Crise

Paraguai: após protestos, presidente pede que ministros coloquem cargos à disposição

Pouco antes das manifestações, o ministro da Saúde renunciou ao cargo. País sofre com falta de insumos contra covid

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Manifestantes exigem a demissão do presidente paraguaio Mario Abdo Benitez, em frente ao Congresso em Assunção, nesta sexta-feira (5) - NORBERTO DUARTE / AFP

Após confronto com os agentes de segurança, pelo menos 20 pessoas ficaram feridas durante os protestos em Assunção, na capital do Paraguai, na noite desta sexta-feira (5), contra a falta de políticas sanitárias do presidente Mario Abdo Benítez. Hoje, o país sofre com a escassez de insumos e o recrudescimento da pandemia, que já registrou 164.310 casos confirmados e 3.256 mortes, segundo os dados do Ministério da Saúde paraguaio.

Segundo Juan Manuel Brunetti, ministro de Tecnologias da Informação e Comunicação, o presidente “escutou o povo” e pediu que todos os ministros coloquem seus cargos à disposição. "Em nome do presidente, anuncio que ele escutou o povo. Ele pede paz e calma entre os paraguaios, e respeita as manifestações pacíficas. Nesse sentido, convocou seu gabinete e pediu a todos os membros que coloquem seus cargos à disposição", disse Brunetti.

 


Manifestantes cantam trecho da música popular "Patria Querida".

O choque começou quando os manifestantes avançaram em direção à barreira de proteção do Congresso. Do outro lado, a polícia começou a disparar jatos d'água, balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes; alguns responderam com pedras. Ao mesmo tempo, protestos também ocorriam em frente ao Palácio do Governo.

Diante do cenário, um grupo de policiais, comandados pelo delegado Silvino Leguizamón, levantou um lenço branco em sinal de trégua, uma vez que os manifestantes estavam em maior número e diversos agentes já tinham sido feridos. 

Pouco antes das manifestações, o ministro da Saúde, Julio Mazzoleni, renunciou ao cargo, após a aprovação do Senado de uma resolução que pedia seu afastamento. “É um momento em que é absolutamente necessário estarmos unidos para combater a pandemia e o interesse nacional está acima de qualquer pessoa e espero que esta decisão sirva para a união do país”, afirmou o agora ex-ministro após se reunir com o presidente.

O documento do Senado também apontou para a necessidade da demissão do vice-ministro, Julio Rolon, e do diretor geral de Vigilância, Guillermo Sequera. Esses, no entanto, seguem em seus cargos.

A indignação no país também tem a ver com a lentidão do governo na aquisição de vacinas e no processo de imunização: até quinta-feira (5), o país tinha vacinado 1.635 pessoas com a Sputnik V. O Paraguai, com uma população de quase 7 milhões de pessoas, adquiriu apenas 4 mil doses de vacinas no último 17 de fevereiro. No mesmo dia, Abdo anunciou um acordo com o governo russo para a compra de mais 1 milhão de doses da Sputnik V, sem dar detalhes sobre datas.

Após os protestos, deputados do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), que faz oposição ao governo, anunciaram que apresentarão na próxima semana um pedido de impeachment contra o presidente, pela repressão aos manifestantes e a sua gestão frente à pandemia.

“Marito”, como é popularmente chamado, faz parte do Partido Colorado, que governa o país praticamente de forma ininterrupta desde a década de 1940. Ele tomou posse em 2018 e, um ano depois, foi alvo de um processo de impeachment devido a um acordo secreto entre o Paraguai e o Brasil sobre a renegociação dos termos de distribuição da energia da usina hidrelétrica binacional de Itaipu. Os termos foram cancelados e o presidente escapou do impeachment.

Edição: Mauro Ramos