Solidariedade

MST e parceiros doam seis toneladas de alimentos a 500 famílias de Ponta Grossa (PR)

Cestas foram partilhadas no sábado (27), a partir da união entre quatro acampamentos e um assentamento

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Entregas ocorreram em 7 bairros, a famílias cadastradas previamente, para evitar aglomerações - Larissa da Silva Santos/MST-PR

Ao longo do sábado (27), cerca de 500 famílias em situação de vulnerabilidade em Ponta Grossa, no Paraná, receberam cestas com alimentos agroecológicos doados por camponeses e camponesas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Arroz, feijão, batata, mandioca, milho verde, melancia, limão, legumes, verduras e frutas diversas estavam entre os itens que compuseram os kits. Cada sacola também recebeu um pão caseiro, produzido pelos coletivos de mulheres das comunidades da Reforma Agrária.

Ao todo, seis toneladas de alimentos foram distribuídas. As entregas ocorreram em sete bairros, a famílias cadastradas previamente, para evitar aglomerações.

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A ação é fruto da aliança entre cinco comunidades do MST: assentamento Contestado, da Lapa; os acampamentos Maria Rosa do Contestado e Padre Roque Zimmermann, de Castro; e o acampamento Reduto de Caraguatá, do município de Paula Freitas; e do acampamento Emiliano Zapata, de Ponta Grossa. Também contribuíram com a iniciativa entidades e movimentos urbanos.


Cerca de 500 famílias urbanas receberam cestas com alimentos agroecológicos doados por camponeses e camponesas do MST / Valmir Fernandes/MST-PR

Entre as produtoras agroecológicas que partilharam alimentos está Vanessa Batista, de 26 anos. Ela mora na comunidade Emiliano Zapata e garante alimentação saudável e renda a partir de uma horta diversificada a poucos metros de casa. Toda semana, a camponesa comercializa alimentos por meio da cooperativa da comunidade e de uma feira na cidade.

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Desta mesma horta é que Vanessa colheu cheiro verde, beterraba e couve orgânicos para doar. “Eu já morei na cidade, já morei de aluguel, sei como as coisas são difíceis, e esse ano foi pior pra todo mundo”, relata a jovem, que mudou-se para o acampamento há 10 anos.

“A vida na roça é muito melhor que na cidade. Saber que eu posso ir no quintal e pegar uma beterraba, alguma coisa saudável sem nada de veneno pra dar pro meu bebê é uma das melhores coisas. Tenho certeza que se eu morasse  na cidade não faria isso”, conta Vanessa, referindo-se à filha Mariana, de um ano.


Vanessa e a filha, Mariana / Larissa da Silva Santos/MST-PR

Thais Vaz é presidente da associação de moradores do Recanto Verde, uma das comunidades atendidas pela ação de solidariedade, e participou da montagem das cestas na comunidade Emiliano Zapata, na sexta-feira (26). Ela relata que muitos moradores do seu bairro perderam o emprego desde o início da pandemia.

“Essa semana um grande número de famílias foi pedir ajuda e a gente já não tinha mais recurso pra ajudar. A gente sempre encaminhava pro CRAS [Centros de Referência da Assistência Social], mas eles também estão com dificuldade de ajudar porque aumentou muito a procura”, conta a liderança comunitária.


Liderança comunitária relata que muitos moradores do seu bairro perderam o emprego desde o início da pandemia / Arquivo MST-PR

Joabe Mendes de Oliveira, da direção estadual do MST no Paraná, destacou que os alimentos são resultado do cultivo orgânico, livre de agrotóxicos. Ressaltou ainda o caráter solidário das doações no esforço de amenizar a fome durante a pandemia. “As cestas são frutos do nosso trabalho, dos trabalhadores do campo para trabalhadores da cidade”, disse.

Para Adriana Prestes, moradora da comunidade Emiliano Zapata, é uma satisfação participar do trabalho coletivo, com as comunidades envolvidas, além do apoio de todas as entidades parceiras do MST:  “Uma emoção muito grande ver todo esse trabalho coletivo, poder entregar os alimentos a várias famílias. Uma honra”.


Alimentos doados são resultado do cultivo orgânico, livre de agrotóxicos / Larissa da Silva Santos/MST-PR

Além das comunidades do MST, participaram da ação o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato); a Central Única dos Trabalhadores (CUT-PR); a Frente Brasil Popular; Pastorais da Igreja Católica; Cáritas; Sindicato dos Docentes da UEPG (SindUEPG); Sindicato dos Técnicos e Professores da UEPG (Sintespo); Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Carne; Intersindical; Comunidades Eclesiais de Base (CEBs); Frente Ampla Democrática; Sindicato dos Servidores Públicos Federais em Saúde, Trabalho, Previdência Social e Ação Social do Estado do Paraná (Sindprevs); além de amigos e parceiros do MST.

Alimentos foram abençoados pelo Bispo de Ponta Grossa 

Dom Sérgio Arthur Braschi, bispo da Diocese de Ponta Grossa, realizou na sexta-feira (26) a bênção dos alimentos na sede do pré-assentamento Emiliano Zapata, no município de Ponta Grossa, onde foram preparadas as cestas de alimentos cultivados nas comunidades do MST na região. Dom Sérgio destacou os esforços dos trabalhadores rurais, entre homens e mulheres, na colheita dos alimentos nas diversas comunidades.

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“Um gesto de partilha durante a pandemia. Por trás desse trabalho, tem as mãos calejadas no cultivo dos alimentos que vão chegar à mesa dos pobres. Os pobres repartindo com os pobres”, afirma.


Dom Sérgio Arthur Braschi, bispo da Diocese de Ponta Grossa, realizou a bênção dos alimentos doados / Jade Azevedo/MST-PR

Solidariedade permanente

A atividade vem sendo preparada desde o final de 2020, com o plantio de lavouras coletivas e aumento da produção por parte das famílias camponesas. O feijão orgânico, por exemplo, foi plantado em setembro e colhido em mutirão no mês de janeiro.

A ação faz parte das ações de solidariedade realizadas pelo MST desde o início da pandemia da covid-19, em março de 2020. Somente no Paraná, com a ação de sábado, as famílias Sem Terra chegaram a 516 toneladas de alimentos doados. Com a ação Marmitas da Terra, organizada pelo Movimento em Curitiba, cerca de 42 mil refeições também já foram distribuídas desde maio de 2020.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lia Bianchini