OBITUÁRIO

Ex-dirigente da guerrilha FARC-EP, Jesús Santrich é morto pelo exército colombiano

Ex-guerrilheiro teria caído numa emboscada na fronteira entre Colômbia e Venezuela

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Jesús Santrich, morto em uma emboscada do exército colombiano na segunda-feira (17), foi um dos principais dirigentes da FARC-EP - El confidencial

A Segunda Marquetalia, divisão das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército do Povo (FARC-EP), que retomou as armas em 2019, confirmou a morte de Jesús Santrich, ex-comandante da guerrilha.

Seuxis Paucias Hernández Solarte foi vítima de uma emboscada do exército colombiano na fronteira com a Venezuela, região conhecida como Serranía del Perijá, na última segunda-feira (17). No entanto, seu falecimento só foi confirmado na noite de terça-feira (18). 

Santrich estaria viajando em uma caminhonete que foi fuzilada pelos militares. A localização já pertence ao estado venezuelano de Zulia, tratando-se de uma violação à soberania do território do país vizinho por parte da Colômbia.

O corpo teria sido imediatamente levado ao lado colombiano em um helicóptero, segundo versão dos insurgentes.

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Na última terça-feira (18), o ministro de Defesa da Colômbia Diego Molano havia confirmado a morte de Santrich, depois de enfrentamentos na Venezuela, mas afirmou que "a informação ainda estava sendo verificada". 

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A primeira versão das autoridades e meios locais colombianos era de que o ex-guerrilheiro teria sido abatido pelas forças de segurança venezuelanas.

Em um comunicado, os guerrilheiros colombianos afirmam que o assassinato foi uma ordem direta do presidente Iván Duque e que o cadáver de Santrich foi mutilado, perdendo um dedo da mão esquerda.

O governo venezuelano não se manifestou sobre o caso.


Santrich foi um dos comandantes da Segunda Marquetalia, cisão das FARC que retomou a luta armada em 2019 / Reprodução

História

Seuxis Paucias Hernández Solarte, mais conhecido como Jesús Santrich, tinha 53 anos e era um dos principais comandantes das FARC-EP.

Participou da delegação que negociou os Acordos de Paz, em Havana, em 2016. No entanto, três anos mais tarde, decidiu voltar para a luta armada, liderando o grupo Segunda Marquetalia, junto a Iván Marquez, outro dirigente e ex-congressista do partido FARC. 

A decisão aconteceu logo depois de vencer um julgamento e a prisão preventiva por acusações de supostos vínculos com o narcotráfico. 

Leia também: Por que parte das Farc decidiu voltar à luta armada apesar de acordo de paz?

Ao voltar à clandestinidade, em setembro de 2019 a Jurisdição Especial para a Paz (JEP) o declarou como desertor armado, ordenando sua captura e detenção. 

"Santrich caiu livre, livre como queria. Sonhando a nova Colômbia em paz completa, com justiça social, democracia e vida digna para sua gente", afirmou a cisão da FARC-EP em comunicado.


Colombianos realizaram uma série de manifestações pela liberdade de Jesús Santrich, quando esteve detido por supostas acusações de narcotráfico em 2018 / Telesur

Santrich era sociólogo, formado pela Universidade do Atlântico. Iniciou sua vida política no movimento estudantil, entrando para a Juventude do Partido Comunista da Colômbia (JUCO), mais tarde participou da União Patriótica (UP) e em 1991 se alistou para a 19ª Frente da FARC-EP. 

Desde 2006 era membro do Estado Maior da guerrilha. Seu codinome era uma homenagem a um amigo assassinado pelo Estado colombiano no período de militância na UP.

Participou de duas mesas de diálogo de paz, primeiro com o governo de Andrés Pastrana, nos anos 90, e depois com o ex-presidente Juan Manuel Santos, em 2016.

Com a mudança de guerrilha para partido, Santrich foi eleito membro da direção nacional da Força Alternativa Revolucionária do Comum (FARC - atual Comunes), em 2017, e eleito congressista em 2018.

No entanto, não pode exercer sua legislatura. No dia 9 de abril de 2018 recebeu a ordem de detenção emitida pela Interpol por acusações dos Estados Unidos de supostos vínculos com tráfico internacional de drogas.

Washington pediu a extradição de Santrich, quem então decidiu permanecer 41 dias em greve de fome para exigir seus direitos de ser investigado e processado em território colombiano.

Jesús Santrich venceu a batalha judicial, com a decisão da Corte Suprema de liberá-lo da prisão e autorizá-lo a assumir o cargo de congressista em junho de 2019. No entanto, duas semanas depois de deixar o cárcere, Santrich fugiu e, em agosto, anunciou a criação do novo grupo guerrilheiro. 

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No mesmo comunicado divulgado na noite de terça-feira (18), a Segunda Marquetalia ainda convoca o povo colombiano a homenagear Santrich mantendo os protestos da greve nacional "para derrotar esse regime que nos está espremendo até a alma".

"Fazemos um chamado a seguir lutando até conquistar um novo governo do povo e para o povo", diz o comunicado.

Edição: Leandro Melito