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MEMÓRIA

Relato de prisão, por Alípio Freire | Parte 1: o sequestro

Vítima da covid-19, Alípio Freire relatou, em 2002, as torturas e os anos na prisão durante a ditadura militar no Brasil

22.abr.2021 às 22h36
São Paulo (SP)
Alípio Freire

Aos 23 anos, Alípio Freire foi sequestrado, torturado e passou cinco anos preso durante a ditadura militar - Cadinho Andrade/JU/UFRGS

O jornalista, escritor e artista plástico Alípio Freire faleceu nesta quinta-feira (22), aos 75 anos, em decorrência da covid-19.

Um dos militantes da Ala Vermelha, grupo dissidente do PCdoB que combateu a ditadura militar, Freire foi preso aos 23 anos pela Operação Bandeirantes (Oban) e sofreu três meses de torturas e interrogatórios, permanecendo encarcerado entre 1969 e 1974 no Presídio Tiradentes, em São Paulo,

Após a prisão, intensificou sua participação militante por meio do jornalismo contra-hegemônico. Os jornais foram parte significativa da vida de Alípio, um dos fundadores da revista Sem Terra e do jornal Brasil de Fato, considerados porta vozes de movimentos populares no Brasil.

Em "Relato de Prisão", Freire registra os dias que antecederam sua prisão, a rotina no cárcere e as sequelas sofridas pela tortura. O relato é o depoimento oficial entregue pelo jornalista à Comissão de Indenização dos perseguidos pela ditadura no Estado de São Paulo.

O Brasil de Fato dividiu o documento, publicado pela primeira vez e com exclusividade, em quatro partes. A primeira, publicada nesta quinta (22), descreve o sequestro por agentes do regime. Confira:

Relato de Prisão – 31 de agosto de 1969

“Tudo isso, eu sei, eu vi, eu ouvi.
Mas, quem contará o resto?
Ao ler minha história, é preciso pensar nos ‘desaparecidos’
(…) É preciso pensar em todos, porque a minha história
poderia ser a de cada um deles”

(Henri Alleg, A tortura, 1957)

“Enquanto o capitalismo aliena do trabalhador
a sua força de trabalho, para com ela construir
um mundo que lhe é hostil, a tortura vai muito mais longe:
ela aliena do torturado o seu corpo inteiro e suas mais secretas reservas psíquicas,
para dobrá-lo, achatá-lo, destruí-lo”.

(Hélio Pellegrino, A tortura política, 1985)

O sequestro

O domingo 31 de agosto de 1969 foi um dia agitado. À tarde, meio à transmissão de uma partida de futebol, um locutor anunciou que o general-presidente Arthur da Costa e Silva sofrera um derrame. As unidades militares de todo o país entraram em estado de prontidão. De resto, paralelamente ao laconismo oficial, circulavam os mais diversos boatos.

Assumiria a Presidência, em seguida, a Junta formada pelos ministros militares Aurélio de Lira Tavares (Exército), Augusto Rademaker (Marinha) e Márcio de Souza Melo (Aeronáutica), para evitar a posse do vice-presidente, o civil Pedro Aleixo. Fazia frio e no final da tarde a temperatura caiu ainda mais. Eu estava gripado e com febre.

Foi nessas circunstâncias que, no início daquela noite, fui seqüestrado (preso sem mandado judicial e mantido em cárcere clandestino), quando chegava numa casa situada na então rua Raimundo Testa nº 14 (Bairro da Previdência – São Paulo-SP), por um grupo pára-militar a serviço do regime implantado no país em 1964.

O grupo de seqüestradores era formado por cerca de 15 homens que, descobri em seguida, compunham uma das equipes da Operação Bandeirantes – Oban. Imediatamente levaram-me para o interior da casa que já havia sido invadida e revistada, que se encontrava em situação caótica, e de onde se comunicavam permanentemente com sua central de operações.

Revistaram-me. Só acharam meus documentos – inclusive minha Carteira de Trabalho: eu tinha 23 anos, era jornalista e trabalhava na revista AC-Ars Curandi, publicação da Medisa – Michelino Editora S.A., empresa situada à rua Barão de Itapetininga, 140, 7o. andar, cj. 73 (São Paulo-SP), exercendo a função de redator.

Ali mesmo começaram as torturas: amarraram-me as mãos para trás com uma corda e, em seguida, os tornozelos; faziam-me perguntas e me cobriam de golpes de cassetete, socos, tapas e pontapés – o rosto foi o alvo principal dos tapas; o baixo ventre, tórax e cabeça dos socos e cassetetadas, que também eram aplicadas nas costas, flancos, braços e pernas. Os pontapés não escolhiam alvo.

Queriam nomes e endereços de pessoas, e minha implicação com os moradores (já presos em sua maioria) daquela casa. Como me recusasse a prestar as informações, a violência prosseguia.

Depois de quase duas horas, encapuzaram-me com uma fronha e soltaram-me os tornozelos. Um dos meus seqüestradores segurava a ponta da corda que me prendia os pulsos (como se me levasse por uma coleira) e um segundo mantinha o cano de uma pistola automática, engatilhada, encostado em minha nuca.

Assim, e acompanhado de uma comitiva de uma meia dúzia de membros daquela equipe, me retiraram da casa pelo quintal dos fundos, fazendo-me pular o muro de uma residência vizinha – onde haviam encostado uma escada – atravessar o jardim, e sair pela rua de trás, onde fui embarcado numa caminhonete veraneio C-14.

Apesar do improvisado capuz, conseguia perceber – através de um bordado vazado na fronha – a rota que seguiam. Escolheram atravessar por dentro o bairro do Morumbi, e tomar o caminho da Ponte Cidade Jardim. Durante todo o percurso me interrogavam e espancavam (inclusive com coronhas de armas). Além do motorista, seguiam junto comigo outros três membros daquela equipe.

Fizeram o veículo parar antes de atravessar a ponte e me retiraram do seu interior. Ali quase não existiam construções. Era uma região erma, deserta e coberta de uma vegetação baixa, onde predominavam arbustos, mamonas e capim. Como antes – conduzido como se estivesse numa coleira e com uma pistola encostada na nuca – levaram-me rumo à margem do rio Pinheiros, onde ameaçavam me afogar.

Foi nesse instante que percebi que um segundo carro nos escoltava, pois dele saiu um grupo de agentes que discutiram com os que se ocupavam diretamente de mim. De acordo com aqueles, deviam me pôr imediatamente de volta na C-14: andar comigo ali e naquela situação “era um perigo”.

Outra vez na caminhonete, fui conduzido (sempre encapuzado) ao quartel do Batalhão de Reconhecimento Mecanizado – Rec-Mec, do II Exército, na esquina das ruas Abílio Soares e Tutóia. Era nesse quartel que, então, funcionava a Oban, centro de torturas e interrogatórios (também de assassinatos muitas vezes seguidos de ocultação de cadáveres) de revolucionários e outros opositores do regime.

***

A Parte 2 do relato de Alípio Freire será publicada na próxima sexta-feira (23).

Editado por: Poliana Dallabrida
Tags: brasilditadura militarprisao
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