PANDEMIA

Associação Médica Brasileira defende banimento de "kit covid" e pede isolamento

Entidade divulgou boletim para cobrar ações diante da situação de colapso; Brasil se aproxima de 300 mil mortes

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“Ainda nesta semana atingiremos outra triste marca: chegaremos a 300 mil mortes, com a agravante de atravessarmos um quadro de curva ascendente”, afirma o boletim, assinado por 16 entidades médicas nacionais de diferentes especialidades - Mário Oliveira/Semcom

A Associação Médica Brasileira (AMB) divulgou, nesta terça-feira (23), um boletim extraordinário sobre a situação da covid-19 no Brasil. O documento faz uma série de recomendações ao poder público, com destaque para medidas protetivas de isolamento social e para o banimento do chamado "kit covid".

Para a AMB, que reúne 27 associações médicas estaduais e 396 regionais, reduzir a circulação de pessoas “segue sendo imperioso para conter a propagação viral”.

Pior momento

O documento destaca que o país vive o pior momento desde o início da pandemia, em março de 2020.

O cenário é de aumento exponencial de casos e mortes. Atualmente, as mortes diárias no Brasil representam 25% dos registros mundiais; uma a cada quatro vítimas estão no país. Desde o dia 9 de março, o Brasil é o epicentro mundial da covid-19. A ampla circulação do vírus coloca, inclusive, todo o mundo em alerta.

“Ainda nesta semana atingiremos outra triste marca: chegaremos a 300 mil mortes, com a agravante de atravessarmos um quadro de curva ascendente”, afirma o boletim, assinado por 16 entidades médicas nacionais de diferentes especialidades.

“Faltam medicamentos para intubação de pacientes acometidos pela covid-19, não existe um calendário consistente de vacinação, não há leitos de UTI”, completa a AMB, ao relatar a situação de colapso no sistema de Saúde observado por todo o país.

Bolsonaro e o caos na Saúde

Além de criticar a ausência de um programa de imunização eficiente, que deveria ser de responsabilidade do governo de Jair Bolsonaro, a entidade também faz outras críticas indiretas ao presidente.

“Fake news desorientam pacientes. Médicos e profissionais de saúde, exaustos, já são em número insuficiente em diversas regiões do país”, afirma o documento.

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Bolsonaro e sua base de apoiadores seguem, durante toda a pandemia, negando a ciência.

Partiram do Planalto ações que minimizaram a doença, taxada de “gripezinha”, que ridicularizaram o uso de máscaras, que promoveram aglomerações e questionaram a segurança de vacinas, através de mentiras.

Dentro deste contexto, também partiu de Bolsonaro a defesa incansável de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a covid-19, como a cloroquina e a ivermectina. Atualmente, médicos apontam, inclusive, para mortes relacionadas ao abuso das substâncias que contaram com Bolsonaro como garoto propaganda.

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Diante disso, a AMB reafirma a ineficácia dos medicamentos, conhecidos como “kit covid”.

“Reafirmamos que, infelizmente, medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da Covid-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida.”

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Ações urgentes

O boletim da AMB elenca uma série de ações urgentes para que a tragédia seja reduzida, como vacinação em massa, considerada "a medida ideal para controlar a velocidade de propagação do vírus".

Também apontam o isolamento social, o uso de máscaras, evitar aglomerações e manter o ambiente ventilado e higienizado como medidas básicas a serem cumpridas por todos. 

A entidade reforça a necessidade de mais medicamentos para tratamento dos doentes internados. "São urgentes esforços políticos, diplomáticos e a utilização de normativas de excepcionalidade para solucionar a falta de medicamentos, em especial relacionados às intubações”, afirma. "Na ausência destes, não é possível oferecer atendimento adequado para salvar vidas”.