Coluna

A inércia do Poder Judiciário diante de mais um escândalo na Lava Jato

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Suspeita de falsificar depoimento na operação Lava Jato, a delegada Erika Marena assumiu cargo no Ministério da Justiça a convite de Sergio Moro
Suspeita de falsificar depoimento na operação Lava Jato, a delegada Erika Marena assumiu cargo no Ministério da Justiça a convite de Sergio Moro - Divulgação Abracam
Não é mais possível que o Poder Judiciário permaneça imóvel diante da revelação de tantos crimes

Na última segunda-feira (22), a imprensa brasileira alternativa — e não haveria de ser a imprensa tradicional e os grandes veículos de rádio e TV — divulgou mais um conjunto de novas gravações extraídas da operação Vaza Jato.   

São novas mensagens que se somam a centenas de mensagens que já haviam sido reveladas, que por si só já seriam suficientes para comprovar não somente a ilegalidade, mas também os crimes cometidos pela operação Lava Jato, cujo objetivo central não era o combate à corrupção, e sim destruir um projeto de nação, de desenvolvimento, de soberania, de geração de empregos.

Coluna de de Vanessa Grazziotin: Mensagens vazadas da Lava Jato nos fazem insistir em um julgamento justo para Lula

Falso depoimento

Entre as mensagens divulgadas nesta segunda-feira, uma delas dá conta de que uma testemunha teve depoimento lavrado sem que nunca o tivesse prestado efetivamente. Aproveitaram a delação de um dos representantes de empresas e transformaram aquilo em um depoimento lavrado por escrivão.

A responsável pela farsa foi Erika Marena, delegada da Polícia Federal que atuava diante da Lava Jato. Marena lavrou um depoimento que nunca existiu. As mensagens vazadas dão conta de que os próprios procuradores da Lava Jato disseram que aquilo poderia dar problemas à delegada, inclusive por crime de falsidade. Eles mesmos revelam o tipo de crime.

Vale lembrar que Erika Marena é a mesma delegada que prendeu e expôs ao vexame o ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o professor Luiz Carlos Cancellier, que, duas semanas depois, veio a se suicidar.

Em 2018, a mesma delegada foi levada pelo ex-juiz Sergio Moro para trabalhar no Ministério da Justiça, no governo de Jair Bolsonaro.

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Dinheiro entre Lava Jato, EUA e Suíça

Outra mensagem divulgada pela Vaza Jato nesta segunda-feira diz respeito ao modo como os procuradores da operação Lava Jato discutiam a divisão do dinheiro entre a Lava Jato, os Estados Unidos e a Suíça.

Eles tinham plena ciência de que as informações que eles emitiam aos Estados Unidos — emitidas de forma ilegal, diga-se de passagem — poderiam levar à quebradeira das empresas brasileiras e levar ao processo de desemprego e de fechamento de postos de trabalho.

Mas o que interessava aos procuradores e ao então juiz Sergio Moro era o dinheiro do qual eles poderiam se apoderar. Isso é tão verdade que, somente em relação à Odebrecht, em um dos acordos foram arrecadados aproximadamente R$ 8,5 bilhões, sendo dividido entre Estados Unidos, Suíça e, pasmem, a própria operação Lava Jato. Eram os procuradores que administravam os recursos. 

Intimidação de ministros do STJ

E tem mais. Outra mensagem divulgada dá conta de que os procuradores da Lava Jato tramaram para intimidar os ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ), porque os procuradores sabiam — e isso eles relatam nas mensagens vazadas — que as provas contra o ex-presidente Lula não apenas eram frágeis, como efetivamente não existiam.

Por temerem que as condenações feitas por meio da operação fossem canceladas pelos tribunais superiores, os procuradores partiram para ameaças, argumentando que seria necessário investigar os filhos dos ministros do STJ.

Viagem à Suíça

E não para por aí. Em mensagem de outubro de 2016, também exposta por meio da Vaza Jato, um dos procuradores disse aos demais colegas que precisava resolver questões com um procurador suíço. Outro procurador, então, sugeriu que o primeiro viajasse à Suíça e aproveitasse para levar a família para passar férias.

Ataques do MPF

O que assombra ainda mais é que, um dia após as revelações desta segunda-feira (22), o Ministério Público Federal (MPF) tomou duas providências.

A primeira foi pedir a prisão de Walter Delgatti Neto, o "hacker de Araraquara", que vem vazando as mensagens trocadas pelos procuradores da Lava Jato. A segunda foi pedir que fosse trancada uma investigação no Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre possível intimidação feita pelos membros da Lava Jato contra os ministros do STJ.

Não é mais possível que o Poder Judiciário permaneça imóvel diante da revelação de tantos crimes que levaram não somente à prisão de um ex-presidente da República, e sim a uma condenação sem provas. Um crime que possibilitou o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff em 2016. Um golpe contra o Brasil, um golpe contra a democracia.

 

*Vanessa Grazziotin é farmacêutica, membro do Comitê Central do PCdoB, ex-senadora pelo Amazonas (2011-2019) e ex-deputada federal pelo mesmo estado (1999-2011).

**Este é um texto de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho