Argentina

Morre primeiro professor na cidade de Buenos Aires após reabertura das escolas

Movimento de famílias e docentes exige vacinas e repudia medidas irresponsáveis do governo da cidade

Brasil de Fato | Buenos Aires, Argentina |
A escola nº 13, em Villa Lugano, onde Jorge Langone lecionava, estará em luto nesta segunda-feira e não terá atividades. - Divulgação

Neste último domingo (28), uma mensagem de revolta e luto pelo professor Jorge Langone começou a circular nas redes. É o primeiro caso de óbito por covid-19 de um professor na cidade de Buenos Aires, que teve suas escolas reabertas em fevereiro, sob o comando do chefe de governo, Horacio Rodríguez Larreta (PRO), e a Ministra de Educação da cidade Soledad Acuña.

A maior parte das províncias da Argentina retomaram as aulas presenciais em março. Já se contabilizam pelo menos oito mortes de trabalhadores da educação em todo o país, dos quais três se deram na província de Buenos Aires.

Jorge Langone era filiado ao sindicato de professores Ademys, que convocou a uma greve total de atividades das escolas de toda a cidade nesta segunda-feira, para exigir condições sanitárias adequadas para a reabertura. A escola nº 13, em Villa Lugano, onde o professor lecionava, permanecerá fechada em gesto de luto.

Há meses, movimentos de famílias e docentes exigem do governo da cidade uma reabertura segura das escolas, uma vez que o grupo prioritário de professores ainda não foram vacinados contra a covid-19.

"Como viemos denunciando, esta lamentável morte é produto de uma política de abertura dos governos que privilegiam os interesses econômicos sobre a saúde", afirmaram em comunicado do sindicato docente Ademys.

"Particularmente, a política de governo de Horacio Rodríguez Larreta e Soledad Acuña pressionam as escolas para garantir a presencialidade sem condições epidemiológicas e sem respeitar protocolos, promovendo uma maior flexibilização em pleno começo da segunda onda."

Além da alta dos casos de contágio – desde o retorno das aulas presenciais, os casos aumentaram em 50% só na cidade de Buenos Aires –, Larreta adotou uma política punitivista contra professores que não voltassem às salas de aula. Ao lançar os protocolos, o chefe de governo afirmou que trabalhadores pertencentes a grupos de risco por contágio de covid-19 poderiam exercer suas atividades à distância; no entanto, os mesmos funcionários que pediram a autorização, foram surpreendidos com demissões em massa, sem explicação, por telefone.

 

Contágio 48h após a aula

 

O coletivo Famílias pelo Retorno Seguro à Escola ressaltou em um comunicado que o professor Jorge Langone havia sido contagiado 48h após dar sua primeira aula presencial. Além disso, explicitou os já 10 mil casos de contágios em apenas um mês de volta às aulas. Na semana passada, a situação levou à marca de 1.500 alunos e profissionais da educação contaminados pela doença apenas na cidade de Buenos Aires.

Diante da repercussão do caso da morte de Langone neste domingo, o ministro de Educação da Nação, Nicolás Trotta, reforçou que o contágio do professor "não necessariamente se deu na escola". "É importante deixar claro que todos os passos que demos garantiam um retorno seguro. 430 mil professores auxiliares já foram vacinados no país. Representa 30% da equipe docente vacinada até o momento", afirmou em entrevista nesta manhã à rádio FutuRock.

A secretária-geral da Ademys, Mariana Scayola, acompanhou a hipótese em entrevista à rádio El Destape esta manhã, frisando que o caso expõe a falta de planejamento cuidado para com o setor. "Jorge foi apenas um dia à escola, não podemos dizer que se contagiou lá, mas isso joga luz sobre o que está acontecendo nas escolas. Há professores contagiados em grande quantidade, e que contagiaram seus familiares. Jorge é o primeiro, mas, infelizmente, não podemos dizer que será o último."
 

Trabalhadores da educação que faleceram por covid-19 desde a volta às aulas presenciais na Argentina:

María Angélica Leaño, professora em Humahuaca;
Betty Greach, professora em Tilcara;
Nicolás Amarilla, professor em Palpalá e San Salvador de Jujuy;
Gerardo Ibáñez, professor em Morón, província de Buenos Aires;
Natala Pereira, auxiliar em Lomas de Zamora, província de Buenos Aires;
Marcela Gatti, diretora em Baradero, província de Buenos Aires;
Néstor Benítez, porteiro escolar em Puerto Piray, província de Misiones;
Jorge Langone professor de C.A.B.A

Edição: Rodrigo Durão Coelho