USO DA CLOROQUINA

Carlos Bolsonaro reage à CPI da Covid e divulga fake news sobre Flávio Dino

Vereador publicou vídeo desatualizado de governador do Maranhão e afirmou que Dino era favorável à hidroxicloroquina

Brasil de Fato | Imperatriz (MA) |

Ouça o áudio:

Carlos Bolsonaro é um dos alvos da CPMI das Fake News, que poderá trocar informações com a CPI da Covid - Agência Brasil

Após a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 declarar que seguirá o roteiro da produção e da distribuição da cloroquina, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) divulgou trecho de um vídeo do governador Flávio Dino (PCdoB) com um posicionamento de 2020, em que ele afirma que “a cloroquina pode ser receitada pelos médicos”, assim como azitromicina e ivermectina.

No vídeo de 2020, divulgado na tarde da última quinta-feira (22), o vereador questiona se governador também será investigado pela CPI da Covid.

O vídeo é do início da pandemia e revela o posicionamento reforçado pelo governador até então: de que a decisão de medicamentos a serem adotados devem ser decisões médicas, com base em estudos científicos.

“Há um falso debate sobre cloroquina. Esse não é um debate político, essa é uma questão técnica, o que não se pode e o que é errado e não fazemos, é estimular a automedicação”, declara Dino no mesmo período em suas redes sociais.

Em outro momento de 2020, o governador Flávio Dino critica a obsessão de Bolsonaro pela cloroquina, e a falta de ações de prevenção e combate à covid-19 e seus impactos sociais e econômicos.

“Não discuto se remédio A, B ou C produz ou não efeito, porque não me cabe. Eu não sou médico, ele tão pouco é. O que cabe a nós, líderes políticos, é cuidar das políticas públicas. Quem cuida de remédio, é médico, que administra, que prescreve”, declara Dino em vídeo.

 

Sobre a obsessão de Bolsonaro com a cloroquina e as suas responsabilidades com o coronavírus e a crise econômica.

Posted by Flávio Dino on Saturday, July 18, 2020

Reação

A publicação de Carlos Bolsonaro é uma reação à tentativa de integrantes da CPI da Covid de demonstrar que o governo federal fez uma aposta intencional de produção, estímulo e divulgação do uso da medicação, expondo a população ao risco.

Entre os documentos anexados à investigação da CPI está um ofício enviado pelo Ministério da Saúde à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em 29 de junho de 2020, pedindo que a instituição desse ampla divulgação ao tratamento com cloroquina e hidroxicloroquina.

O primeiro foco da investigação está relacionada à compra de quatro milhões de comprimidos de cloroquina antes de qualquer comprovação científica, além da recusa de compra 70 milhões de doses da vacina produzida pela Pfizer, que seriam entregues em janeiro de 2020.

Entre as investigações, estão também viagem de uma comitiva brasileira a Israel para negociar uma possível aquisição do spray nasal EXO-CD24, que segundo ele, poderia ajudar no combate à covid-19. Entre os integrantes da comitiva estava o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), irmão de Carlos Bolsonaro.

Fase inicial

Os medicamentos foram adotados por alguns estados na fase inicial da pandemia. Ao longo do tempo, a partir de análises clínicas e científicas, uma série de medicamentos antes adotados foram declarados ineficazes no tratamento contra a covid- 19, a exemplo da cloroquina e da ivermectina.

A ineficácia dos medicamentos é respaldada pelas principais autoridades médicas do mundo, a exemplo da Organização Mundial de Saúde (OMS), do Centro de Controle e Prevenções de Doenças (CDC Americano), da Agência Europeia de Medicamentos, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Apesar dos estudos, o Brasil segue uma tendência estimulada pelos próprios representantes do governo federal, que encorajam o uso dos medicamentos por médicos e a automedicação por parte da população.


Desde o início da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro é considerado o maior "garoto propaganda" do medicamento / Carolina Antunes/PR

Nebulização de cloroquina

A mais nova prática sob investigação é a nebulização de cloroquina sem autorização, que pode ter levado à morte cerca de oito pacientes no Brasil. Médicos que fizeram a experiência serão ouvidos pela Comissão de Acompanhamento de Ações Contra a Covid-19, no Senado Federal.

:: Leia mais: No RS, três pacientes morrem após tratamento experimental com cloroquina ::

Apesar de experimental, sem comprovação científica, e após divulgação de estudos que comprovam a ineficácia do medicamento, a prática foi recomendada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro por diversas vezes.

Em uma de suas lives, publicada em 11 de fevereiro de 2021, ele comemora: “Os relatos são que em poucas horas, uma pessoa que receba nebulização de hidroxicloroquina se sentiria aliviada e partiria para a cura”.

Edição: Poliana Dallabrida