No dia 20 de novembro de 2020, a UFCG escolheu o seu Reitor e vice-Reitor para os próximos quatro anos (2021-2024), no qual foram reeleitos os professores Vicemário Simões e Camilo Farias. Porém, novamente promovendo o desrespeito à Consulta e à Autonomia Universitária, o presidente Jair Bolsonaro nomeou, o último colocado, o candidato Antônio Fernandes, com menos de 20% de votos, para Reitor.
O Conselho Universitário da UFCG já havia homologado o resultado da eleição com aprovação unânime do relatório final: Em 1º lugar – Vicemário Simões (50,45%); 2º – Kennedy Guedes (30,07%); 3º – Antônio Fernandes (19,47%).
“Durante todo o processo nos mobilizamos e fizemos lives com os três candidatos, debatendo as propostas. Elaboramos um documento pedindo que os candidatos assumissem o compromisso de que só assumiriam a Reitoria se fossem o mais votado”, explica Mariana Moreira, Presidente da ADUC (Associação dos Docentes Universitários de Cajazeiras).
Lives com os candidatos – -promoção ADUFCG – Card: Reprodução
Apenas Kennedy Guedes assinou o documento. Vicemário Simões e Antônio Fernandes não assinaram. Aliás, o candidato Kennedy divulgou um vídeo, junto com o candidato a vice, apelando para que o presidente Bolsonaro os nomeassem.
INTERVENÇÃO:: DCE UFCG repudia ação que pode interferir no resultado da eleição para reitoria
Nota de Repúdio das entidades da comunidade acadêmica – UFCG / Reprodução
“A gente sabia que tinha essa grande possibilidade da Consulta não ser obedecida porque já estava acontecendo em outras Universidades. Durante o processo, o candidato a vice na chapa de Antônio Fernandes disse ‘não se preocupem porque a nossa eleição vai ser ganha lá em Brasília’, ou seja já tinha toda essa articulação”, afirma Mariana.
Segundo ela, o candidato Antônio Fernandes está em Brasília desde ontem. “Ou seja, já havia toda uma articulação para a nomeação dele no Diário Oficial de hoje”.
Ela complementa: “Isso é muito a expressão do que a gente está vivendo no país como um todo, um total desrespeito à autonomia da Universidade, assegurada por princípio constitucional, mas que nunca é resguardado nem considerado. Não acatar o que vinha sendo algo como um acordo de cavalheiros desde o governo de Fernando Henrique, depois por Lula, e depois do Bolsonaro essa situação não foi mais acatada de jeito nenhum”, lamenta ela.
Daiane Araújo, do DCE UFCG, conta que, o candidato nomeado interventor já mencionava o famigerado projeto Future-se, do Ministério da Educação. Desde o processo de campanha, Antônio Fernandes e Mário Eduardo (seu vice) demonstraram interesse na nomeação, independentemente da vitória no processo de consulta interna à comunidade acadêmica.
“No cenário antidemocrático que a gente está, já vínhamos nos preparando para uma possível intervenção. O governo de Bolsonaro, desde o início destacou a educação como seu inimigo central para fazer com que as Universidades estejam sob o seu cabresto, prestando contas do serviço que o governo quer. Desde as estruturas da universidade, pró-reitoria, pesquisa científica, orçamentos, até a organização das entidades, e a criminalização através de processos repressivos”, comenta ela.
Reação do DCE UFCG nas redes sociais / Card – Reprodução
Mariana comenta que a nomeação é o reflexo de uma ação política que vem se consolidando, de forma tenebrosa e perigosa. “A indicação dessa pessoa que não teve a referência, o reconhecimento da comunidade Universitária, implica que ele não vai ter compromisso com essa comunidade. Então será um preposto do governo para incrementar cortes de orçamento, com alinhamento ideológico e político. Qual é o peso que esse Reitor vai ter para reivindicar ao Ministério do Planejamento e da Educação por orçamentos? Ele vai dizer assim ‘cala-se que fui eu que te botei lá”, pondera ela.
Na manhã desta terça-feira (23) houve uma reunião com os sindicatos e o DCE para organizar as mobilizações. Uma nota deverá sair em breve e uma Assembleia está sendo articulada para esta sexta-feira (26), às 15h, de forma remota.
Rusgas com a comunidade acadêmica
Antônio Fernandes, terceiro candidato mais votado, é Diretor do Centro de Formação de Professores, no Campus de Cajazeiras. Pelos colegas, ele já era considerado um perfil autoritário, com relações difíceis com alunos e professores. No campus de Cajazeiras, enquanto diretor de Centro, ele chegou a judicializar uma greve e abriu um processo contra o sindicato e o movimento docente.