Sem casa

Ocupação a 1 km do Palácio do Planalto sofre quarta ação de despejo em plena pandemia

Terreno ao lado do CCBB, na Asa Sul, está abandonado há quatro décadas; 16 moradias improvisadas foram destruídas

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Escola do Cerrado, construída por voluntários no terreno durante a pandemia, foi derrubada na última ação de despejo - Nayá Tawane

As 34 famílias sem-teto que ocupam um terreno anexo ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília (DF), sofreram a quarta ação de despejo na manhã desta segunda-feira (26).

Dezesseis barracas montadas sobre o terreno, que fica a cerca de 1 km do Palácio do Planalto, foram destruídas por tratores, acompanhados da Tropa de Choque. 

“Estamos firmes, fortes, esperando a resposta da Codhab [Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal]”, relata Ivânia Sousa, catadora de materiais recicláveis, que gravou parte da operação.

No início do mês, 38 famílias haviam sido despejadas no mesmo terreno, em uma ação descrita como “crime humanitário” pela advogada popular Nádia Nádila, que acompanhou o processo.

A Escola do Cerrado, espaço criado por voluntários durante a pandemia para garantir o acesso à educação das 20 crianças que vivem no local, foi destruída na última remoção.

Contexto

A ocupação fica na Asa Sul, região alvo de especulação imobiliária. O terreno está abandonado há pelo menos 40 anos e é reivindicado pelo governo do Distrito Federal. 

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Segundo o deputado distrital Fabio Felix, em entrevista recente ao Brasil de Fato, as medidas oferecidas pelo governo de Ibaneis Rocha (MDB), como auxílio aluguel ou abrigos, são ineficazes. 

"Não adianta enfiar as pessoas em uma unidade de acolhimento que fica do outro lado da cidade, a 50 km daqui, achando que as famílias vão topar. Elas precisam de benefícios, serem incluídas na lista da Codhab de habitação popular. É o mínimo que poderia ser feito nesse momento e que não está sendo feito", afirmou.

O Governo do Distrito Federal (GDF) informou que a retirada das famílias se ampara na suspensão da liminar que proibia remoções no local.

As famílias da ocupação, ainda segundo o GDF, são acompanhadas pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e recebem o Bolsa Família e estariam sendo incluídas na lista de habitação da Codhab.

No momento em que a reportagem foi finalizada, os agentes da Secretaria de Estado de Proteção da Ordem Urbanística do Distrito Federal (DF Legal) haviam interrompido a ação para a pausa do almoço. Eles informaram às famílias que todos os pertences devem ser retirados até as 14 horas, quando o despejo será retomado.

Edição: Poliana Dallabrida