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MEMÓRIA

Artigo | O tempo passa, o vento altera rumos e os nervos atrofiam

Homenagem a Antônio Matte, militante que esteve presente na consolidação do MST no RS

23.fev.2021 às 10h11
Porto Alegre
Ir. Paulo Ricardo Cerioli

Antoninho ingressou no nascente MST em 1984, que ocupa a fazenda Anonni, em Sarandi, considerada a primeira ocupação do movimento, em 1985 - Daniel Andrade/Arquivo MST

Nas proximidades do rio Uruguai, na divisa das terras gaúchas com os descendentes do Contestado, está Nonoai. Região onde os indígenas foram imprensados pelo avanço dos acumuladores de terra, com a ajuda da Brigada Militar.

Região onde floresceu a cultura cabocla (meio índia, meio portuguesa): grupo nem aceito por um e nem pelos outros. São posseiros que vivem arranchados na provisoriedade do próximo despejo: uma rocinha de consumo, algum bichinho amarrado pelo pé, o pilão onde socam a erva nativa. Lugar de resistência dos maragatos, com seus lenços vermelhos, e de sua luta contra os apropriadores da erva-mate (árvore antigamente pública) ao impedir que os pobres ervateiros a colhessem, em seus latifúndios. E, onde atuava o padre Manuel, assassinado com seu coroinha, Adílio, pelos chimangos nas proximidades de Três Passos, por teimar em não aceitar o cabresto que queriam impor ao impedir as obras de misericórdia (enterrar os mortos, cuidar dos feridos, alimentar os famintos…).

Este é o berço onde nasceu Antoninho Mattes (1963), em tempos de luta pelas reformas de base. A brisa gerada pelo povo em organização é varrida pela ventania contra o povo (1964). E, tempo de contraventos pela organização dos grupos dos Onze, que formam redemoinhos, na primeira tentativa de resistência conhecida como Guerrilha de Três Passos (1965).

Para estudar, entra no seminário diocesano almejando seguir os passos de Manuel. Mas, na filosofia, em Viamão, descobre que não é bem assim: querem que virem santos, isolados do mundo. Sua rebeldia o leva a virar as estátuas (santos) dos corredores do seminário. E, entre uma e outras, é convidado a buscar outro rumo em sua vida.

Foi em Nonoai, em 1978, quando os índios decidem expulsar os caboclos, alguns já misturados com imigrantes, de sua reserva. Alguns destes sem terras se reúnem em Ronda Alta e assim recomeça a luta pela conquista da terra (1979) nas ocupações de Macalli e Brilhante.

Estes novos ventos o levam a ingressar no nascente MST (1984), que ocupa a Annoni (1985), em Sarandi. Toninho passa a articular sem terras e vai acampar na Fazenda do Salso (1987), em Palmeira das Missões. São despejados, mas articulam abrigo junto a um camponês cujo nome é Getúlio Vargas (o que nunca chegou a ser estancieiro e nem presidente). Neste tempo, conheceu uma médica, Karin Taborda, filha de deputado estadual do PTB, cassado pela ditadura em 1966; ela se dispôs a ajudar o acampamento. Antoninho com ela acabou convivendo (mas isto já é outro ramo da mesma história).

Para somar forças, este acampamento se ajuntou com outro acampamento, nas proximidades das ruínas guaraníticas de São Miguel das Missões (1988). Foi um acampamento planejado: uma avenida central com uma rua lateral para cada núcleo de base, em ambos os lados, em área cedida pelo governo: logo perceberam que foi uma forma de os acantonar e os controlar.

Beber das fontes de José Tiarajú, vulgo Sepé, os leva a começar a busca da terra sem males. Numa noite escura como o breu, rompem o cerco: torna-se um acampamento peregrino onde se luta, se avalia a luta, se prepara para a próxima e se parte para uma nova luta. E assim chegaram à fazenda Santa Elmira (1989).

Decidem quebrar a “espinha do MST”: Brigada Militar e UDR se unem para executar esta “façanha” exemplar. Após muita resistência dos Sem Terra, violência, bombardeio aéreo com bombas de efeito moral, acampamento varrido por rajadas de metralhadora, sem feridos, despejados, alguns torturados, 22 presos, outros levados para hospital e a maioria esparramados, que acabaram se reunindo novamente no Rincão do Ivaí. Antoninho era um deles, que viveu parte da saga do Negrinho do Pastoreio, ao colocarem-no machucado sobre um formigueiro.

Chegando ao presídio de Sobradinho, pele roxa (eram tantos hematomas que parecia um só), passou dias urinando sangue. Outro estava com as costelas quebradas. Mas voltando a quem interessa, apesar de tudo, não perdia o seu humor original e seu otimismo, que conseguiu ver um sinal num raio de luz que ultrapassava uma fresta ou a rachadura na calçada sendo aumentada por uma semente que germinou no apertado espaço. Apesar de seu estado, era capaz de animar os outros e imaginar novas iniciativas.

No acampamento monta-se um “ambulatório” improvisado: limpeza de ferimentos, dando pontos… enquanto se pergunta onde estão todos (ali, no hospital, presos) e se alguém morreu…
Libertado, com processo correndo, Toninho continuou atuando na Frente de Massa do MST por algum tempo até que, com outros, por causa de novos ventos, decide formar uma Cooperativa de Trabalho para que os acampados pudessem ganhar algum recurso financeiro e assim ajudar o processo de luta do acampamento, já que a reforma agrária, já lenta, se arrastava ainda mais. Os acampados passavam a safra colhendo maçãs, se revezando nesta tarefa.

Novos ventos o levaram, com outros, a organizar a construção de casas nos novos assentamentos. O que permanecia era a sua capacidade de liderança, de ir contornando as dificuldades, de ir abrindo novos caminhos.

Até que, não se sabe como e nem porque, um vento estranho e sereno começou a soprar. Este vento foi lhe congelando os movimentos: imagino a briga dele consigo mesmo para continuar a tocar a vida pela frente. Mas, este vento não retrocede e o leva a uma cama e vai lhe desligando o restante do corpo: apenas cabeça teima em sonhar e, dizem que, seus últimos movimentos foram sinais de consolo e esperança (em 2021).

Imagino que o velório que gostaria seria com umas garrafas de cachaça enchendo o copo dos presentes para saudar a energia se desprendendo do corpo, levada pelo último vento. E entre um trago e outro, a narração de anedotas históricas, daquelas quem levam um Sem Terra a preparar uma garrafa de salmoura para se esfregar depois da luta, enquanto narra seus momentos de “glória”, rindo da desventura do companheiro mais arroxeado.

E, se no céu chegou, já deve estar tramando com Simão, vulgo Pedro, qual a empreitada que tem para começar e, enquanto descansa, torce por aqueles que não desistem de lutar, nem que seja contra o vento, já que o tempo apenas nos permite caminhar. Lutar sempre! Venceremos!

Em 14 de fevereiro de 2021, um dia depois da passagem.

* Ir. Paulo Ricardo Cerioli, osfs, é da congregação religiosa Oblatos de São Francisco de Sales

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.


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Editado por: Marcelo Ferreira
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