Exploração

Mobilização popular barra mais uma vez o avanço da mineração na Patagônia argentina

Há mais de 18 anos, a moradores resistem e impedem o avanço do extrativismo mineral na na região

Brasil de Fato | Buenos Aires (Argentina) |
Protestos em todo o país reforçaram o "não" à mineração em Chubut; sessão legislativa que aprovaria a atividade foi suspensa. - Resumen Latinoamericano

Em meio a uma jornada plurinacional, convocada pela  União de Assembleias Comunidades Chubutenses e que se estendeu por toda a Argentina contra a atividade de mineração na província de Chubut, na Patagônia, a sessão legislativa extraordinária que trataria do Projeto de Lei 128/20 foi cancelada nesta sexta-feira (5).

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O PL busca habilitar a atividade na região conhecida como “Meseta”. Ainda não há previsão de nova data para o tema entrar em pauta.

Há mais de 18 anos, a mobilização popular resiste e impede o avanço do extrativismo mineral na Patagônia argentina.


Mapa do planejamento de zonificação mineira em Chubut, divulgado em 2018. / El Chubut

A atividade mineradora é altamente contaminante, e utiliza grande quantidade de explosivos, água, energia e substâncias tóxicas para extrair o minério do subsolo. São recursos naturais não renováveis, considerados bens comuns, e cuja exploração pelas mineradoras provoca impacto ambiental irreversível, intoxicando rios e terras.

O atual governador de Chubut, Mariano Arcioni, é um incentivador do projeto mineiro na região, e tem buscado votos na Câmara dos Deputados para aprovar a exploração em Telsen e Gastren, na área central da província.

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Suas investidas contrariam a vontade popular, expressa em um plebiscito de 2013 que teve como resultado 82% de rejeição às mineradoras na província.

Outras zonas de interesse da mineração no sul da Argentina dão exemplo das consequências dessa atividade. A mineradora La Alumbrera, em Catamarca, por exemplo, tem autorização para utilizar mais de 86 milhões de litros de água por dia, excedendo inclusive o consumo total da província. Além disso, utiliza 85% do consumo de energia elétrica de Catamarca.

Diante da dificuldade de avançar por vias democráticas, as grandes empresas mineiras têm utilizado uma ferramenta já bem conhecida: lobby e fake news.

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Nestas últimas semanas, foi revelado como a mineradora Pan American Silver financia uma agência de comunicação para desviar as denúncias da sociedade civil contra os efeitos nocivos do extrativismo e da compra de políticos da região.

A agência, em nome do empresário Martín Aníbal Hazal, criou o domínio Vecinos de la Meseta (Moradores da Meseta) e um site que apoia, abertamente, a exploração mineradora em Chubut, passando-se por um movimento civil que defende a ampliação de empregos e o progresso da província.

O conteúdo tem sido difundido em publicidades no YouTube e por meios de comunicação que acompanham o lobby minerador.

Em um artigo publicado no jornal Perfil, a socióloga Maristella Svampa e o advogado ambiental Enrique Viale, referencias no ativismo ambiental, argumentam que a mineração não é sinônimo de progresso.

“Apesar das reiteradas promessas, a mineração metalífera representa menos de 0,045% da população economicamente ativa (PEA) da Argentina. Inclusive no Peru, país minerador, a mineração ocupa 2% da PEA, contra 23% da agricultura, 16% do comércio e 10% da manufatura.”

“Onde há mega mineradoras, há conflito social, ambiental e saque econômico”, concluem.

Edição: Leandro Melito