Ceará

Tradição

A tradição da dança do coco pelas toadas de Mestra Edite

Entre as manifestações culturais que povoam o Ceará, a dança do coco está presente como prática popular do litoral.

Brasil de Fato | Juazeiro do Norte (CE) |

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Mestra Edite mantém o grupo de coco desde 1979. - Foto: Felipe Scapino

Uma simples viagem serve de mote para as toadas do grupo de mulheres do coco do bairro Gisélia Pinheiro, mais conhecido como Batateira, no município do Crato. 

Lá habita a Mestra Edite do Coco, que fundou e mantém o grupo desde 1979. Edite Dias de Oliveira Silva é natural de Bom Conselho em Pernambuco, mas vive em terras cearenses já a mais de 50 anos. Sagrada Mestra da Cultura na 13ª edição do Encontro Mestres do Mundo, Mestra Edite conta um pouco sobre a origem do grupo e sua importância para a cultura estadual e regional, em entrevista ao Brasil de Fato Ceará. 

Na casca do coco

Entre as diversas manifestações culturais que povoam o Ceará, a dança do coco está presente como prática popular do litoral ao sertão do estado. Com influências de origem indígena e africana, a dança do coco é ritmada pelo toque de tambores e, em sua origem, acredita-se que os toques da quebra da casca do coco por escravizados deram origem aos primeiros acordes da tradicional dança. 

Ao ser perguntada sobre a origem do grupo, primeiro, dona Edite responde sobre as primeiras danças, feitas por pessoas negras que trouxeram os versos e toadas de África. “Ela (a dança do coco) é de origem africana, então nós já aproveitamos o que a gente já conheceu de muito tempo, dos nossos avós, bisavós, as histórias.” principia mestra Edite em sua fala. 

O seu grupo teve início em uma sala de aula do antigo Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), do qual dona Edite era monitora. A semana do folclore na Expocrato e a abertura da festa de Nossa Senhora da Penha, no primeiro ano do grupo, foi a deixa que fez com que as estudantes daquela sala fossem se apresentar na dança do coco. “Uma amiga minha - Antônia Selma Gomes, também tutora do Mobral -, sabia a dança e um grupo de estudantes também sabia dançar e daí fomos nos apresentar na Praça da Sé, fomos muito aplaudidas e até hoje a gente vem segurando o grupo, desde 1979” relata dona Edite. 

Vivências cantadas

Mestra Edite conta que usa como inspiração para as toadas do seu grupo a sua experiência de vida como agricultora que, muito lhe ensinou sobre o mundo e sobre si mesma. Em suas viagens, observa as sonoridades que a natureza produz e assim escreve e descreve na dança do coco o mundo ao seu redor. “Nós somos todas agricultoras, e no caminho da roça, na palha do feijão, na queda do milho, no xaxado do feijão, no mexidinho das folhas, com aquele chacoalho, as vezes a gente pega com uma música que a gente já tem e aí junta tudo em uma roda de coco.” diz dona Edite. 

A mestra também conta que ainda preserva esse costume de musicar sua vivência em suas viagens, quando reúne os sons e palavras novas que ouve e aprende para integrar em uma letra de sua roda de coco. “A gente vai para um lugar mais diferente, aí encontra algo pela viagem e quando chegamos junta-se um grupo de três e aí formamos da conversa que a gente teve em determinada viagem e aí escolhemos as palavras para formas as músicas do nosso grupo” conta a mestra.

Valor Cultural

Para Dona Edite, o grupo é um ato de amor, que é valorizado por ser feito dentro da sua comunidade. “As vezes nós vamos para um lugar e vemos alguma pessoa tristinha, de canto, aí quando começamos a dançar, todo mundo se alegra, se renova, mexe com eles na sua infância. Sou muito feliz e valorizo demais o grupo.” diz mestra Edite emocionada.

Para ela, manter o grupo por tanto tempo com a mesma alegria é sinal de que a dança do coco faz parte da sua vida e da comunidade. “Com tanto tempo que nós estamos aqui com o coco, fico muito feliz de ter conhecido tanta gente boa e dançado por todo esse tempo” ressalta a mestra.
 

Edição: Monyse Ravena