ABRIL INDÍGENA

No Mês da Saúde Indígena, organizações Abrasco e Apib promovem transmissões online

Encontros sobre saúde indígena fazem parte da programação do Acampamento Terra Livre (ATL)

Ouça o áudio:

Indígenas de Moju, no Pará, recebem equipes de saúde para aplicação da primeira dose da vacina contra a covid-19 - João Paulo Guimarães/AFP
Desde a chegada da pandemia, temos feito vários alertas sobre a vulnerabilidade dos indígenas

Ao longo do mês de abril, celebrado como o Mês da Saúde Indígena, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) promovem três transmissões especiais dedicadas à saúde indígena durante a pandemia de covid-19.

Os encontros ocorrem dentro da programação do Acampamento Terra Livre (ATL), a mais importante atividade anual e conjunta dos povos indígenas do Brasil.

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O lema do ATL deste ano é “Nossa luta ainda é pela vida. Não é apenas um vírus!”. Neste rol de batalhas, inclui-se as invasões em territórios indígenas, queimadas, grilagem, garimpo e desmatamento ilegal.

De acordo com relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), publicado em setembro de 2020, as ocorrências de violência contra indígenas, que inclui “invasões possessórias, exploração ilegal de recursos e danos ao patrimônio”, subiram de 109, em 2018, para 256, em 2019.

No mesmo ano, foram registrados 35 casos de conflitos territoriais, 33 ameaças de morte, 34 outros tipos de ameaças, 13 casos de lesões corporais, e 31 casos de mortes por desassistência. 

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Segundo Ana Lúcia Pontes, médica sanitarista e coordenadora do Grupo de Trabalho (GT) de Saúde Indígena da Abrasco, “as lideranças querem dizer que enfrentam ameaças não somente como a covid-19, que levou à morte de centenas de indígenas, mas que também sofrem durante a pandemia com diversas ameaças de seus direitos”.

De acordo com dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde, foram registrados 637 óbitos e 46.427 casos de covid-19 entre indígenas no país até a última terça-feira (13).

As informações repassadas pelo governo são consideradas incompletas por organições indígenas, porque desconsideram os indivíduos que vivem fora de aldeias e no contexto urbano. Segundo levantamento coordenado pela Apib, 1.037 indígenas morreram em decorrência da doença, que soma 52.324 casos entre essa população. 

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A crise sanitária reforça desigualdades e tem um impacto maior em populações vulnerabilizadas, como a indígena. “A covid-19 é uma grave ameaça aos povos indígenas. Desde a chegada da pandemia no país, nós temos feito vários alertas sobre a vulnerabilidade dos indígenas”, afirma Pontes.

A pesquisadora explica que, mesmo antes da pandemia, os indicadores socioeconômicos já apontavam para um cenário desfavorável para os indígenas tanto em área rural quanto em urbana.

“Sabíamos que haveria muita dificuldade para a implementação das medidas preventivas como isolamento social, higienização e uso de máscara pela dificuldade de acesso aos insumos”.

Pontes lembra que em muitos territórios indígenas sequer há rede hospitalar e acesso a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), muito menos acesso a diagnósticos moleculares.

Em junho de 2020, um estudo do Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) mostrou que a incidência da covid-19 era, naquele momento, cinco vezes maior entre a população indígena em relação à branca, em áreas urbanas.

“Durante todo o enfrentamento à covid-19, organizações indígenas e seus apoiadores têm feito notas públicas, elaborado planos de enfrentamento e produzido materiais de comunicação para orientar as comunidades indígenas, além de ter articulado campanhas de doação de alimentos, insumos e equipamentos para os próprios serviços de saúde”, explica Ana Lúcia Pontes.

Um exemplo é a participação da Abrasco no ATL. “Pela primeira vez, a Abrasco está compondo a programação, e pretendemos continuar contribuindo com nosso apoio técnico-científico para subsidiar o movimento indígena nas suas reflexões sobre o direito à saúde”.

Todas as transmissões serão feitas pela TV Abrasco, no Youtube.

Confira a programação:

Dia 14/04 - Quarta-feira - 16h

Vacina contra Covid-19 e povos indígenas. Expositores: Gersem Baniwa, da UFAM; Marco Antônio Delfino de Almeida, procurador do MPF; Sonia Guajajara, da Apib; e João Cassimiro Tapeba, da APOINME.

Dia 22/04 - Quinta - 16h

Território e saúde: (in)segurança alimentar e acesso à água potável durante a pandemia. Expositores: Inara do Nascimento Tavares, do Instituto Insikiran/UFRR e GT Saúde Indígena/Abrasco; Douglas Jacinto da Rosa, da UFPR e Conselho Estadual dos Povos Indígenas/CEPI; e Vanda Ortega Witoto, do Parque das Tribos/AM.

Dia 28/04 - Quarta - 16h

Frentes Indígenas de Enfrentamento da Covid-19. Expositores: Jozileia Kaingang, da UFSC e GT Saúde Indígena/Abrasco; Kauiti Kuikuru; e Glicéria Tupinambá.

Edição: Poliana Dallabrida