Até quando?

Secretária de Saúde chora ao relatar racismo a vereadores em MT: "Cor não me define"

Ozenira Félix diz que sofre "chuva" de manifestações discriminatórias em suas redes desde que assumiu cargo em Cuiabá

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Secretária assumiu cargo em outubro de 2020, em plena pandemia - Luiz Alves / Prefeitura de Cuiabá

A secretária de saúde de Cuiabá (MT), Ozenira Félix, chorou durante sessão da Câmara Municipal, nesta terça-feira (27), ao afirmar que vem sofrendo injúrias raciais desde que assumiu o cargo, em outubro de 2020.

Episódios de racismo são frequentes, mas assumiram outra proporção, na interpretação dela, devido à importância do cargo na Secretaria.

"Temos diversas situações que envolvem [racismo] no dia a dia, e eu ainda assumi [o cargo] em um momento de pandemia. Tem a questão de assumir uma função dessa com o impacto, e estou contando a minha história por causa disso, pelo impacto de eu ser negra. Esses dias eu tenho sentido o que não senti na minha carreira inteira", relatou.

Ozenira deixou claro que não estava se referindo aos vereadores, mas ao conjunto da população, devido à "chuva" de manifestações racistas que observou em suas redes sociais.

::Coluna | A luta contra o racismo no Brasil é uma luta de refundação nacional::

"Tenho que fazer esse desabafo não para vocês, mas para a população: não se define uma pessoa pela cor. Minha história muito maior que isso", completou.

Mato Grosso lidera o ranking de registros de casos de injúria racial proporcional ao número de habitantes, segundo a 14° edição do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Entre 2018 e 2019, houve um aumento de 15% nas ocorrências.

Essa é a segunda vez no ano que Félix vem a público declarar que sofreu racismo. A primeira foi em janeiro, quando lembrou um episódio ocorrido durante o governo Blairo Maggi (PP). 

“Desde quando preto fala com o governador?”, ela disse ter ouvido da boca de um prefeito do interior do estado, quando atuava na direção da Secretaria Estadual de Saúde e aguardava para participar de uma reunião com Maggi.

Graduada em Letras, Ozenira já trabalhou como professora de língua portuguesa, com habilitação em língua inglesa, e tem especialização em Teorias de Linguagem e em Didática Geral.

A secretária também tem pós-graduação em administração pública pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Antes de assumir o cargo na Prefeitura, atuou como superintendente-adjunta de Gestão de Pessoas da Secretaria de Administração, superintendente-adjunta de Gestão de Pessoas da Secretaria de Saúde, diretora da Escola de Saúde Pública de Mato Grosso, servidora de carreira de Gestor Governamental de Mato Grosso e secretária-adjunta de Gestão de Pessoas da Secretaria Estadual de Administração.

Brasil de Fato aguarda retorno de Ozenira Félix para obter mais informações sobre os crimes de injúria racial relatados. A reportagem tentou localizar as mensagens nas redes sociais da secretária, mas o acesso está restrito a amigos.

A participação da secretária na sessão desta terça está relacionada a uma denúncia feita pelos vereadores Diego Guimarães e Maysa Leão, ambos do Cidadania, na semana passada. Os dois alegam ter encontrado medicamentos vencidos no Centro de Distribuição de Medicamentos e Insumos (CDMIC) do município e acionaram a Delegacia de Combate a Corrupção e o Ministério Público para apurar o caso.

Enquanto a investigação avança, Ozenira foi chamada para prestar esclarecimentos. 

Edição: Vinícius Segalla