Simbólico

Petroleiros vendem gasolina por R$ 3,50 a motoristas de app: "Preço justo é possível"

Além da solidariedade entre trabalhadores, iniciativa reforça crítica à atual política de preços da Petrobras

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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No acumulado de 2021, a gasolina vendida pela empresa subiu 41,6%, enquanto o diesel aumentou 33,9% e o gás de cozinha, 17,1% - Daniel Giovanaz/Brasil de Fato

Sindicatos de petroleiros de São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Maranhão e Amazonas venderam, nesta quinta-feira (4), combustível a preços inferiores ao mercado para motoristas de aplicativo e caminhoneiros autônomos.

No acumulado de 2021, a gasolina vendida pela Petrobras subiu 41,6%, enquanto o diesel aumentou 33,9% e o gás de cozinha, 17,1%.

"[A ação] É uma forma de contemplar esse segmento que está sendo explorado pelo sistema econômico. Sobra pouco para eles", explica Alexandre Castilho, dirigente do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP).

A definição dos preços de cada produto na ação simbólica desta quinta baseou-se em estudos elaborados por economistas contratados pelos sindicatos. Eles estudaram os custos da Petrobras e apresentaram uma proposta que garantiria lucratividade à empresa, ao distribuidor e ao revendedor, sem penalizar os consumidores: gasolina a R$ 3,50, diesel a R$ 3,09 e botijão de gás de cozinha a R$ 45,00.

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Além da solidariedade entre os trabalhadores, a atividade reforçou a crítica à atual política de preços da Petrobras. "É viável implementar um preço justo, e já foi praticado desta forma", diz Castilho. "É preciso fazer uma política de preços que garanta a lucratividade da empresa e que ofereça valores acessíveis para a população", completa.

Desde o governo Michel Temer (MDB), a estatal adota o Preço de Paridade Internacional (PPI), ou seja, atrela os preços dos combustíveis no Brasil ao valor do barril de petróleo no mercado internacional.

Segundo os organizadores, essa política de não intervenção em um mercado instável e altamente condicionado pela especulação é o que explica os aumentos constantes nos preços dos derivados de petróleo, como o diesel, gasolina e gás de cozinha.

"Uma estatal precisa trabalhar pensando nos preços a médio e longo prazo e garantir estabilidade econômica dentro do país. Nós temos o petróleo a custo nacional. Temos as refinarias e a distribuição a custo nacional. Não precisaríamos acompanhar o preço internacional na hora de colocar o combustível no mercado brasileiro", avalia o dirigente do Sindipetro-SP.

Segundo o sindicato dos petroleiros, 39% dos lucros e dividendos da Petrobras são destinados aos acionistas estrangeiros da estatal. "É como se a gente não precisasse mais das refinarias no Brasil. Se todo mundo se acostumar com o preço do mercado internacional, é só importar de qualquer lugar para atender o mercado interno. É uma contradição muito grande". 

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Além da oferta de combustível a um preço justo, os sindicalistas também conversaram com motoristas sobre a composição dos preços do produto e explicando que o aumento dos preços não se deve unicamente aos impostos.

Conta não fecha

Na capital paulista, a atividade começou às 14 horas no Auto Posto Cidade, no bairro da Sé. Os petroleiros comercializaram cinco mil litros de gasolina para motoristas de aplicativo, com limite de 10 litros para motos e 20 litros para carros.

Ricardo Rodrigues de Souza trabalha há 3 anos como motorista de aplicativo e usa um carro alugado para trabalhar. Pai de dois filhos, Souza afirma que sua renda mensal caiu de R$ 7 para R$ 3 mil mensais. "Às vezes, não consigo pagar todas as contas e as dívidas vão se acumulando."


Ricardo Rodrigues de Souza trabalha há 3 anos como motorista de aplicativo na cidade de São Paulo / Daniel Giovanaz/Brasil de Fato

O motorista de táxi Elvis Freitas Vidal, de 23 anos, atua há cinco anos em São Paulo. "Eu abasteço aqui desde que comprei esse carro e o pessoal do posto me avisou [sobre essa ação]", explica.

"A gente paga para trabalhar. Meu pneu furou essa semana. Se eu fizer uma corrida de R$ 100,00 e colocar R$ 70,00 de álcool, não consigo nem consertar o pneu", conta. "É difícil para trabalhar no dia a dia e pagar para almoçar na rua".

Em Simões Filho (BA), a venda de diesel a R$ 3,09 começou às 7h, no Posto BR Aratu, localizado na BR 324, com limite de até 100 litros de diesel por caminhoneiro. Já no Posto Modelo, em Feira de Santana (BA), 200 motoristas compraram gasolina a R$ 3,50.

O valor cobrado atualmente pelas refinarias representa 34% do valor total da gasolina repassado ao consumidor. No caso do diesel e do gás de cozinha, representa 53% e 48%, respectivamente.

Além desse custo, incidem na composição de preços impostos federais e estaduais, o acréscimo de etanol (no caso da gasolina) e biodiesel (no caso do diesel), além das despesas com distribuição e revenda, com margem de lucro para cada intermediário da cadeia.

Edição: Poliana Dallabrida