Rio Grande do Sul

Sociedade

Sob críticas, fabricante lança revólver cor-de-rosa na carona do Dia da Mulher 

Lançamento da Taurus dirigido à “mulheres fortes” é acusado de “macabro” e “criminoso” 

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Taurus escolheu o 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, para fazer um lançamento extravagante: um revólver cor-de-rosa destinado ao público feminino - Reprodução Redes Sociais

A indústria de armas Taurus escolheu o 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, para fazer um lançamento extravagante: um revólver cor-de-rosa destinado ao público feminino. Trata-se do RT85 UL Strong Women. No entendimento da empresa, a novidade serve para manter as mulheres “fortes e bem armadas”. Porém, em um país no qual, em apenas cinco estados, houve 443 feminicídios em 2020, a iniciativa recebeu fortes críticas.

“É uma atitude macabra, mais uma das atitudes macabras dos apoiadores do Bolsonaro”, resume Ariane Leitão, coordenadora da Força Tarefa Institucional de Combate aos Feminicídios/RS. “Alegar que a mulher deve se armar para enfrentar as agressões é um argumento esdrúxulo, pois vamos defender o combate à violência com mais violência”, acrescenta, condenando o que considera “um flerte” de uma mensagem de morte com uma data que enaltece os direitos humanos e as lutas feministas, como é o 8 de Março.

“Propaganda criminosa”

“Essa propaganda da Taurus incitando as mulheres a se armarem é criminosa”, ataca a deputada Luciana Genro, do PSOL, integrante da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa gaúcha. 
    
“É fato conhecido e documentado que possuir uma arma torna a vida muito mais perigosa e não menos”, sustenta. “Ainda mais no ambiente doméstico e sem ter um conhecimento profissional sobre o uso de armas”, reforça.

Com sede em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, a Taurus foi fundada há 80 anos e exporta sua produção para mais de 100 países. Ariane repara que, em 2019, o Rio Grande do Sul foi o terceiro estado do Brasil em número de feminicídios.  

“Feliz Dia da Mulher que é forte”

Citando o anuário Fórum Brasileiro de Segurança, a coordenadora da Força Tarefa nota que, em 2019, de todas as mortes de mulheres no país, 35% delas foram feminicídios. E nove em cada 10 mulheres foram assassinadas pelo companheiro ou ex-companheiro e quase sempre dentro de casa. Na pandemia, o quadro piorou. “A mulher fica presa dentro do lar junto com seu agressor. O que se torna também muito perigoso para as crianças”, diz.

A Taurus apresenta sua arma ao mesmo tempo em que cumprimenta o público feminino pelo dia. “Feliz Dia da Mulher que é forte. Seja cuidando de sua família, se dedicando aos treinos ou andando bem armada” é a mensagem disseminada pelas suas redes sociais. 

“Armar as pessoas é armar o machismo”

Ariane relembra que Jair Bolsonaro já assinou mais de 30 decretos facilitando o acesso às armas de fogo. “Flexibilizar as armas é negar que o machismo é um elemento fundante nesse processo. E armar as pessoas é armar o machismo”, acentua. “O que sabemos – continua – é que os países mais armados são aqueles em que há mais mortes. A arma da mulher pode acabar sendo usada pelo próprio homem para matá-la”, entende. 

Para Luciana, “é uma tragédia que não haja políticas públicas decentes de combate ao feminicídio e que uma empresa de armamentos se aproveite deste drama vivido pelas mulheres para vender suas armas”.


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Edição: Katia Marko