Começou, na última semana, a pré-venda do livro "Malleus: relatos de tortura, injustiça e erro judiciário", de Celina e Beatriz Abagge, que será lançado oficialmente neste mês de maio. Segundo informações da editora, a obra trará revelações de Celina e Beatriz Abagge – mãe e filha – sobre as torturas que afirmam ter sofrido para confessarem um crime que dizem não ter cometido.
O caso, que ficou famoso com o nome de "as bruxas de Guaratuba", aconteceu em 1992. As duas autoras e mais cinco pessoas foram acusadas de sequestrarem e assassinarem o menino Evandro Ramos Caetano, na cidade do litoral paranaense. Beatriz e Celina afirmam que, à época, foram torturadas por membros da Polícia Militar, e posteriormente presas, por cinco anos e nove meses, até o julgamento em 1998, considerado o mais longo da história brasileira, que as inocentou. Em 2020, o jornalista Ivan Mizanzuk teve acesso a fitas – sem cortes – das confissões feitas sob tortura.
Em ‘’Malleus’’, as acusadas contarão sua versão da história. ''A tortura que eu sofri nunca quis contar, porque foi tão terrível o que fizeram com a Beatriz, que o que ocorreu comigo minha família não precisava saber. O meu esposo já estava sabendo da tortura da filha dele, e por esse motivo eu nunca contei para ninguém'', relata Celina Abagge.
O nome da obra é uma alusão a um manual usado durante a Idade Média denominado Malleus Maleficarum, ou “Martelo das Bruxas”, em tradução livre do latim, escrito pelos dominicanos alemães Heinrich Kraemer e James Sprenger. O escrito tornou-se um guia para inquisidores do século XV que ensinava técnicas de tortura contra mulheres acusadas de “bruxaria” pela Igreja Católica.