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“A banalização da morte é antes a banalização da vida”, afirma psicanalista 

Karla Nyland atende pessoas que perderam entes queridos para a covid e pontua: luto leva muito tempo para ser elaborado

26.mar.2021 às 14h27
Porto Alegre
Fabiana Reinholz

O luto tem diferentes formas de expressão em culturas distintas - assim como pessoas lidam de formas diferentes com uma perda - Pixabay

“Não há lugar na mente para tanta dor, não há palavra que consiga dar conta de significar, de dar algum sentido imediato. Ser acolhido na dor, poder falar, chorar, dizer dos sentimentos são formas de tentar elaborar este luto que precisa de tempo e que acontece dentro dos limites possíveis para cada um”, aponta a psicóloga e psicanalista vincular Karla Nyland ao falar sobre o seu trabalho de escuta e acolhimento de familiares que perderam entes queridos para a covid-19. 

No pior momento da pandemia, com o Brasil sendo considerado o pior país no mundo na gestão da crise sanitária, já passam de 300 mil vidas vitimadas pela covid-19, das quais quase 18 mil são gaúchas. Além disso, hospitais estão com superlotação e a taxa de contaminação é crescente. Mesmo assim há uma parte considerável da população que, já cansada do vírus, segue a vida como se ele já não fosse mais grave, circulando sem máscaras ou se aglomerando. 

Neste cenário, o Brasil de Fato RS entrevistou Karla, que falou, entre diversos temas, sobre como tem sido o acolhimento às famílias que perderam seus entes e também sobre o comportamento negacionista das pessoas. “A banalização da morte é antes a banalização da vida. Aconteceu com a Aids e, agora, mais intensamente com as mortes por covid-19. Isto mostra um aspecto perverso e desumano. É sintoma de uma grave crise de valores éticos de uma sociedade que está doente, alienada e alienante. Enquanto a vida não tiver valor, a morte será só um detalhe”, destaca.  

Abaixo a entrevista completa 

Brasil de Fato RS – Tu atendes pessoas que perderam entes queridos para a covid. O que poderia nos falar sobre essa situação? Há quanto tempo atendes esses familiares?

Karla – Atendo pacientes que perderam familiar por covid-19 desde agosto 2020. Ainda não estávamos nesta condição atual. Algumas pessoas já conheciam meu trabalho, pois trabalhei muitos anos com pessoas com HIV/Aids, e elas acabaram encaminhando amigos que estavam em sofrimento em função da pandemia. 

Neste momento a angústia e o medo estão presentes na vida de todos nós. Quando há pacientes que perderam algum familiar, uma ou mais pessoas queridas, a dor é perceptível até através da voz. Elas ‘sentiram na pele’ a potência da pandemia e vivenciam a desestrutura familiar decorrente da perda. É uma ruptura traumática na vida, principalmente quando ocorrem mais perdas familiares no mesmo momento ou em um curto espaço de tempo. 

Não há lugar na mente para tanta dor, não há palavra que consiga dar conta de significar, de dar algum sentido imediato. Ser acolhido na dor, poder falar, chorar, dizer dos sentimentos são formas de tentar elaborar este luto que precisa de tempo e que acontece dentro dos limites possíveis para cada um. 

Em muitos casos o paciente também se infectou, soma-se aí um sentimento de culpa, uma ideia que poderia ter cuidado mais, que teria sido melhor não ter ido trabalhar utilizando o transporte público, que não deveria ter ido ao supermercado, como se pudesse ter feito diferente. É a culpa do sobrevivente, de quem passou por situação traumática e ‘se salvou’. Algumas destas pessoas podem desenvolver um quadro de sintomas como cefaleia, perturbação do sono e ansiedade, pois está se culpando pela morte dos outros. A culpa e o trauma pesam, favorecendo o aparecimento de uma série de sintomas (físicos, psíquicos e comportamentais).

Há também o sentimento de impotência que é frequente, de não ter e não poder fazer nada. Receber notícias do familiar por telefonemas da equipe médica é angustiante. Tentam rastrear como a pessoa se contaminou, quem transmitiu. E o pior, para todos, é a impossibilidade de estarem junto segurando a mão de quem amam neste momento tão difícil, quando a internação em uma UTI se faz necessária. Assim como quando sabem que o familiar está no aguardo de um leito, às vezes no oxigênio, em um corredor. 

Não raro o paciente que atendo também está com covid-19 e acaba, em caso de perda do familiar, sequer indo ao velório para se despedir. Outras vezes, em poucos dias, perdem mais de um familiar. É algo de uma intensidade absurda, de uma dor e trauma que demora muito para elaborar e conseguir se agarrar novamente à vida. É um longo caminho a percorrer e o psicoterapeuta precisa estar disponível para amparar na dor, e para isso precisar estar ‘inteiro’. Em raras vezes, o profissional também pode estar vivendo perdas. 

BdFR – Que relatos os pacientes te contam nas escutas que faz?

Karla – Praticamente todos os pacientes nesta condição de perda falam sobre a última vez que viram a pessoa amada, sobre o que conversaram, e sempre o medo estava presente. Medo de não dar conta da dor. A despedida, a data marcada é sempre traumática, diz deste momento, da última vez que conseguiu falar com o marido ou com a esposa, pai, mãe, irmã, irmão, filho ou filha. Choram pelo que deveriam ter dito, pelas desculpas que queriam pedir… não dá tempo para nada, às vezes é tudo muito rápido.

Um dos momentos mais complexos é quando acontece a despedida virtual antes da intubação. Neste momento, o desespero, o medo, a dor e, ao mesmo tempo, a esperança estão presentes de forma intensa. Um paciente me ligou tarde da noite, a mãe foi intubada e ele teve a certeza de estar se despedindo dela, naquele momento ele precisava de escuta e acolhimento, só queria chorar. Ele estava com covid-19, pegou da mãe ao cuidar dela, sabia que se ela não resistisse até ele se curar, não poderia se despedir dela, e sem mais parentes por perto não tinha muito com quem contar. A mãe faleceu oito dias depois que ele já estava curado. Foi muita angústia, para além da ideia da morte.

As pessoas enlutadas precisam de esperança sem fugir à realidade, de colo e abraço sem toque. É difícil também para o terapeuta, sabemos tanto quanto o paciente do alto risco quando alguém é intubado. O desejo de abraçar seu familiar é enorme, assim como o medo de nunca mais poder tocar neste amor, sentir o calor, a pele, o cheiro, caso venha a falecer. Há uma ruptura enorme na saúde mental.


"O desejo de abraçar seu familiar é enorme, assim como o medo de nunca mais poder tocar neste amor caso venha a falecer. Há uma ruptura enorme na saúde mental”, destaca Karla / Arquivo Pessoal

BdFRS –  Além de familiares, chegastes a atender pacientes que se recuperaram da covid?

Karla- Atendo e atendi muitos pacientes com covid-19 e que se recuperaram. Infelizmente, também houveram perdas. Alguns pacientes tiveram poucos sintomas, mas a maioria permaneceu com sequelas como ansiedade, depressão, dor de cabeça, etc., por meses. Praticamente todos sentiram medo de morrer, ficar com algum dano permanente e muito receio de contaminar familiares. 

BdFRS – Tu pontuastes que faz o atendimento de escuta e acolhimento de casos mais graves, como são esses caos mais graves? Como é feito esse atendimento?

Karla – Os casos mais graves são de pacientes/clientes que perderam mais de um familiar, o que em geral acontece em curto espaço de tempo. Isso é avassalador para a mente e a alma de qualquer pessoa. Repentinamente todo o ‘mundo’ estruturado desmorona, as referências, a ancoragem se perdem. Não há lugar na mente para toda esta intensidade e nem palavra que consiga dar um significado para uma situação traumática deste nível. O luto leva muito tempo para ser elaborado e, neste caso, é agravado pois a despedida se dá sem ver seu ente querido, sem tempo de velar, de se despedir. Nesta gravidade estão centenas de bebês e crianças órfãs, algumas que perderam mãe no parto para o covid-19.
 
Outros casos difíceis estão relacionados ao sentimento de culpa, como eu já mencionei, e, às vezes, a culpa é real mesmo. De pessoas que negaram a intensidade e potência do vírus, se colocaram em situação de contaminação aglomerando, fazendo festa, não se protegeram e levaram o vírus para dentro de casa. Contaminaram familiares e quando algum morre, a culpa fica enorme pois é dano irreparável. Só é possível aceitar.

BdFRS – Ao lidar com a realidade desses pacientes e ver, por outro lado, o comportamento de negação de outras pessoas, há algo que explique isso? 

Karla – Algumas pessoas seguem negando a potência da covid-19, se aglomeram e não usam máscara, não seguem o protocolo. Todos estão errados menos seu grupo. Elas sabem da gravidade, mas se acham superiores, são ‘invencíveis’, ‘fortes’ e com elas ‘não dá nada’. Sofrem de um certo ‘embotamento cognitivo’ e por estarem identificadas com lideranças que tem essa postura, se sentem autorizadas. Alguns, a despeito do que dizem as pesquisas, seguem a linha da ‘imunização de rebanho’. Não conseguem compreender a ciência e nem a questão da replicação do vírus e a mutação. Não há argumento, buscam a satisfação imediata de seus desejos em um funcionamento psíquico regressivo. É o prazer pelo prazer sem qualquer aspecto psíquico que possa mediar desejo e realidade. 

BdFRS – Podemos dizer que há uma banalização da morte diante da pandemia?

Karla – A banalização da morte é antes a banalização da vida. Aconteceu com a Aids e, agora, mais intensamente com as mortes por covid-19. Isto mostra um aspecto perverso e desumano. É sintoma de uma grave crise de valores éticos de uma sociedade que está doente, alienada e alienante. Enquanto a vida não tiver valor, a morte será só um detalhe. 

Aos que seguem ignorando os riscos não há mais nada que se possa falar. A palavra deve ser direcionada aos que convivem com essas pessoas de risco e que sabem do valor da vida, têm medo, neste caso saudável, pois está em conformidade com a realidade. Sugiro que estabeleçam regras de distanciamento e uso de máscara em casa ou que essa pessoa vá morar com os seus iguais. Um mínimo de respeito é necessário e limite é saudável.  

BdFRS – Como o isolamento afeta as pessoas que tu atendes, e como refletir a partir do ponto de vista de que se manter isolado é a melhor opção, a despeito do cansaço?

Karla – No momento, as crianças em fase de socialização estão sofrendo por demais. Uma criança de quatro anos está vivendo em pandemia 25% de sua vida. Em função da falta de empatia e respeito pelo outro, promovida pelo grupo negacionista, este tempo aumenta cada vez mais, atingindo inclusive adolescentes que deveriam estar experimentando maior convivência social, formando grupos. Eles, diferente dos pequenos, ainda conseguem um convívio virtual, mas, mesmo assim, estão perdendo. 

As milhares de mães que perderam emprego, que precisam dar conta da casa, filhos pequenos ou maiores em casa chegam a altos níveis de stress. O isolamento causa muito sofrimento, mas, infelizmente, não é possível outra alternativa enquanto não houver vacina, o que acontece à conta gotas pela inoperância e incompetência da gestão nacional em saúde. 

O ser humano é um ser social, necessita da convivência e prefiro utilizar o termo de distanciamento físico, torna menos pesado e mais fácil de compreender que é possível conviver ao ar livre, deste que se utilize máscara e se mantenha a distância física.

Estamos em um momento de total descontrole da pandemia e, mais do que nunca, cada um deve tomar para si mesmo a responsabilidade sobre a sua saúde e a do outro. Usar máscara, manter a distância física adequada, higienizar as mãos são fundamentais e, além disso, pressionar pela vacinação em massa. A vida só é possível quando compreendermos que saúde, educação e economia andam juntas.


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Editado por: Marcelo Ferreira
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