O uso de uma frase identificada com o genocídio nazista durante protesto contra medidas restritivas ao funcionamento do comércio causou indignação no Rio Grande do Sul. Aconteceu quando Doris Denise Neumann, ex-candidata pelo partido Patriota à prefeitura de Nova Petrópolis, cidade da Serra Gaúcha, pronunciou a expressão célebre “Arbeit Macht Frei”, gravada em ferro no portão de acesso ao antigo campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia. “O trabalho liberta”, sua tradução, sempre soou sarcástico e cruel já que os prisioneiros estavam ali para morrer no trabalho escravizado, nos fuzilamentos ou nas câmaras de gás do regime de Adolf Hitler.
Durante a manifestação contra o governo Eduardo Leite (PSDB) – ocorrida no pior momento da pandemia no estado, quando estão sendo batidos recordes de mortes e contaminações – ela gravou o vídeo que causou alvoroço nas redes e, logo, na mídia convencional. Após carreata pelas ruas da Capital, os participantes, trazendo placas e faixas com dizeres contra o lockdown e vestidos de verde e amarelo, reuniram-se diante do Palácio Piratini. Ali, a militante bolsonarista tomou a atitude que acabou marcando o evento.
“Arbeit Macht Frei”
“Arbeit Macht Frei”, não foi isso que a gente aprendeu? Que o trabalho nos faz ser livre? Pois aqui estamos reivindicando o trabalho”, disse. “Se o governador, que foi posto por nós no poder, para a decisão, não decidir que a gente pode trabalhar, a gente tira ele”.
Logo surgiu nas redes o álbum de selfies de Doris Denise, onde aparece posando sorridente com Jair Bolsonaro, os deputados Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli, ambos do PSL, a ministra Damares Alves e o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. No Facebook, ela se apresenta como defensora do tratamento precoce para a covid-19, já defendido pelo ministro Eduardo Pazzuelo, da Saúde, embora sem comprovação científica.
“Gravíssimo e inaceitável”
“É amplamente conhecida a relação da frase “o trabalho liberta” com a mais infame instituição do Holocausto, o campo de concentração de Auschwitz”, protestou a Federação Israelita/RS. E prosseguiu: “É lamentável ver, mais uma vez, manifestações perniciosas que vulgarizam e banalizam a memória do Holocausto e dos sobreviventes e ofendem o povo alemão, em um momento já tão difícil do nosso país e do mundo”.
A nota de repúdio, assinada pelo presidente Sebastian Watenberg, ainda enfatiza que “entoar a frase, como chamada de ordem, em pleno centro de Porto Alegre, é gravíssimo e inaceitável em pleno 2021”.
A prefeitura de Nova Petrópolis, onde a maioria dos moradores são descendentes de alemães, também reclamou. Informou seu “total repúdio à manifestação de conteúdo nazista”, alegando que a cidade de 21 mil habitantes, situada a 90 quilômetros da Capital, “surgiu e cresceu a partir da colonização alemã, sempre com base em valores que se opõem por completo à infâmia do regime nazista”.
Goebbels no discurso
É mais uma situação em que simpatizantes ou membros do governo Bolsonaro aparecem próximos ao nazismo ou aos seus símbolos. A mais notória delas envolveu o ex-secretário de Cultura, Roberto Alvim, que se valeu de trechos de discurso do ministro da propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, em pronunciamento na TV.
Em 2020, um coletivo de advogados, a Frente Ampla Democrática pelos Direitos Humanos, denunciou Bolsonaro e dois de seus filhos, Eduardo e Carlos, à Procuradoria-Geral da República (PGR) por “racismo, homofobia e apologia ao nazismo”. Também a Confederação Israelita do Brasil (Conib) já condenou vídeo veiculado pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) com informações sobre o combate à pandemia de coronavírus. Nele, apareceu a expressão "o trabalho, a união e a verdade nos libertarão", remetendo ao dístico na entrada de Auschwitz.
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