Mulheres jornalistas envolvidas com a cobertura da pandemia foram as participantes da segunda live "Bar da Ari – Jornalistas Inspiradoras", que estão ocorrendo nos sábados do mês de março, mês de luta das mulheres. Mediado pela diretora de Políticas Ambientais da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), Laura Gluer, o evento deste sábado (13), que era para ter a duração de uma hora, iniciou às 11 horas e estendeu-se até as 12h50min. Enfrentar a doença e esclarecer a desinformação foi a constante no depoimento de todas elas, centradas em bem informar a população gaúcha sobre os fatos e acontecimentos decorrentes da covid-19.
Na abertura da live, a vice-presidente da ARI, Jurema Josefa, lamentou a perda de vidas para o coronavírus e o negacionismo como forma de desinformação num momento crucial em que a sociedade precisa estar bem informada. O presidente da ARI, José Nunes, saudou as mulheres e jornalistas inspiradoras, ratificou que o assunto é de interesse da sociedade gaúcha e que o governo do RS tem se preocupado mais no combate à covid-19 do que o governo federal.
Laura Gluer salientou que este é um momento importante para a saúde de todos, que a pandemia modificou a rotina da imprensa e que é preocupante o número crescente de casos e de óbitos. “Precisamos de testagem em massa”, afirmou.
A secretária de Comunicação, Tânia Moreira, que faz parte do Gabinete de Crise do governo estadual, disse que entre os desafios da comunicação, além do dever de informar corretamente, está “fazer chegar informação em todo o RS e combater as fakenews”. Que o governo tem feito campanhas, como "Uma mão lava a outra", "Fique em casa", e de esclarecimento do sistema de bandeiras que sinalizam, pelas cores, o nível de gravidade de cada região. Respondeu que a bandeira preta é uma forma de "lockdown" pelas restrições de atividades que exige das comunidades. E que tem o compromisso permanente de atender aos profissionais da saúde e imprensa. A secretária fez uma apresentação de tópicos sobre transparência e empatia.
Luciamen Winck, do Correio do Povo, ressaltou o excesso do trabalho jornalístico, sem precedentes, para bem informar. “É uma guerra diária contra um inimigo invisível”. Contou que no ano passado perdeu repórteres, que contraíram a covid-19. “Chorei e sofri com eles, e tive que acalmar os ânimos quando a redução de jornada e salarial nos pegou”.
Patrícia Comunello, do Jornal do Comércio, falou que a necessidade da cobertura, relacionada à pandemia, é tão intensa que, juntamente com a mídia digital, “acabou com as fronteiras das horas e dos dias”. Há muita informação, é preciso orientar, esclarecer, porque mexe com a vida das pessoas de várias maneiras, como saúde, economia, a angústia de quem necessita e está sem complementação de renda e conta com auxílio emergencial, mas que demora pela burocracia. “É difícil separar o jornalista da vida real, e espero um dia entender tudo isso, o que vai significar esta transformação na vida de gente”.
Camila Kosachenco, de GZH, disse que é desgastante lidar com a desinformação, questionando profissionais e assessores e “indo atrás de coisa que não é bem assim, inclusive em relação à vacina”. Relatou que foi agredida verbalmente em muitos momentos, durante a cobertura, como se os jornalistas fossem os culpados pelo fechamento dos estabelecimentos.
Cristiane Weber, do hospital São Lucas, da PUCRS, falou que, além do desgaste em combater às fakenews, percebe que, diariamente, a equipe de saúde está cansada e mesmo assim trabalha ao extremo para salvar vidas. Contou que um dia a farmacêutica comunicou sobre um casal, infectado pela covid-19, e que marido e mulher não se viam há bastante tempo, mas naquele dia iriam fazer a tomografia no mesmo horário. “Registramos este breve encontro dos dois e valeu contar esta história, porque teve quase um milhão de pessoas alcançadas pelo Facebook”.
Aline Marques, do Hospital Centenário (São Leopoldo), disse que há superlotação na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e no hospital, que atende 100% pelo SUS e não rejeita ninguém. A lotação chegou a 115% na enfermagem e 110% na UTI. Disse que dos 46 internados, 20 estavam em estado grave, e que fica triste quando rejeitam a realidade. “O negacionismo é uma reação egoísta das pessoas”. Ela contou que faz fotos, vídeos, entrevistas com profissionais, e envia para a imprensa. “Os contatos são permanentes, não vou deixar ninguém sem matéria, sem a informação”. Contou que o paciente, ao receber alta, antes de sair, toca o sino que fica na recepção do hospital, como forma de vibrar com mais uma vitória de alguém que se curou.
Melina Fernandes, do Hospital Moinhos de Vento, disse que devido às restrições de acesso aos jornalistas, a assessoria de comunicação se transformou numa agência de notícias, captando imagens e informações, com ajuda dos agentes de saúde, para repassar à imprensa. Falou sobre o vídeo que circulou nas redes sociais com mentiras de que a situação do hospital estava tranquila, mas que foi desmentido e recebeu o apoio da imprensa e da sociedade. Que o hospital recebeu pacientes do exterior e foi onde teve registrado o primeiro caso de óbito por covid-19 no RS.
Andrea Lentz, que faz a comunicação interna do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), saudou a ARI pelos 85 anos. Disse que não fez home office, se contaminou (é assintomática), ficou em isolamento e se curou. Sente a angústia pelas pessoas que perdem seus familiares. “Além dos profissionais da Saúde, na linha de frente, os jornalistas têm o papel de informar a sociedade”. E se emocionou ao anunciar que os pais haviam se vacinado.
Patrícia Coelho, da Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre, reiterou a disposição de ajudar a manter informados os colegas. “Somos pessoas cansadas, mas a gente é privilegiado por fazer parte desta história, como agente ativo, num momento em que se vive a pior pandemia, depois de 100 anos”. Disse que o cotidiano dos jornalistas é pesado, tentando dar respostas a uma situação que não dá trégua e só piora, mesmo com o esforço dos gestores públicos para conter a doença.
Karina Moraes, da Fundação de Saúde de Novo Hamburgo, que instalou o primeiro centro de triagem da covid-19 no estado, falou que a velocidade das mudanças é assustadora. “A gente faz o trabalho interno e externo para os veículos, com as nossas fontes, dentro do hospital”. Que é preciso o apoio da equipe de psicologia e assistência social para atender ao estresse emocional de quem está na linha de frente. E que a nova variante do vírus é assustadora, pois também está levando a óbito os jovens.
Antes de encerrar a live, o presidente do Conselho Deliberativo da ARI, Batista Filho, agradeceu as participações, pelo empenho e o trabalho solidário de todas. “Devemos transformar comportamento em ação. Os que negam são desprezíveis e os que estão na linha de frente são imprescindíveis”, concluiu.
*Com informações da assessoria da ARI
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