SÃO PAULO

Doria ignora imagens e distorce dado para negar transporte lotado na fase roxa em SP

Reportagem mostrou aglomeração de trabalhadores no transporte público nos primeiros dias de fase roxa. Doria negou

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Saída de passageiros na estação Jurubatuba, da CPTM, mostra que o transporte não teve redução da lotação com a fase emergencial (roxa) - RBA

O governador paulista, João Doria (PSDB), distorceu dados para negar que o transporte coletivo em São Paulo esteja lotado em plena fase emergencial (roxa) da quarentena. Em coletiva de imprensa realizada hoje (17), foi apresentada uma comparação da demanda de passageiros desta terça-feira (16) com a de 11 de março de 2020, penúltimo dia antes do início da quarentena.

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Com isso, o governo Doria disse que houve redução de 58% na demanda de passageiros da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e 64% na demanda do Metrô, com o início da fase roxa.

A apresentação desses dados faz parecer que houve grande adesão das empresas e dos trabalhadores ao isolamento social. No entanto, se comparados com a demanda de fevereiro, os dados indicam baixíssima alteração da situação vista 17 dias atrás. No Metrô, a média do mês passado foi de 1,464 milhão de passageiros transportados por dia útil.

Na terça (16), já na fase roxa, foram 1,334 milhão. Uma redução de apenas 8,9%. Já na CPTM, a média foi de 1,204 milhão de passageiros por dia, em fevereiro. Terça, ficou em 1,270 milhão. Um aumento de 5,5%. Ainda não há dados disponíveis desta semana de passageiros transportados nos ônibus metropolitanos e da capital paulista.

Nesta quarta, reportagem da Rede Brasil Atual mostrou que trabalhadores da capital paulista seguem em rotina presencial no trabalho, enfrentando transporte lotado diariamente, mesmo com a decretação da fase emergencial (roxa) da quarentena.

“Não tem dia que não estejam lotados. Saio do Grajaú (zona sul) e uso lotação, trem e dois ônibus para chegar ao trabalho, em Perdizes (zona oeste). É impossível manter qualquer distanciamento e a insegurança e o medo de me contaminar são permanentes”, explicou a assistente administrativa Ingrid Novais.

Em suas mais de duas horas de viagem, Ingrid ainda tem de conviver com todo tipo de descuido com as medidas sanitárias dentro do transporte lotado, mesmo com a fase roxa.

Os dados do isolamento social também demonstram que, até o momento, não houve adesão significativa das empresas e da população às medidas mais restritivas. Na semana de 1 a 5 de março, início da fase vermelha, o isolamento ficou em 40%, em média. Na semana de 8 a 12, foi a 42%.

E, nesta semana, com o início da fase emergencial (roxa) chegou a 44%. Na capital a variação foi de 38% para 42%. Números muito abaixo do mínimo necessário para conseguir reduzir a transmissão do novo coronavírus (60%).

O governo Doria voltou a recomendar que os diferentes setores econômicos adotem horários alternativos de entrada e saída dos trabalhadores para evitar que o transporte fique lotado na fase emergencial. A indústria teria entrada das 5h às 7h; os serviços, entrada das 7h às 9h; e o comércio, das 9 às 11h. No entanto, a medida não é obrigatória.