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Câmeras escondidas na Cracolândia flagram três meses de violência policial; assista

“Não é confronto, é massacre”, alerta Craco Resiste. Imagens mostram pessoas sendo atacadas por agentes da GCM e da PM

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Homem recebe tiro de bomba de policiais, em flagrante feito pela Craco Resiste - Foto: Reprodução

Em dezembro, integrantes do movimento Craco Resiste instalaram câmeras escondidas no bairro da Luz, no centro de São Paulo (SP), e flagraram, desde então, diversos abusos cometidos por agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e da Polícia Militar do Estado de São Paulo contra a população que vive na região conhecida como cracolândia.

As imagens mostram policiais militares e guardas municipais avançando contra os usuários de drogas em horários distintos e atirando bombas. De acordo com a Craco Resiste, essas operações são comuns na região, sem aviso prévio do poder público.

“É muita violência. As pessoas estão deitadas, conversando e de repente estouram bombas em vários lugares. Isso é de manhã, de tarde e de noite”, afirma Roberta Costa, militante da Craco Resiste, movimento formado, também, por ex-usuários de drogas e que atua na região da cracolândia.

Ainda de acordo com Costa, as imagens provam que a acusação feita pelos moradores da região sobre os abusos cometidos por guardas municipais e policiais militares têm fundamento. A Prefeitura de São Paulo sempre negou que agentes públicos empreendam o uso de violência na região.

“As imagens mostram que não tem um confronto na cracolândia, o que temos é um massacre. Nós publicamos doze imagens, mas publicaremos mais”, alerta a militante. No dia 31 de dezembro, véspera do ano novo, o vídeo mostra policiais militares avançarem contra a população de usuários de drogas que se aglomera na rua. Um dos agentes mira em um homem agachado no chão e atira contra ele.

No dia 16 de janeiro, às 19h48, a GCM aparece em uma das vias ocupadas da Cracolândia e novamente atira bombas contra as pessoas que estão na rua. A Craco Resiste, via Lei de Acesso à Informação, descobriu que a corporação “não usou munição menos letal neste dia.”

Em uma única ação, no dia 30 de janeiro, por volta das 7h, a GCM gastou, de acordo com a Craco Resiste, R$ 3.550 em granadas de gás, atiradas contra as pessoas que ocupam a rua. É possível ver nas imagens que a via fica completamente tomada pela fumaça.

Confira resumo dos vídeos:

Os flagrantes integram um dossiê formado pelo movimento e entregue ao Núcleo de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). De acordo com Rildo Marques de Oliveira, que integra a comissão, até 14h uma denúncia será formalizada contra a Prefeitura de São Paulo e a Guarda Civil Metropolitana.

A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Segurança Urbana afirmou, por meio de nota, que "as imagens fornecidas não permitem uma análise apropriada, pois não mostram toda a dinâmica das ocorrências, mas apenas um recorte da ação dos guardas".

A nota também diz que a Corregedoria da Secretaria Municipal de Segurança Urbana "apura situações em que há desvio de conduta ou protocolo de atendimento, impondo medidas disciplinares específicas".

"Os agentes em campo devem obedecer estritamente aos protocolos estabelecidos para uso progressivo da força. Para que esta atuação seja acolhedora e humanizada, os agentes participam de capacitações diversas, em parceria com a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania e com a Defensoria Pública, aprofundando a compreensão de legislação específica e conceitos de direitos humanos", conclui o texto enviado à reportagem.

Edição: Leandro Melito