Rio Grande do Sul

RELIGIOSIDADE

Artigo | Sem festas para Nossa Senhora dos Navegantes e Iemanjá este ano

"Devido à covid, pela primeira vez, nos 62 anos que moro em Porto Alegre, não assistirei as festas às deusas das águas"

Brasil de Fato | Porto Alegre |
A tradicional procissão fluvial que iniciou em 1912, foi interrompida, por ordem da marinha em 1989, logo após o naufrágio do barco turístico Bateau Mouche - Divulgação

Pela primeira vez, nos 62 anos que moro em Porto Alegre, não assistirei a uma festa de Navegantes e nem mesmo uma homenagem a Iemanjá no Litoral gaúcho. A devoção a Nossa Senhora dos Navegantes foi trazida para o Rio Grande do Sul pelos colonos açorianos. É por isso que sempre, em todas as pequenas aldeias de pescadores às margens da Lagoa dos Patos ou do rio Guaíba, se realizavam procissões em homenagem a esta santa protetora. Em Ilhéus, os açorianos tinham na navegação seu principal meio de transporte e o trouxeram para as novas terras.

O sincretismo religioso dos umbandistas fez com que, no mesmo dia fosse festejada a deusa das águas, Iemanjá. Ela é reverenciada em todo o Litoral do estado e em todas as cidades a margem de rios. A coincidência da data com o apogeu da safra de melancias, fez também que a festa ficasse conhecida na zona Norte da Capital como a Festa da Melancia. Os frutos eram trazidos por enormes barcaças que desciam os rios Caí e Jacuí e as vendiam na doca das frutas do porto. Estes mesmos barcos participavam da procissão fluvial que levava a imagem de Nossa Senhora da Igreja do Rosário, no centro histórico, até o cais do porto, e depois num barco acompanhado por centenas de outras embarcações lotadas de pessoas até o cais  de Navegantes, onde é a ponte do Guaíba. Cerca de 200 mil pessoas acompanhavam a imagem embarcados ou a pé pela margem do rio.

Em 1976, dia 2 de fevereiro assisti na praia do Leblon, em Belém Novo, uma procissão a pé, com a imagem de Nossa Senhora de Belém que ia até a beira da praia esperar outra de barcos conduzidos pelos pescadores da Colônia Z4 que traziam a imagem da protetora dos navegantes. Dali, as duas imagens seguiam levadas lado a lado, a pé pelos fiéis até a igrejinha matriz na praça da vila.


Milhares de pessoas acompanhavam a santa / Divulgação imagem pública

Medo de acidente interrompe festa fluvial

A tradicional procissão fluvial que iniciou em 1912, foi interrompida, por ordem da marinha em 1989, logo após o naufrágio do barco turístico Bateau Mouche. Em dezembro de 1988, na festa do Réveillon, na Baia da Guanabara, 55 das 142 pessoas que estavam a bordo, morreram afogadas. As autoridades queriam evitar novas tragédias com pessoas aglomeradas em embarcações. Desde então a procissão foi a pé pela rua Voluntários da Pátria, num trajeto de aproximadamente 6 quilômetros.

Alguns anos depois, as comunidades eclesiais de base organizaram uma pequena procissão paralela conduzida por pescadores da colônia da Ilha da Pintada que saia do cais da Ponta do Gasômetro e ia até a ilha da Pintada. Alguns barcos turísticos e as baleeiras dos pescadores conduziam a imagem da santa e as pessoas.

Iemanjá é festejada em todos as praias do Guaíba e também no Litoral, onde pessoas vestidas de branco, tocando atabaques e entoando cantos, levam oferendas colocadas em pequenas embarcações carregadas de flores, perfumes, espelhos, e outros aparatos para que a rainha das águas ficasse satisfeita com seus fiéis.


Na Praia do Laranjal em Pelotas fiéis homenageiam Iemanjá / Divulgação Prefeitura de Pelotas

Risco de aglomeração interdita praias

Pois este ano, de 2021, não teremos nenhuma destas festas. A pandemia da covid-19 não permite aglomeração de pessoas e para não ocorrerem risco de infecção as autoridades do estado interditaram todas as praias do Litoral e margem de rios do dia 1º até o final do dia 2 de fevereiro, quando se dá a homenagem as duas santas que, para muitos crentes são a mesma entidade religiosa.


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Edição: Katia Marko