CULTURA POPULAR

Velho Chico: o rio que é um mar de lendas, tradições e histórias

Escritor lança livro e cria formas de passear por aquele que atravessa cinco estados e produz lendas há gerações

Ouça o áudio:

A lenda do Nego D'Água é uma das muitas do Velho Chico. E assusta e encanta pescadores e lavadoras de roupas que vivem do rio. - Hallina Beltrão
Debaixo daquela pedra existe uma serpente amarrada por apenas três fios do cabelo de Nossa Senhora

A história da Serpente da Ilha do Fogo é uma entre as muitas que fazem parte do universo encantado do Rio São Francisco. Passando por cinco estados brasileiros, o Velho Chico acumula um folclore rico, nascido da vivência e da imaginação dos ribeirinhos.

“Quando eu era criança, minha avó contava uma lenda pra mim que eu adorava muito: a lenda da cobra gigante”, conta o escritor e professor de Ciências, Bruno Alexandre. “Ela dizia que, debaixo daquela pedra existe uma serpente gigante. Enorme. Que está amarrada lá debaixo, por apenas três fios de cabelo de Nossa Senhora. Um dia essa cobra vai se soltar e vai engolir Petrolina, Juazeiro, e pra piorar minha avó dizia bem assim: que existia apenas… Dois fios já tinham torado e só tinha um segurando essa cobra gigante”, completa.


O pescador no Rio Encantado: uma ilustração sobre as lendas que povoam o imaginário dos povos do São Francisco / Hallina Beltrão

Até mesmo a origem do rio tem explicação em uma lenda: ele teria nascido das lágrimas de uma mulher indígena saudosa do noivo, que saiu para uma batalha e jamais retornou. Outra história, que assusta muita gente, é a do Nego D’Água. Ele mora nas profundezas do rio e vira o barco de quem tenta pescar durante a piracema.

:: Escritor lança livro sobre lendas do São Francisco para valorizar cultura popular nordestina ::

Eles existem!

“Nós conversamos com muitos pescadores, lavadeiras… Nós conversamos com toda essa gente que vive no rio, que vive na beira do rio, que é quase um peixe de viver ali pertinho daquela água. Eles narram os mistérios, as fantasias que perpassam, claro, o seu imaginário. Então foi muito comum ouvir de cada pescador as histórias bem parecidas, que eles viam mesmo o Nego D’Água”, diz a escritora e professora de Literatura, Socorro Lacerda.

Você pergunta: você viu? Vi sim. E nós vemos mesmo. Essas histórias, essas fantasias, elas nos alimentam, elas passam pelo nosso coração. Então nós vemos

Valorização da cultura popular

Apesar de toda essa riqueza o folclore da região é pouco valorizado e conhecido no país. Isso foi o que incentivou o professor Bruno Alexandre a compartilhar as estórias que a avó contava. Ele começou na internet, com um vídeo que passou de 1 milhão de visualizações. A partir daí, a história virou livro.


Bruno passou a utilizar a rede social Tik Tok como ferramenta didática e vídeos repercutiram com histórias e lendas do Velho Chico / Divulgação

Eu queria trazer para Petrolina, para as crianças, esse senso de pertencimento. De ler um livro e se imaginar na história. É na minha cidade, então a lenda é aqui, a magia acontece aqui

No trabalho de valorização das histórias e lendas locais, o professor compara: “eu pensei: eu queria morar em Londres quando eu li Harry Potter. Agora eu quero morar em Petrolina, lá tem essa cobra gigante, lá tem magia. Então eu quero tornar Petrolina conhecida pelo mundo, pro universo, eu quero que as pessoas leiam o livro e se sintam aqui, nesse mundo mágico que é o sertão”.

 

 

Edição: Morillo Carvalho e Douglas Matos