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Só no Mato Grosso, covid já matou 16 pastores da igreja Assembleia de Deus

Governador Mauro Mendes (Democratas) sancionou lei que considera atividade religiosa como essencial

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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O presidente Jair Bolsonaro participou da Convenção Evangélica das Assembleias de Deus em Brasília em setembro de 2020 - Carolina Antunes / PR

Dezesseis pastores da igreja evangélica Assembleia de Deus (AD) morreram de covid-19 no estado do Mato Grosso desde o início da pandemia.

O óbito mais recente foi de Manoel Rotilho de Oliveira, que atuava em Santo Antônio de Leverger (MT), Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá.

A AD é a maior igreja pentecostal no Mato Grosso, com cerca de 500 mil fiéis e 3 mil pastores e evangelistas, e não divulga números oficiais de mortes no estado nem em âmbito nacional.

A lista mais recente de pastores falecidos em decorrência do vírus foi divulgada pelo portal RD News, no último dia 4, e inclui o presidente e o vice da igreja no estado: Sebastião Rodrigues de Souza e seu filho Rubens Ciro de Souza, respectivamente. Os dois morreram em julho de 2020, no intervalo de 5 dias.


Presidente e vice da AD no Mato Grosso morreram com covid-19 no intervalo de cinco dias / Reprodução / Facebook

No último dia 31 de março, foi publicada em Diário Oficial a Lei 11.330/2021, sancionada pelo governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (Democratas), eleito na onda bolsonarista, que define a atividade religiosa como "atividade essencial a ser mantida em tempos de crises oriundas de moléstias contagiosas ou catástrofes naturais."

A mesma lei estabelece que as igrejas devem se adequar às recomendações sanitárias da Secretaria de Estado de Saúde.

Mesmo no auge da pandemia, não foi publicado nenhum decreto estadual suspendendo as atividades religiosas presenciais no estado. O governo limitou apenas a capacidade máxima e os horários de funcionamento permitidos, com orientações sobre uso de máscaras, ventilação e álcool em gel.

O Mato Grosso registrou, até o momento, 7,9 mil mortes em decorrência do novo coronavírus. O estado vive o pior momento desde o início da pandemia, com 608 óbitos registrados nos últimos 7 dias.

Todo rito litúrgico pode ser feito de forma remota ou virtual, segundo pastores ouvidos recentemente pelo Brasil de Fato.

Uma das fontes ouvidas para aquela reportagem, o pastor batista Brian Kibuuka, de Feira de Santana (BA), afirma que "muitas igrejas escondem" casos e mortes por covid para reforçar o argumento de que devem continuar funcionando mesmo na pandemia.


Página do Grande Templo da AD, em Cuiabá, faz postagens recorrentes de luto pela perda de fiéis e líderes religiosos / Reprodução / Facebook

Silas Malafaia, porta-voz do negacionismo

O nome mais comumente associado à Assembleia de Deus no Brasil é Silas Malafaia, líder do ministério Assembleia de Deus Vitória em Cristo e desfiliado da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil desde 2010.

Apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Malafaia costuma publicar vídeos em seu canal no Youtube pressionando governos contra restrições ao funcionamento de templos religiosos na pandemia.

A polêmica mais recente ocorreu no último final de semana, após uma liminar do ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF) – já derrubada por Gilmar Mendes –, que proibiu prefeitos e governadores de fecharem templos no país para prevenir infecções.

Malafaia chamou de "bobalhão" o prefeito de Belo Horizonte (MG), Alexandre Kalil, que se recusou a cumprir a decisão de Nunes Marques. No último dia 3, o pastor ainda postou em suas redes um vídeo com o título "Pandemia ou Fraudemia?", questionando a preocupação com a saúde.


Silas Malafaia defende que os templos continuem funcionando durante a pandemia / Reprodução / Youtube

O líder do ministério Assembleia de Deus Vitória em Cristo perdeu ao menos um familiar para a covid-19: o bispo Daniel Malafaia, seu primo, em dezembro de 2020.

Silas Malafaia contraiu covid-19 em março, sem sintomas graves. Ao anunciar o teste positivo, na ocasião, ele disse não ser "negacionista" dos riscos da covid.

Edição: Leandro Melito