Direitos indígenas

Soja avança em reserva no Paraná, e indígenas protestam por devolução do território

Cerca de mil hectares da Reserva Indígena Mangueirinha, no oeste do estado, foram invadidas pelo agronegócio

Francisco Beltrão (PR) |

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"Onde estão os pinheiros que estavam aqui?", questionam os indígenas da reserva, considerada uma das maiores áreas de preservação de araucárias nativas do mundo - Isadora Stentzler

Cerca de 100 indígenas da Reserva Indígena de Mangueirinha, no oeste do Paraná, se articulam contra a invasão de produtores de soja e milho em seu território. Pelo menos mil hectares da reserva já foram tomados, afirmam liderenças indígenas locais.

Segundo o cacique João Santos, a comunidade espera desde 2010 que a Fundação Nacional do Índio (Funai) intervenha pela devolução das terras, cumprindo a demarcação.


Cacique João Santos / Isadora Stentzler

A reserva indígena de Mangueirinha tem 16 mil hectares e abriga cerca de 789 famílias, entre indíenas da etnia Kaingang e Guarani. 

As terras foram demarcadas no início do século passado. Devido ao chamado acordo de Lupion - em referência ao então governador do Paraná, Moisés Lupion - assinado em 1949, com aval do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), os indígenas perderam parte das suas terras para a exploração de madeira. O líder indígena Ângelo Kretã encabeçou a luta pela retomada do território, mas morreu em uma emboscada, em 1980.

Sem parte do território demarcado e regularizado, a comunidade ficou refém da ação de fazendeiros do entorno, assistindo, desde o final da década de 1990, à invasão do espaço.

Hoje, o território invadido fica cerca de 10 quilômetros para dentro da Reserva, em um espaço conhecido como Canhada Fundo. Ele também recebeu uma cerca que, segundo o cacique João Santos, foi construída pelos próprios fazendeiros.


Cerca teria sido colocado por fazendeiros / Isadora Stentzler

“Não queremos tirar nada de ninguém, só queremos o que é nosso por direito”, defende o cacique.

“A terra garante a nossa sobrevivência física e principalmente a cultural. Precisamos garantir essas sobrevivências para nossas crianças. Tantos líderes indígenas foram mortos lutando pelo seu território. Não queremos mais que nenhuma gota de sangue indígena seja derramado, por isso precisamos que a Justiça nos ouça, nos respeite, e cumpra com a demarcação de nossa terra, respeitando a Constituição Federal”, completa.

Outro problema citado pelo cacique, além da invasão do território para plantio de soja e milho, é a entrada de fazendeiros na aldeia para caçar.

“Vamos lutar na força”

Na última segunda-feira (19), os indígenas foram até as terras invadidas e realizaram danças em protesto. Um grupo de adolescentes e jovens indígenas também escreveu em folhas: "Onde estão os pinheiros que estavam aqui?", criticando o desmatamento da área.

“Tudo aqui era pinheirinho. Esse agricultor arrancou tudo e transformou em lavoura. É um território nosso. Não estamos requerendo o que não é nosso. Pedimos para o pessoal da Funai, junto do Ministério Público Federal, demarcar já a nossa terra. Se não houver uma contrapartida da Justiça, nós vamos lutar na força”, diz o cacique.

Procurada, a Funai não se manifestou até o fechamento desta reportagem. 

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lia Bianchini