Pernambuco

BANCO DO BRASIL

“Se hoje está difícil chegar numa agência e ser atendido, vai ser muito pior”

A bancária e sindicalista Sandra Trajano explica como reorganização do BB pode piorar serviços do banco

Brasil de Fato | Recife (PE) |

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26 agências e pontos de atendimento estão ameaçados em Pernambuco com a possibilidade de reorganização
26 agências e pontos de atendimento estão ameaçados em Pernambuco com a possibilidade de reorganização - Valter Campanato/Agência Brasil

Na quarta-feira (10), os trabalhadores bancários em Pernambuco e em todo o país organizaram atos e realizaram atividades no Dia Nacional de Paralisação dos funcionários do Banco do Brasil, aprovado em assembleia pela categoria. Para explicar os motivos da paralisação e impacto das mudanças propostas pelo BB na vida da população, o Brasil de Fato conversou com Sandra Trajano, secretária-geral do Sindicato dos Bancários de Pernambuco. Confira a entrevista:

Brasil de Fato: Quais são as motivações das paralisações que os bancários vêm realizando?

Sandra Trajano: O movimento sindical não tem viés apenas corporativo. Não é só pela perda de emprego ou diminuição de salário que a gente faz as mobilizações. Dessa vez não é diferente, nós defendemos os empregados do Banco do Brasil, mas principalmente a permanência de uma empresa com mais de com mais de 200 anos prestando esse serviço à população, que já vem sendo descaracterizado com essa abertura de capital, o que deixou o banco mais próximo de um banco privado, mas ele ainda oferece serviços à população assim como a Caixa Econômica Federal, que são voltados ao desenvolvimento da região. 

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Isso é importante porque o BB tem por sua característica social trabalhar o desenvolvimento da região, a CEF é voltada para a população e o BB tem linhas de crédito para plantação, para diversas formas de financiamento e desenvolvimento onde ele está. Sem o BB a região perde muito, é um empobrecimento para cidade, para o município, para o estado onde o banco diminuiu sua atuação, é sofrimento para população porque é menos crédito oferecido e e mais tempo perdido para resolver seus problemas.

Brasil de Fato: Quais foram as pautas da paralisação do dia 10?

Sandra: Primeiro a suspensão do encerramento das agências e postos de atendimento que o banco está fechando no país inteiro. Aqui em Pernambuco são 26 agências, algumas fechando e outras se transformando em posto de atendimento e outros postos fechando. Rio Formoso, por exemplo, fecha; A agência da Av. Norte, na metropolitana, fecha; Olinda se torna posto de atendimento. São agências grandes,  muitas vezes a cidade só tem aquele posto do BB, então a população fica desassistida. Nossa primeira exigência é a suspensão desse encerramento. 

A outra é que o banco abriu um Plano de Demissão Voluntária e com isso muitas pessoas saem do banco. Se hoje está difícil chegar numa agência e ser atendido, vai ser muito pior. As pessoas estão saindo porque não veem mais perspectiva de trabalho no BB. A outra questão é que o banco para se adaptar a essa nova onda cortou todos os cargos de caixa, então hoje o banco não tem caixa para atender as pessoas e dependendo da demanda uma pessoa que é do setor de atendimento é direcionada para o caixa. Você imagina o transtorno. A pauta é voltada para o não encerramento dos postos de atendimento, a não continuidade das demissões e o não encerramento dos caixas, porque isso descaracteriza completamente o banco.

Brasil de Fato: De que forma a desvalorização desses trabalhadores impacta os serviços?

Sandra: Veja, uma pessoa que não está feliz não trabalha bem, não vive bem, não se relaciona bem. Uma pessoa que não acredita no seu ambiente de trabalho, mesmo tendo se preparado pra isso vê a empresa descaracterizada, longe do seu objetivo que é ser um banco social, ela também entra em choque de identidade. O serviço prestado a população, e tenho impressão que isso é feito de forma pensada pela diretoria do banco, é feito de forma a colocar a população contra o funcionalismo público, haja vista a reforma administrativa, que vai impactar o serviço público e outras empresas públicas.

Aí acontece o que aconteceu com Bandepe aqui em Pernambuco, que destruíram por dentro a empresa e chegou num ponto que todo mundo era a favor da privatização. Mal sabe a população que nós sofremos diversas perdas na área do desenvolvimento na nossa região pela falta de um banco nosso.

Brasil de Fato: Porque é tão importante para a população lutar para garantir que existam os bancos que têm essa parte voltada ao social?

Sandra: O que é público é de todos. A gente precisa aprender, internalizar isso. O que é público é para todos. Então todas as pessoas, seja a mais simples ou a mais elaborada, ela precisa ter esse serviço para lhe atender. Seja só uma poupança ou num grande financiamento; seja no fornecimento da bancarização, de inserir essa pessoa no sistema econômico ou simplesmente para o financiamento de um veículo. O banco público e as empresas públicas, como a Petrobras, os Correios, são para todos os brasileiros, são empresas que têm o dinheiro dos nossos impostos do nosso trabalho aplicado, então elas estão resistindo para prestar serviço à população.

Edição: Monyse Ravena