Paraná

Direitos indígenas

Há uma semana sem água, indígenas do Oeste do Paraná bebem de córrego

Córrego cruza terras de fazendeiro e, por isso, comunidade tem medo de intoxicação por agrotóxicos

Francisco Beltrão (PR) |
Pelo menos uma criança já teve diarreia após beber água do córrego - Reprodução

Indígenas da aldeia Tajy Poty, de Terra Roxa, no Oeste do Paraná, estão há pelo menos uma semana sem água potável. A comunidade tem bebido água do Córrego Tapera, que desce pelas terras de um fazendeiro que cultiva milho e soja ao lado da aldeia. O medo da comunidade é que agrotóxicos na água e animais mortos, já vistos no rio, contaminem os indígenas. Pelo menos uma criança já teve diarreia.


Galão de água é usado para pegar água do córrego. Cacique disse que já viu animais mortos no local / Reprodução

Segundo o cacique Leocinio Gonçalves Ava Tupã Mirim, o problema se estende desde 2012. Eles são mantidos com um caminhão pipa que, uma vez por semana, carrega a caixa d’água da comunidade. Mas devido às fortes chuvas dos últimos dias e os problemas da estrada, o caminhão não consegue mais ter acesso.

Em 15 de dezembro de 2020, o cacique, junto à Fundação Nacional do Índio (Funai), protocolaram um pedido ao Ministério Público Federal (MPF) em Guaíra pedindo melhorias no trecho, mas até agora não foram respondidos.


Desde novembro de 2020, a comunidade sofre com problemas na estradas. As chuvas que atingiram a região nos últimos dias prejudicaram o trecho / Reprodução

Um pedido para que a prefeitura de Terra Roxa colocasse cascalho na estrada também foi feito. De acordo com o cacique, a prefeitura disse que não poderia arrumar por que fica “na área rural” e que “só cuida da área urbana”.

“Quando a caixa d’água não está abastecida, a gente pega água do rio que vem da direção da fazenda, onde o cara planta soja, onde o cara planta milho. E com certeza essa água é contaminada. Mas a gente é obrigado a tomar essa água. Por isso que a gente está esperando a instalação de poço artesiano. Não foi feito isso também. Mas o que mais agravou é que as crianças, toda a comunidade, pegam água do rio, que vem da direção do vizinho, e lá, quando morre animal, ele também joga no rio. Uma vez eu já vi o cara levando uma vaca morta pra jogar ali em cima de uma nascente”, disse o cacique.

A aldeia tem 28 famílias, sendo 27 crianças, oito adolescentes e cinco idosos. O medo do cacique é que os indígenas contraiam doenças, como diarreia, cólera e barriga d’água devido ao consumo dessa água. A alternativa, para eles, seria arrumar a estrada - o que pedem desde o ano passado -, e a instalação de um poço artesiano.

Falta de demarcação prejudica

A comunidade, que fica no oeste do Paraná, é marcada por conflitos. A terra não é demarcada, o que aumenta a tensão com fazendeiros locais.

No ano passado, a Justiça Federal também determinou a suspensão de qualquer ato de demarcação de terras indígenas nos municípios de Guaíra e Terra Roxa, além de anular o relatório de identificação e delimitação da Terra Indígena (TI) Tekoha Guasu Guavirá, que na época compreendia 14 aldeias Guarani localizadas em ambas as cidades – hoje já são 15.

Procurada, a assessoria da Prefeitura de Terra Roxa não respondeu à reportagem. A assessoria do MPF também foi procurada e enviou à reportagem o documento de Despacho de Notícia de Fato, expedido em 5 de fevereiro. No documento, consta que, em concessão parcial do pedido, o Município de Terra Roxa foi condenado a "garantir o mínimo de trafegabilidade necessária ao fornecimento de serviços públicos essenciais" às comunidades indígenas da localidade.

O MPF ressalta, ainda, que "as medidas a serem implementadas [...] são apenas aquelas necessárias a assegurar o mínimo de trafegabilidade". Ainda assim, o Município de Terra Roxa interpôs apelação e o MPF determinou a prorrogação do prazo de tramitação da Noticia de Fato por 90 dias. Requereu, ainda, tanto do Município quanto da Funai informações atualizadas, com relatório em fotos, da situação das vias de acesso. 

Atualização feita às 18:45

Edição: Lia Bianchini