o certo é o certo

Contra a invisibilidade histórica, Sharylaine rebate "pioneirismo" de Karol Conká

A rapper, que está no BBB, foi apresentada por sua assessoria de imprensa como “pioneira da cena do rap” no Brasil

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

"Eu não sei quantos anos a Karol tem, mas eu tenho 35 só de Hip Hop", afirma a rapper - Cogumarola Produções

A participação de Karol Conká na 21ª edição do Big Brother Brasil tem trazido prejuízos à imagem da artista. Por conta disso, sua assessoria divulgou, no dia 1 de fevereiro, uma nota em defesa da rapper, a apresentando como a “pioneira da cena do rap feminino”. A afirmação incomodou fãs do estilo, que lembraram de Sharylaine, a percursora do Hip Hop no Brasil, entre as mulheres.

“As pessoas começaram a me marcar, quando eu olhei tinha mais de 90 marcações. ‘Sharylaine pioneira, essa representa’. Eu pensei: ‘aconteceu alguma coisa’. Fui perguntar para minha prima e ela disse que saiu uma nota dizendo que a Karol Concá é pioneira do rap. Pensei: ‘Ela deve ser pioneira da República de Curitiba’. Eu chamo Curitiba de República, depois do Moro”, afirmou, rindo, Sharylaine, em entrevista ao Brasil de Fato.

Ainda de acordo com a rapper, a apresentação de Conká como pioneira, torna invisível a história de outras mulheres que vieram antes. “Ou a assessoria é muito mal informada do histórico das mulheres na cultura Hip Hop, ou ela falou alguma coisa que a assessoria entendeu que era. Eu não sei quantos anos a Karol tem, mas eu tenho 35 só de Hip Hop. Falamos tanto da invisibilidade da mulher, aí você tem um apagamento histórico de mulheres que fizeram com que essa cultura acontecesse.”

Apesar da crítica, Sharylaine reconhece os avanços conquistados por Conká. "É inegável que Karol transcendeu os espaços limites que representantes femininas sobretudo negras tenham alçado e ou alcançado, e neste sentido ela também figura como um divisor de águas."

Sharylaine começou no Hip-Hop em 1986 - ano de nascimento de Concá - , com a Nação Zulu, uma das gangues, ou crews, que se apresentavam em São Paulo. O nome vem da “Zulu Nation”, ONG fundada pelo lendário Afrika Bambaataa nos EUA, em 1973.

“Para mulher se inserir no Hip Hop, ela vinha com algum homem. Fosse ela parte de uma gangue de break ou amiga de um integrante. Eram pessoas que conheciam pessoas, as mulheres não chegavam sozinhas. Era quase como se alguém tivesse que apresentar a pessoa”, lembra a rapper.

Sobre as novas produções do rap nacional, Sharylaine não demonstra muita empolgação. Saudosista, a artista busca referências no passado. “Gosto das produções, mas eu diria que escuto muito do mesmo. O que tínhamos de produção anteriormente, tinha identidade. Cada músico, cada rapper, tinha uma identidade própria, com uma levada ou um sampler que era marcante e que já te remetia ao som de um rapper ou de uma rapper. Hoje, ouvimos muito do mesmo, é difícil, pelo para mim, identificar, ficou mais difícil, porque os estilos estão muito próximos.”

Edição: Rodrigo Durão Coelho