Repetição

Novo ministro da Justiça tem "carta branca" para mudar Polícia Federal

A interferência política na PF pelo governo Bolsonaro já foi objeto de denúncia do ex-aliado Sergio Moro

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Anderson Torres foi empossado em cerimônia na última terça-feira (6), junto com outros cinco novos ministros - Marcos Corrêa/PR

O novo ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, nomeado no contexto da reforma ministerial do presidente Jair Bolsonaro na semana passada, tem aval para mudar o diretor-geral da Polícia Federal.

A PF é hoje comandada por Rolando de Souza. Ele foi escolhido pelo chefe do governo em maio do ano passado, por indicação de Alexandre Ramagem, impedido de assumir a PF por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ambos os policiais eram muito próximos, pois trabalharam na Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

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Ramagem era diretor-geral da agência e, segundo informações da época, amigo dos filhos de Bolsonaro. Ao ser criticado nas redes sociais por então indicar um suposto amigo da família para comandar a PF, o presidente da República respondeu: “E daí? Antes de conhecer meus filhos, eu conheci Ramagem. Por isso deve ser vetado? Devo escolher alguém amigo de quem?”.

Fogo amigo

Em abril de 2020, o ministro Moraes suspendeu a nomeação de Ramagem acatando pedido do PDT. O partido alegou que Bolsonaro estaria aparelhando a PF para interferir nas ações do órgão. A denúncia havia sido feita pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro ao se demitir da pasta.

No STF, Alexandre de Moraes é o relator do inquérito que apura a suposta interferência. Em dezembro, Moraes prorrogou as apurações por 90 dias. O prazo só começou a contar após o recesso do Judiciário e deve se esgotar no final deste mês.

Está também em discussão no STF se Bolsonaro será obrigado a depor presencialmente ou se poderá enviar o depoimento por escrito no inquérito. Em fevereiro, o tribunal adiou o julgamento sobre a questão.

O presidente do tribunal, o ministro Luiz Fux, não marcou a sessão, que teria sido adiada estrategicamente, porque ocorreria na turbulenta semana em que estava em discussão na Corte a prisão do deputado Daniel Silveira.

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Na semana passada, o jornal El Pais no Brasil publicou uma matéria na qual diz que “fica cada vez mais claro o papel” dos filhos de Bolsonaro no governo.

“Em comum, os quatro (Flavio, Carlos, Eduardo e o neófito Jair Renan) são investigados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público por crimes que vão da prática de rachadinha e contratação de funcionários fantasmas a tráfico de influência”, diz El País.

O jornal acrescenta que os herdeiros também exercem outros “papeis informais”, como articulação política ou como conselheiros do pai.

O caçula

Se Jair Renan, o caçula do clã, também conhecido como “Zero 4”, ainda não tem cargo público, assim como os irmãos ele já é investigado pela Polícia Federal. Em março, a instituição abriu inquérito para apurar suposto tráfico de influência do jovem Bolsonaro, usando sua empresa, a Bolsonaro Jr Eventos e Mídia.

No domingo (4), conforme matéria do Correio Brasiliense, Jair Renan postou um vídeo na rede social TikTok no qual foi gravado dançando uma música conhecida por ser utilizada em treinamento físico militar. “Bota o fuzil para cantar (pá-pum), troquei meu playstation por um fuzil. A minha Coca-Cola é água quente do cantil”, diz a letra da música.

O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), o “Zero 1”, é investigado por esquema de rachadinha quando era deputado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Recentemente, ele comprou uma mansão de R$ 6 milhões em Brasília.

O vereador Carlos (Republicanos-RJ), pela mesma suspeita, na Câmara Legislativa do Rio de Janeiro. O deputado federal Eduardo (PSL-RJ), assim como Carlos, é investigado no inquérito das fake news no STF.