Paraná

Solidariedade

Um movimento em defesa da vida: 600 toneladas de alimentos doados pelo MST do PR

Foram cerca de 120 ações de solidariedade desde abril de 2020

Curitiba (PR) |
Em todo o Brasil, mais de quatro mil toneladas de alimentos e 700 mil marmitas foram doadas - Foto: Lia Bianchini

Durante pouco mais de um ano, no período de abril de 2020 ao mesmo mês de 2021, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou a organização da doação de mais de 600 toneladas de alimentos, somente no estado do Paraná.

Arroz, feijão, milho, batata, leite, abóbora, couve, repolho, pães e macarrão. Estas são algumas das mais de 80 variedades de alimentos doadas pelo movimento, principalmente para famílias em situação de vulnerabilidade social das regiões urbanas e também para hospitais públicos e santas casas, associações de moradores e catadores, lares de idosos e comunidades indígenas.

“Nosso movimento preza pela questão de preservar a vida, e essa tem que ser a nossa principal questão neste momento e em abril do ano passado não foi diferente, chegamos na conclusão que devíamos fazer algo para o enfrentamento da pandemia”, diz José Damasceno, integrante da direção estadual do MST, assentado na comunidade Dorcelina Folador, em Arapongas, norte do PR.


Ações de solidariedade acontecem desde o início da pandemia / Francisco Monnerat Ferreira

Foram cerca de 120 ações de solidariedade que partiram de 60 acampamentos, 130 assentamentos, 20 unidades de produção e comunidades de agricultura familiar, cooperativas e Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STRs). Áreas localizadas em mais de 80 municípios e de todas as regiões do estado.

Também foram produzidas e distribuídas em Curitiba e Região Metropolitana 53 mil marmitas feitas pelo coletivo Marmitas da Terra  e mil produzidas em Londrina. Em todo o Brasil, mais de quatro mil toneladas de alimentos e 700 mil marmitas foram doadas.

Sobre a importância de ser solidário nesse momento de crise sanitária e econômica, Damasceno diz que “a solidariedade tem um sentido profundo de valores, de valor humano. Sem a solidariedade a humanidade desaparece, não fisicamente, mas em valores”.

O mês de abril é muito simbólico para o movimento. No dia 17 deste mês, no ano de 1996, ocorreu o massacre de Eldorado dos Carajás. Foi durante o Abril Vermelho - atos que recordam o massacre e a luta pela terra - de 2020 que o movimento lançou a campanha de solidariedade.


Ações de solidariedade partiram de 60 acampamentos e 130 assentamentos / Breno Thomé Ortega

Terras repartidas que geram solidariedade

O acampamento Resistência Camponesa, localizado em Cascavel, com 19 anos de ocupação e produção de alimentos, passou a sofrer uma ameaça de despejo em 2019, antes da pandemia. De dezembro daquele ano a março de 2020, as famílias acampadas realizaram uma vigília diária para protestar contra o despejo.

"Quando começou a pandemia, tivemos que suspender a vigília. Uma das formas que encontramos para contribuir com a sociedade e também denunciar o despejo foram com as doações”, conta Ângela Lisboa Gonçalves, coordenadora do acampamento.

Para José Damasceno, as famílias assentadas e acampadas, que trabalham com a agricultura camponesa, têm a vantagem de poder produzir e também compartilhar alimentos. “A 'camponesada' tem por cultura sempre produzir a mais. O pessoal não está dividindo o que sobra, está dividindo o que tem”, diz Damasceno.


"Sem a solidariedade a humanidade desaparece", diz dirigente do MST / Igor de Nadai/MST-PR

De acordo com dados de um levantamento da agência de classificação de risco Austin Rating, o Brasil tem 14,5% da população desempregada, são mais de 30 milhões de brasileiros. Esse número se soma ao dado de que 19 milhões de pessoas passaram fome nos meses finais de 2020, levantado pelo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).

“Podemos dizer com muita segurança, quem tem acesso à terra tem as condições de produzir alimento. Então a crise econômica não atinge com tanta contundência os acampados e assentados que estão produzindo porque eles têm a produção de alimento”, explica Damasceno, complementando que com a desconcentração e a democratização da terra é possível gerar emprego, renda e alimento.

O Resistência Camponesa é uma das áreas do MST em que existe uma horta comunitária, onde toda a comunidade trabalha com objetivo de destinar a produção para doação. No total, estão organizadas no estado 17 hortas com esta finalidade.


Desconcentração e democratização da terra são caminhos para geração de emprego, renda e alimento / Breno Thomé Ortega

Serlei Da Silva Lima, acampada no Resistência Camponesa, diz que “nesse momento de pandemia nós entendemos que precisamos ser solidários com a alimentação, dividindo aquilo que produzimos, para que outras famílias tenham alimento em sua mesa”.

As 50 famílias acampadas no oeste do Paraná estão desde o início da pandemia com o foco no aumento da produção, para que se garanta o auto sustento, a geração de renda e para que seja possível continuar ajudando famílias que passam necessidade nas áreas urbanas.

Edição: Lia Bianchini