Pautas do Congresso

Direitos dos trabalhadores também estão em jogo na eleição da Câmara

Reformas administrativa e tributária e flexibilização das leis trabalhistas devem voltar ao debate

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A depender de quem assuma o comando da Câmara, uma barreira também pode ser colocada sobre os mais de 60 pedidos de impeachment contra Bolsonaro - Roque de Sá / Fotos Públicas

A decisão desta segunda-feira (1º) no Congresso Nacional, sobre a escolha dos sucessores de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na Câmara dos Deputados e de Davi Alcolumbre (DEM-AP) no Senado, determinará o comando do próximo biênio, e também a votação de pautas importantes que podem significar perdas para os trabalhadores.

eleição pela presidência das Casas Legislativas, muito provavelmente, vai indicar quais pautas andarão ou não neste ano. 

De acordo com o diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Fausto Augusto Júnior, as discussões sobre os direitos dos trabalhadores na Câmara, independentemente do grupo que ganhar o comando, “estarão muito próximas à visão tipicamente neoliberal".

“O que significa perda de direitos dos trabalhadores e flexibilização do conjunto de formas de contratação, jornada e outros direitos dependentes dos postos de trabalho. Como também defende o governo de Jair Bolsonaro”, explica o diretor técnico na coluna do Dieese na Rádio Brasil Atual sobre sobre as candidaturas de Arthur Lira (PP-AL), apoiado por Jair Bolsonaro, e Baleia Rossi (MDB-SP), aposta de Maia.. 

Independência do Legislativo

Mas a diferença, contudo, está entre os candidatos que irão manter independência em relação ao Executivo. É do governo federal, como cita o Dieese, por exemplo, a proposta de reforma administrativa que, na prática, “anula o que entendemos como serviço público”.

“A reforma busca acabar com a estabilidade do servidor, propõe a terceirização de boa parte do serviço público e desconstrói as carreiras e a lógica de organização que estamos construindo desde 1988”, contesta o diretor técnico.

Assim como a discussão sobre “reforma” tributária, que pode definir a cobrança de tributos e impostos. Até uma nova formulação sobre os direitos trabalhistas, inclusive dos trabalhadores por aplicativo, em flagrante precarização.

“E a proposta do governo é mais flexibilização e perdas de direitos. Mas que de alguma forma tem sido barrada, em especial no último ano de pandemia”. 

Para Fausto, o Legislativo tem sido “extremamente necessário” para manter o “equilíbrio” em meio às crises sanitária e econômica, inclusive com a aprovação do auxílio emergencial.

Além de atuar também contra a “visão autoritária” do governo Bolsonaro. “Vamos ver agora, a partir desta eleição. Os deputados continuam os mesmos do biênio anterior, mas a presidência da Casa tem um poder muito grande, um deles é escolher a pauta que será discutida e votada”, acrescenta. 

Barreira ao impeachment

A depender de quem assuma o comando da Câmara, uma barreira também pode ser colocada sobre os mais de 60 pedidos de impeachment contra Bolsonaro. Principalmente com a eleição de Lira, que evita se comprometer com a abertura de um processo. 

Apesar de ser uma “questão delicada”, como descreve, Fausto afirma que o núcleo da eleição na Câmara não deveria ser a abertura do processo para afastar o presidente. “O impeachment é uma questão efetiva do ponto de vista se cometeu ou não cometeu crime de responsabilidade”, diz.

O “importante”, segundo ele, “são as pautas que vão andar e, de alguma forma, decidir muito do futuro do Brasil e não só do atual governo". Fausto defende como pauta prioritária a defesa da manutenção da independência do Congresso, que garante a separação dos poderes

"É a base da democracia. Ter um Congresso Nacional independente, que minimamente discuta as pautas importantes para o país e decida os caminhos do futuro do Brasil, é certamente muito mais importante”, defende . 

Confira a entrevista