Ministério paralelo

Bolsonaro pediu a Arthur Weintraub relatório em defesa da cloroquina contra covid

"A cloroquina funciona!", disse o assessor após "ler alguns estudos"; "Vamos baixar tributo", respondeu o presidente

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
"A cloroquina está funcionando", disse o professor de Direito Previdenciário Arthur Weintraub a Jair Bolsonaro após "ler estudos na internet" - Reprodução/Twitter

Uma série de vídeos publicada pelo ex-assessor especial da Presidência da República e atual representante do Brasil na Organização dos Estados Americanos (OEA), Arthur Weintraub, mostra que ele recebeu uma incumbência do presidente Jair Bolsonaro, de "estudar a cloroquina" como medicamento para tratar "precocemente" a contaminação por covid-19.

Weintraub é professor de Direito Previdenciário, não tem qualquer formação na área da saúde, medicina ou epidemiologia. Ainda assim, o assessor aceitou a missão e, "depois de ler uns estudos na internet", chegou à conclusão: "A cloroquina tá funcionando!" (para o tratamento da covid). Logo após a "descoberta", Arthur Weintraub "mandou no zap" do presidente da República os estudos e suas conclusões. Após a leitura, Bolsonaro teria dito: "Tô tirando o tributo da cloroquina, da azitromicina, do zinco e da Vitamina D. Vamos jogar isso daí pras pessoas!"

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Tudo isso foi dito pelo próprio Arthur Weintraub a um dos filhos do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), durante uma live em um canal do parlamentar.

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O portal Metrópoles publicou, no último sábado (22), uma reportagem sobre o tema, em que aponta que Weintraub comandou uma espécie de "ministério da Saúde paralelo" que teria municiado Bolsonaro com relatórios e diretrizes para coordenar o enfrentamento da pandemia no Brasil. Veja abaixo o vídeo com essas e outras declarações do advogado que confirmam as informações divulgadas pelo veículo.

Assessor defende mudança na bula

A reportagem e os vídeos de Weintraub mostram também o professor de Direito Previdenciário defendendo a conveniência de alterar a bula de medicamentos como a cloroquina para incluir sua suposta função de tratamento à covid-19. 

O então assessor do presidente, em um dos trechos que também pode ser visto acima, lamenta junto a Eduardo Bolsonaro que os profissionais da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) rejeitaram a ideia de alterar a bula. Em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, no dia 11 deste mês, o presidente da Anvisa, Barra Torres, confirmou que recebeu pedido para alterar a bula do medicamento.

Já em gravação de 14 de agosto de 2020, quando Weintraub discursou em um evento no Palácio do Planalto, o assessor informa que recebeu a missão de conduzir um esforço governamental em nome da legitimação do uso da cloroquina contra a covid:

“Eu, a partir de fevereiro [de 2020], como assessor do presidente, uma oportunidade que me foi dada pelo presidente, eu comecei a entrar em contato com os médicos. Os médicos que tenho referência, como o doutor Luciano Azevedo, a doutora Nise [Yamagushi], o Paulo Zanotto”. Os três nomes citados se notabilizaram pela defesa do tratamento precoce contra a Covid-19.

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No mesmo evento, o anestesiologista Luciano Dias Azevedo agradeceu: “Gostaria de agradecer ao Arthur Weintraub porque desde o início de fevereiro ele nos procurou, começou unir os grupos de médicos para estudar a doença e pesquisar soluções. Senhor Arthur abriu portas”.

Edição: Luiza Mançano