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Pão de Açúcar e Carrefour financiam incêndios no Pantanal

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JBS e outros frigoríficos compram o gado das queimadas e entregam para grandes fornecedores de alimentos - Daniel Beltra / Greenpeace
O governo brasileiro faz a sua parte: atua em defesa dos desmatadores

No setor de alimentos, as principais economias do mundo estabeleceram o seguinte entendimento: as empresas que estão no topo da cadeia produtiva são responsáveis por garantir a proteção do meio ambiente. Esse comportamento deve permear todos os elos do negócio, desde a obtenção da matéria prima.

É um discurso muito difundido, mas ainda pouco praticado. Em muitas empresas, em nome da lucratividade, o valor da vida não entra nas contas. Por isso, há tanta devastação na Amazônia e no Pantanal. Ainda é lucrativo desmatar para produzir comida.

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Na cadeia produtiva da carne, multinacionais injetam dinheiro nas contas bancárias de grandes proprietários de terra. Os fazendeiros tocam fogo na mata, criam gado, entregam para os frigoríficos. O frigorífico faz o abate e depois vende para as grandes redes de supermercados.

Tanto frigoríficos quanto supermercados têm sólidos discursos de respeito à natureza e aos direitos humanos. Na prática, entretanto, o discurso não se cumpre.

O papel dos supermercados

Neste mês, o Greenpeace International divulgou os resultados de uma extensa investigação sobre os incêndios que reduziram a cinzas cerca de 30% do Pantanal brasileiro.

A organização rastreou a cadeia produtiva ligada aos incendiários e chegou a maior processadora de carnes do mundo, a JBS, que banca as fazendas.

JBS e outros frigoríficos, como Marfrig e Minerva, compram o gado das queimadas e entregam para grandes fornecedores de alimentos, dentre eles os maiores supermercados do mundo: Carrefour e Pão de Açúcar, do grupo francês Casino.

Também recebem essa mesma carne marcas bem conhecidas, como Nestlé, McDonald's e Burger King, dentre outros.

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Os grandes supermercados são os principais catalizadores da estrutura criminosa que toca fogo no Pantanal. Caso interrompessem a venda de alimentos produzidos em cadeias produtivas predatórias, o fluxo de dinheiro aos desmatadores e incendiários poderia ser substancialmente reduzido.

Conter as queimadas, por ora, é um sonho de final de verão, época das chuvas que arrefecem os incêndios.

Em breve as chamas voltarão, e as empresas se apressarão em divulgar seus relatórios de sustentabilidade, impressos em papel reciclado e ricamente ilustrados. É o estado da arte da hipocrisia.

O governo brasileiro faz a sua parte: atua em defesa dos desmatadores, persegue e censura servidores e conspira contra a própria estrutura de fiscalização, cortando verbas e recursos humanos.

O texto completo, com os resultados da investigação do Greenpeace, ainda está em inglês, mas pode ser baixado em formato PDF

 

*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Poliana Dallabrida