CoronaVac

Últimas da vacina: Sinovac enviará mil litros a menos de princípio ativo ao Butantan

A quantidade é suficiente para produzir cinco milhões de doses, dois milhões a menos do que o previsto inicialmente

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Dimas Covas e João Doria vêm relacionando a escassez de insumos ao posicionamento do governo federal quanto a China - Governo do Estado de São Paulo

Em vez de quatro mil litros de ingrediente farmacêutico ativo (IFA), o Instituto Butantan irá receber, no dia 26 de maio, três mil litros do insumo necessário para produzir o imunizante CoronaVac do laboratório chinês Sinovac. A nova quantidade é suficiente para fabricar 5 milhões de doses, cerca de 2 milhões a menos. 

A informação foi dada pelo diretor do Butantan, Dimas Covas, em coletiva de imprensa. “Com isso, essa expectativa de entrega de 12 milhões para o Ministério da Saúde não se cumprirá em maio e aguardamos a próxima remessa de matéria-prima”, afirmou na ocasião. Ainda assim, Covas afirmou que o Butantan conseguirá cumprir a entrega de 54 milhões de doses até o fim de setembro.

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Desde o primeiro envio, ainda em janeiro deste ano, o Butantan já entregou cerca de 42 milhões de doses ao Plano Nacional de Imunização (PNI). No dia 14 de maio, o instituto, após entregar 1,1 milhão de doses ao PNI, suspendeu completamente a produção do imunizante CoronaVac, sem data para retomá-la. 

Tanto Covas quanto o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), vêm relacionando a escassez de insumos ao posicionamento do governo federal quanto à China. Covas chegou a afirmar na primeira semana de maio que o atraso não está relacionado à produção de insumo por parte do laboratório chinês Sinovac, mas à demora na autorização de exportação pelo governo chinês, o que pode envolver, portanto, fatores diplomáticos. 

Um dia antes, Bolsonaro relacionou o novo coronavírus, que surgiu primeiramente em Wuhan, na China, a uma possível “guerra bacteriológica”. "É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu o seu PIB? Não vou dizer para vocês", declarou o presidente. Na mesma linha, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a covid-19 foi criada no país asiático.

Questionados sobre o assunto na CPI da Covid, o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo afirmaram aos senadores que o atraso no recebimento de IFA nada tem a ver com o posicionamento do governo federal e de seus aliados. 

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Doses fora do prazo 

Cerca de 1,9 milhão de pessoas receberam a segunda dose de imunizante fora do prazo estabelecido pela cobertura vacinal. O número representa aproximadamente 14% de todas as pessoas que já receberam duas doses de Coronavac ou Astrazeneca até 6 de maio. Do total, 1,7 milhão recebeu a segunda dose depois do prazo, e o restante, antes, segundo um levantamento feito pelo jornal Folha de S. Paulo.

Lembrando a taxa de eficácia divulgada pelos laboratórios de tais imunizantes só se realiza se respeitado o intervalo entre as duas doses. Não há estudos, nesse sentido, de eficácia para outros prazos. 

Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que produz a vacina em parceria com o laboratório britânico AstraZeneca e a Universidade de Oxford, a vacina protege em 79% contra casos sintomáticos e em 100% contra casos graves e hospitalizações. Deve ser aplicada em duas doses, com um intervalo de três meses entre ambas. 

Já aqueles que tomam a vacina do Instituto Butantan têm 50,38% menos chances de adoecer caso sejam infectados pelo vírus, 78% contra casos leves e 100% de eficácia contra casos graves. O imunizante deve ser aplicado em duas doses, dentro de um intervalo de 14 a 28 dias entre ambas. Segundo o governo do estado de São Paulo, as prefeituras podem adotar prazos diferentes para as aplicações, mas sempre dentro dos limites estabelecidos.

Imunizante Convidecia 

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebeu uma solicitação para o uso emergencial da vacina contra a covid-19 Convidecia, do laboratório chinês CanSino, nesta quarta-feira (19). “No momento, está sendo feita a triagem para verificar se todas as informações para a avaliação foram devidamente apresentadas”, afirmou a agência em nota. Agora, a Anvisa tem sete dias úteis para se manifestar sobre o pedido. 

O imunizante, desenvolvido em parceria com a Academia de Ciências Médicas Militares da China, é produzido a partir de um vetor viral. Isso significa que um vírus diferente do Sars-CoV-2, denominado cientificamente como adenovírus, é enfraquecido e utilizado para carregar o material genético do novo coronavírus para dentro do corpo humano. Nas células, o adenovírus começa a estimular o sistema imunológico, que produz anticorpos.

Antes do pedido do laboratório chegar à Anvisa, Yang Wanming, o embaixador da China no Brasil, trouxe a informação em suas redes sociais. "A vacina Cansino, eficaz com só uma dose, está sendo aplicada na China. O laboratório chinês Cansino já entrou em contato com o Ministério da Saúde brasileiro e apresentou o pedido à Anvisa para autorização de uso emergencial no Brasil. A China está comprometida em continuar e ampliar a parceria de vacinas com o Brasil.”

Vacinação e pandemia no Brasil 

Até às 20h desta quarta-feira (19), 40.365.246 de pessoas receberam a primeira dose de imunizante, segundo o consórcio de veículos de imprensa. O número representa 19,06%. Já a segunda dose foi aplicada em 19.909.403 pessoas: 9,40% da população. No total, foram aplicadas 60.274.649 doses.

Entre os 26 países que já vacinaram mais de 5 milhões de pessoas com duas doses de imunizante contra o novo coronavírus e que mais aplicam por dia doses de vacina a cada 100 pessoas, o Brasil está em 20º lugar, de acordo com a plataforma Our World In Data. Porém, dentre os mesmos 26 países, aqueles que mais registram mortes por covid-19 diariamente, a cada um milhão de pessoas, o Brasil sobe para 5º lugar.

Segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o Brasil chegou a 441.461 vítimas fatais da infecção causada pelo novo coronavírus desde o início da pandemia, após registrar, até às 18h desta quarta, 2.641 óbitos em 24 horas. No mesmo período, foram 79.219 novos casos de covid-19, totalizando 15.812.055 desde março do ano passado.

Edição: Vinícius Segalla