Rio de Janeiro

POBREZA

Cidade de Deus, no Rio, tem desemprego três vezes maior que taxa estadual

Número de moradores em condição de extrema pobreza dobrou durante pandemia, aponta pesquisa

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Cidade de Deus
Relatório apontou que doações de ONGs locais e até de familiares são insuficientes para atender a moradores - Mauro Pimentel/AFP

O Rio de Janeiro tem um dos índices mais altos de desemprego no país, com taxa de desocupação de 17,4%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas alguns bairros periféricos da capital fluminense escondem dados ainda piores no contexto de pandemia da covid-19 e de falta de políticas públicas de geração de emprego e renda.

Um dossiê do Coletivo de Pesquisa Construindo Juntos, com apoio de universidades estadunidenses, mostra que 52% dos moradores da Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, perderam o emprego. O índice é três vezes maior que a taxa de desemprego no estado do Rio.

Segundo o levantamento, mulheres e pessoas pretas e pardas sofreram mais perda de trabalho que homens e pessoas brancas. Nos questionários, cujo resultado está sendo publicado no mês de maio, 83% dos moradores indicaram que estão com dificuldade para pagar suas contas mensais.

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A pesquisa informa, também, que o número de pessoas em condições de extrema pobreza quase dobrou entre março de 2020 e março de 2021, passando de 12% a 20%. Um total de 63% dos entrevistados relataram situação de vulnerabilidade, pobreza ou extrema pobreza, um aumento de 15% desde o começo da pandemia.

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O contexto atual produziu um aumento significativo de pessoas na classe baixa (pessoas com renda mensal abaixo de R$ 291). Os moradores também informaram que a maior parte da ajuda não veio do governo federal, mas de organizações não governamentais (ONGs) e grupos sociais (46%), igrejas e comunidades religiosas (18%), amigos e familiares (18%) e agência pública (apenas 3%).

Agravante

Enquanto a renda da população diminuiu significativamente, o custo das necessidades básicas aumentou. Segundo o IBGE, a alta de dos alimentos nos supermercados foi em média 19%. A cesta básica consome 58% do salário-mínimo de R$ 1.100,00, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

O Coletivo Construindo Juntos alerta, ainda, para a vulnerabilidade da população da Cidade de Deus em relação à inconstância e imprevisibilidade das doações. "Em uma comunidade carente, os próprios familiares e ONGs locais muitas vezes não têm recursos suficientes para atender às demandas dos moradores", aponta o relatório.

Edição: Eduardo Miranda