recado dos becos

Artigo | Funk: o ritmo que vem da favela

Um dos estilos musicais mais criminalizados do país se tornou principal meio de divulgação e conscientização da vacina

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
"Em 2020, assim que a pandemia dominou o país, foram as favelas e periferias que também deram o recado em organização, trabalho comunitário, cooperação, comunicação e apoio mútuo" - Foto: Mídia Ninja

MC Fioti, que há anos faz sucesso pelas favelas e periferias de todo o país, lançou no final de semana o clipe musical intitulado de ‘Vacina Butantan’, e em poucas horas teve mais de 1 milhão de visualizações. O episódio fez desse estilo musical — que há décadas é um dos mais criminalizados do país — se tornar uma das principais formas de comunicação entre a ciência e toda a população brasileira, divulgando a descoberta e a importância da vacina contra a Covid-19

Ter o funk, um ritmo musical que vem dos becos das favelas com esse reconhecimento, é um alento para nós que lutamos dia a dia contra a criminalização e o racismo diariamente, ainda mais quando se trata de um país que cada vez mais tem como regra a retirada de qualquer tipo de direito, principalmente quando se trata dos mais pobres, favelados, periféricos do país. 

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Cooperação comunitária

Em 2020, assim que a pandemia dominou o país, foram as favelas e periferias que também deram o recado em organização, trabalho comunitário, cooperação, comunicação e apoio mútuo. Isso é fazer política no chão e na prática. No Rio de Janeiro, por exemplo, foram os movimentos de favelas e periferias e comunicadores comunitários que se organizaram e produziram formas de comunicação sobre as regras sanitárias. Foram os coletivos desses locais que passaram a buscar apoios para a compra de alimentos, máscaras e álcool 70%, além de produzir dados sobre o número de infectados e mortos para que a população estivesse sempre bem informada. 

Tais ações demonstram o quanto a favela, a periferia, o quanto esse espaço tão criminalizado pelos governos e toda a sociedade consegue se organizar para sanar os impactos e a própria falta de direitos. As ações que ocorreram na favela no ano passado foram feitas porque já sabíamos que seríamos nós, novamente, que não teríamos qualquer tipo de comunicação sobre a covid-19. Sabíamos que o desemprego iria atingir altas taxas e que nós não teríamos nem mesmo comida. 

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Sem direitos garantidos

Chegamos a este momento da pandemia sabendo que somos nós quem segue sem qualquer tipo de direito ao isolamento. Nem água para lavar as mãos temos. O fato é que não queremos mais lutar incansavelmente para sanar os impactos da falta de direitos. Nós queremos que todos os direitos sejam garantidos e distribuídos igualmente, porque, enquanto não houver essa divisão por igual, seremos nós a perder vidas.  

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Para finalizar este artigo, digo que a favela é e sempre foi uma solução para a falta de direitos, seja para a falta de moradia, de atendimento básico à saúde, de água, de comida ou comunicação. A favela é uma grande solução, seja quando temos o funk como a principal forma de divulgação sobre a vacina, num momento em que temos um governo de extrema direita que dissemina inúmeras fake news, ou quando temos a organização feita por comunicadores comunitários das favelas com campanhas para a busca de alimentos, divulgação de regras sanitária, ou mesmo para afirmar sempre que a favela também é cidade, que nós existimos!

Edição: Rogério Jordão