CPI DA COVID

O que fez o jornalista acusado de “hackear” app do governo que receitava cloroquina

Especialista em dados, Menegat apenas consultou código-fonte; qualquer usuário pode fazer a operação

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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TrateCov foi lançado pelo Ministério da Saúde para, em tese, orientar médicos a oferecer tratamento para pessoas com suspeita de covid-19 - Ministério da Saúde/Faceboook

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid nesta terça-feira (25), a secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, a médica cearense Mayra Pinheiro, acusou o jornalista Rodrigo Menegat de "hackear" o aplicativo TrateCov, lançado pelo Ministério da Saúde para, em tese, orientar médicos a oferecer tratamento para pessoas com suspeita de covid-19.

Depois de dizer que foi feito um boletim de ocorrência sobre o suposto hackeamento para que a polícia abrisse uma investigação, a médica conhecida como Capitã Cloroquina foi questionada sobre quem teria sido o autor do que ela considerou como uma infração: “Deixa eu pegar aqui... É um jornalista. Chama Rodrigo Menegat”, respondeu Mayra.

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O jornalista citado pela servidora do Ministério da Saúde é especialista em jornalismo de dados. Em seu trabalho, conecta reportagem, programação e design. Tem matérias publicadas em veículos como O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo e The Washington Post.

A operação feita por Menegat, no entanto, está longe de ser complexa. Ele apenas extraiu o código-fonte da plataforma. O conteúdo, público e que pode ser consultado por qualquer usuário, é um conjunto de instruções escritas que tem a função de dizer ao aplicativo o que ele deve fazer.

Em caso de computadores com sistemas operacionais Mac OS e Linux, para visualizá-los é necessário apenas pressionar os botões (Command + Option + C). Em Windows, o atalho é (Control + Shift + i). Também é possível acessar o código ao clicar com o botão direito em um elemento na página, depois com o esquerdo em "Inspecionar elemento"

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Menegat publicou uma análise do código-fonte do aplicativo em 20 de janeiro em sua conta no Twitter (o perfil está privado desde que ele foi citado na CPI, segundo o próprio, para "evitar ataques").

Segundo o jornalista, o TrateCov recomendava sempre o mesmo coquetel de medicamentos, que inclui as comprovadamente ineficazes cloroquina e ivermectina, independentemente dos sintomas relatados pelo usuário.


Postagens explicam a operação realizada pelo jornalista / Reprodução/Twitter

"Gente, o código-fonte do app TrateCov tá acessível para quem quiser pegar na URL usando o inspetor de elementos. Ele foi gerado através de um framework e injetado, então é duro seguir a lógica do início ao fim. De qualquer modo, é evidente que ele só receita o kit covid-19", escreveu.

"As únicas funções e objetos visíveis, além de coisas como os cálculos de idade e IMC do paciente, existem para exibir a indicação e posologia das seguintes drogas: ivermectina, cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, sulfato de zinco, doxiciclina, zinco e dexametasona", finalizou.

Edição: Rebeca Cavalcante