A professora Patrizia Ana Bricarello explica que as atividades do Projeto Plantio Agroecológico incluem produção, colheita e preparação do alimentos. Essas três etapas são tocadas no espaço acadêmico, com a participação do Laboratório de Ecologia Aplicada (LEAP/UFSC). Os passos seguintes são de transporte e distribuição.

Os alimentos são destinados a famílias em situação de rua na Grande Florianópolis, além de cozinhas solidárias. Há uma logística de revezamento na distribuição para atender a diversidade de organizações que recebem os alimentos. 

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"O Núcleo Agroecológico e o LEAP são responsáveis por toda a parte do cultivo, colheita e preparação dos alimentos. Se vamos enviar cinco engradados de cenouras para uma cozinha solidária precisamos higienizar. Eles vão para uma cozinha. Então serão limpos, lavados, higienizados, escovados e organizados em caixas", afirma a médica veterinária, que conta que o transporte dos alimentos pode ser feito pela própria universidade ou pelo Mandato Agroecológico ou mesmo por um dos voluntários do PAS. 

Parcerias

A professora Patrizia Ana Bricarello contabiliza cerca de 200 pessoas participando do PAS. A lista é diversa e junta ainda o Viveiro de Mudas da FER, Setor de Avicultura da FER, Centro de Ciências Agrárias (CCA/UFSC), Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (CEPAGRO), Laboratório de Educação do Campo e Estudos da Reforma Agrária (LECERA) e Sesc Cacupé.

As campanhas solidárias realizadas tiveram a parceria dos grupos Campanha Covid-19, Floripamor, Casa São José da Serrinha, Mutirão do Bem Viver, Coletivo Buva. As cozinhas comunitárias que se somaram no projeto foram: Cozinha Solidária do Ribeirão da Ilha, Cozinha de Todes, Templo Hare Krishna (ISKCON).

As doações do PAS incluíram também estudantes e terceirizados da UFSC (ambos em situação de vulnerabilidade), além da Igreja Batista e famílias haitianas.

Edição: Douglas Matos