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"Há um conjunto de cristãos que não apoia iniciativas de Bolsonaro", afirma pastora

Lideranças religiosas apresentaram pedido de impeachment do presidente por “manejo criminoso das políticas sanitárias"

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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"Não se pode transformar o amor em retórica, e um gesto de amor hoje é o gesto da vacinação", afirma pastora Romi Bencke - Conic/Divulgação

A secretária-geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), Romi Bencke, afirma que o pedido de impeachment contra Jair Bolsonaro (sem partido) apresentado por lideranças religiosas se dá, entre outras coisas, porque uma parcela dos cristãos não se sente representada pela conduta do presidente na pandemia. Na terça-feira (26), 380 nomes de diferentes igrejas católicas e evangélicas protocolaram mais um documento dessa natureza na Câmara dos Deputados, onde já há 63 processos que pedem a saída do presidente do cargo.

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O pedido das igrejas tem como base “o manejo criminoso das políticas sanitárias durante a pandemia, o não acesso à vacina e o desprezo pela vida dos brasileiros”, como detalha o documento. A peça foi produzida pela Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) e reúne assinaturas da Frente Ampla Cristã.

A lista de signatários inclui pastores, padres e outros religiosos de diferentes denominações cristãs. É a primeira vez que católicos e evangélicos se unem para pedir a deposição do presidente, e a iniciativa conta com o apoio da Câmara Episcopal da Igreja Anglicana do Brasil.

“A gente sabe que Bolsonaro tem uma boa base de apoio entre as bases conservadoras das igrejas. Então, a gente avaliou que seria muito importante fazer esse contraponto e dizer ‘tem um conjunto de cristãos que não apoiam e condenam esse tipo de iniciativa do governo Bolsonaro’”.

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Crimes de responsabilidade

A pastora luterana aponta que o presidente comete crimes de responsabilidade durante a pandemia por se ausentar das obrigações impostas pelo cargo. “A responsabilidade primeira de oferecer suporte à população, à sociedade, tanto [pra] que as pessoas possam se prevenir quanto pra fortalecer o sistema público de saúde, é do governo federal, e isso não aconteceu”, diz, ao mencionar, por exemplo, o fim do auxílio emergencial.

Auxílio emergencial

A política foi encerrada em dezembro, e Bolsonaro não renovou a liberação do benefício, pago a trabalhadores em situação de vulnerabilidade, especialmente os informais. Diante do caos socioeconômico do país, o presidente tem recebido pressão inclusive de aliados seus para estender o auxílio, mas tem se mostrado irredutível diante da questão. Ele sustenta que não haveria caixa disponível para isso.

A secretária-geral do Conic destaca que os signatários do pedido de impeachment estão “em campanha” pela prorrogação do auxílio, porque é algo “fundamental para as pessoas em vulnerabilidade econômica”.

“O desemprego no Brasil aumentou significativamente durante a pandemia, então, é dever do Estado garantir que esses cidadãos tenham recursos para se manter durante este período e até depois desse período, porque a gente vai precisar reestruturar o país. Isso não vai ser de um dia pro outro”, argumenta Romi Bencke. 

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Vacina

Ao contestar o discurso negacionista entoado por Bolsonaro, a pastora diz ainda que a comunidade religiosa signatária do pedido de impeachment apoia as vacinas, “independentemente da sua origem”. Ela afirma também que a imunização é algo relacionado às concepções cristãs.  

“Se vacinar não é uma decisão única e exclusivamente individual, mas sim uma responsabilidade coletiva, de amor ao próximo, porque, se eu tenho como princípio de fé o cuidado, o respeito à vida, o amor ao próximo, eu preciso concretizar isso de forma prática. Não posso transformar o amor em retórica, e um gesto de amor hoje é o gesto da vacinação”.

Por fim, a pastora afirmou que as igrejas também têm “reforçado” o coro em defesa das vacinações já existentes no país antes do início da imunização contra a covid por entender a relevância sanitária do processo.

Edição: Camila Maciel