Denúncia

Artigo | Para os jornalistas do Ceará, o essencial é ver seus direitos garantidos

O ofício dos operários e operárias da notícia é fundamental, sobretudo em um contexto de crise sanitária

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
"Apesar da importância conferida ao jornalismo profissional em todo o país, [...] jornalistas foram despedidos, precarizados e expostos a condições de trabalho rigorosas e insalubres" - Reprodução

No auge da pandemia do novo coronavírus, o trabalho dos jornalistas foi considerado atividade essencial, colocando a categoria entre as que não pararam de atuar presencialmente.

Compreensível, o ofício dos operários e operárias da notícia é fundamental, sobretudo em um contexto de crise sanitária, afinal, combatem a pandemia da desinformação, além de serem uma importante força no enfrentamento à disseminação da covid-19.

Apesar da importância conferida ao jornalismo profissional em todo o país, esses trabalhadores sofreram duros golpes. Jornalistas foram despedidos, precarizados e expostos a condições de trabalho rigorosas e insalubres. Alguns até morreram, levando o Brasil a ser o segundo país em número de jornalistas mortos pela covid-19.

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Jornalistas no Ceará

No Ceará não foi diferente. Porém, a situação dos trabalhadores das terras alencarinas continua sendo ainda mais grave.

Enquanto as grandes empresas de comunicação do estado recebem voluptuosas ajudas dos governos estadual e municipais, seja em forma de publicidade ou de projetos, os seus empregados têm os direitos mais básicos arrancados.

Os conglomerados de mídia, por meio dos sindicatos de representação patronal, negam o reajuste salarial da categoria, chegando à marca de três anos sem reposição nas remunerações.

A intransigência dos donos da mídia cearense também é demonstrada na recusa de renovação da convenção coletiva de trabalho, instrumento jurídico que garante diretos básicos como auxílio-creche, o convênio médico-hospitalar, a diária de viagem, o adicional de horas extras e as gratificações por função.

Ao passo que os jornais, revistas e emissoras de rádio e de televisão do Ceará embolsam centenas de milhares de reais — e fizeram caixa ao reduzirem salários em 25%, 50% e 70%, por meio da medida provisória (MP) 936, do autoritário governo de Jair Bolsonaro —, seus trabalhadores não têm o essencial, que são os seus direitos.

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Relações medievais de trabalho

É por isso que o Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce) lançou campanha nas redes sociais e um processo intenso de mobilização para denunciar à sociedade as relações medievais de trabalho que organizações cearenses como o Sistema Verdes Mares, Jangadeiro, Grupo Cidade de Comunicação e Grupo O Povo impõem aos seus profissionais.

Ao mesmo tempo, convocamos as forças progressistas do estado do Ceará a fazerem eco ao nosso clamor pelo retorno das negociações, para que os prepostos das empresas voltem a sentar com o Sindjorce e para que deixem de nos oferecer respostas evasivas e, de uma vez por todas, nos devolvam os direitos cruelmente surrupiados.

Afinal, sem jornalistas não há Jornalismo que se possa chamar de essencial.

Reajuste, direitos e trabalho decente já para os jornalistas do Ceará.

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*Rafael Mesquita é o atual presidente do Sindicato dos Jornalistas no Ceará (Sindjorce).

**Este é um texto de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Fonte: BdF Ceará

Edição: Monyse Ravena e Rodrigo Durão Coelho