MOBILIZAÇÃO

Artigo | 29 de maio, por que ir para a rua nesse momento?

Diferente de Bolsonaro, o campo progressista se posiciona, desde o início da pandemia, em defesa da vida do povo

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Ato em Juiz de Fora (MG) levou estudantes à rua - Créditos da foto: Levante Minas/Facebook

Vivemos um momento de aprofundamento da crise política, econômica, social e sanitária no Brasil, que tem estimulado as organizações populares a refletirem sobre quais as formas de luta e o caminho necessário para o enfrentamento ao governo genocida de Jair Bolsonaro. No último 13 de maio, data historicamente protagonizada pela luta do movimento negro, em diversas cidades do país foram construídas mobilizações antirracistas, desencadeada pela chacina do Jacarezinho no Rio de Janeiro.

::Vai aos atos contra Bolsonaro? Relembre orientações sanitárias para minimizar risco::

Além disso, o governo Bolsonaro anunciou novo corte de verbas nas universidades federais, que pode ter como consequência a paralisação das suas atividades, impedindo a manutenção e funcionamento dos hospitais universitários e das pesquisas de produção de vacinas. Após esse anúncio, a comunidade acadêmica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) se manifestou sobre o impacto que a medida trará para a universidade e organizou mobilizações de rua contra os cortes.

Vivemos um dos momentos mais sombrios e tristes da história, muitas vidas e sonhos levados embora

Diferente da postura do governo Bolsonaro, o campo progressista vem, desde o início da pandemia, se posicionando em defesa da vida do povo brasileiro. Esse posicionamento se dá através das diversas ações de solidariedade construídas nas periferias de todo o Brasil, da luta incessante por renda emergencial digna, pela vacina para todos e pela implementação de medidas de isolamento social.

Em um cenário em que o povo brasileiro está morrendo de fome, de bala ou contaminado pelo novo coronavírus, tem-se colocado na ordem do dia o debate sobre a construção de mobilizações massivas como forma de resistência à política genocida do governo federal. Reafirmando nosso compromisso com a defesa da vida, o campo progressista se desafia a formular orientações sobre qual a maneira mais segura de retomar os protestos de rua.

 Como ir pra rua?

Diversos pesquisadores e militantes apontam a possibilidade de realização de atos de rua tomando alguns cuidados sanitários antes, durante e após os atos. Primeiramente, é preciso afirmar que qualquer ação massiva vai gerar algum grau de risco de contaminação, portanto, é necessário realizarmos um duplo movimento de construção de orientações sanitárias e convencimento do povo da possibilidade de protestar com cuidados.

::Vacina no braço, comida no prato: atos #ForaBolsonaro ocorrem pelo país nesta quarta::

Atualmente, há mais informações sobre a forma de contaminação do novo coronavírus do que havia há um ano. Estudos mostram que a transmissão do novo coronavírus se dá, principalmente, por via aérea, enquanto a transmissão por superfície é baixa. A partir dessas novas informações, de vários espaços de organização dos movimentos populares e ouvindo especialistas de saúde coletiva, sistematizamos as seguintes orientações que contribuem para a realização de protestos com cuidados:

Quem não deve participar dos atos:

Pessoas que estão apresentando sintomas de covid-19, que tenham tido contato com alguém que teve confirmação recente de contaminação com o novo coronavírus, que possuam comorbidades ou que residam com alguém que as possua.

O que fazer antes do ato:

É necessário tomar cuidado redobrado com o transporte público. Evitar meios de transporte sem janela e que tenham muitas pessoas. É imprescindível que a pessoa já saia de casa utilizando máscara, preferencialmente do tipo PFF2 ou N95.

O que fazer durante o ato:

* Mantenha-se sempre ao ar livre e preferencialmente com uma distância de 1 a 2 metros das outras pessoas. A fim de possibilitar o distanciamento, os movimentos populares vêm apontando a possibilidade dos atos de rua serem organizados em fileiras com distância de pelo menos 1 metro entre cada pessoa.

* Não retire a máscara para comer, conversar, falar ao microfone ou fumar. Apenas retire a máscara para trocá-la caso ela esteja úmida. Se for necessário trocar a máscara, se afaste das demais pessoas para fazer isso.

* Limpe as mãos frequentemente com álcool em gel 70% e evite tocar mucosas dos olhos, nariz e boca sem que as mãos estejam devidamente higienizadas.

* Não compartilhe objetos de uso pessoal e, se for possível, leve mais de uma máscara PFF2 ou N95 para distribuir para quem não as tem.

O que fazer depois do ato:

Não confraternizar com amigos nem em bares, nem em casas, após o ato. No caminho de volta, tome os mesmos cuidados com o transporte público. Apenas retire a máscara ao chegar em casa.

Lembre-se que dinheiro, documentos e celulares podem ser fonte de contaminação. Portanto, higienize esses objetos logo que puder.

Juiz de Fora (MG), uma experiência para se inspirar!

No dia 13 de maio, estudantes retornaram às ruas de Juiz de Fora, em Minas Gerais, com o recado: “Se um povo vai às ruas na pandemia é porque o governo é mais perigoso que o vírus”. Além de evidenciar todo o descaso e falta de responsabilidade com a vida da classe trabalhadora na má condução da pandemia do coronavírus, os manifestantes também tinham o objetivo de denunciar os cortes nos orçamentos sobre as universidades federais de todo o Brasil.

Sabemos que esses cortes afetam diretamente o programa de bolsas e assistência estudantil, gerando fortes impactos na sobrevivência e permanência destes estudantes no ensino superior.

Para manter a segurança de todos, durante o ato foram utilizadas algumas metodologias já conhecidas pelos movimentos sociais. Visando manter o distanciamento social, o deslocamento do ato foi organizado em três fileiras com 1,5 metros de distância para frente e para trás. Não é novidade as manifestações de rua seguindo o formato em fila.

Mobilização popular em fileira

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ao longo da década de 1990 foi um grande exemplo de mobilização popular em fileira. Além de garantir o distanciamento sanitário, o ato em fileira nos ajuda a demonstrar disciplina e exemplo de organização coletiva.

Para que a segurança seja ainda maior e buscando manter o ato organizado do começo ao fim foram criadas algumas comissões de extrema importância como a comissão de segurança - responsável por monitorar e manter o distanciamento social entre os manifestantes, bem como organizar as fileiras e garantir que elas não se embolem durante o trajeto - e a comissão de saúde - responsável pela distribuição de máscaras PFF12 eN95 e disponibilizar álcool em gel.

Vivemos um dos momentos mais sombrios e tristes da história, muitas vidas e sonhos levados embora

É interessante que a comissão organizadora dos atos se responsabilize para garantir a distribuição das máscaras recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como as mais seguras e eficazes no combate ao contágio e proliferação do vírus, e aqueles que estiverem com máscaras de pano possam fazer a troca pela PFF2 e/ou N95.

As orientações de segurança devem estar claras e serem transmitidas com frequência durante o ato, e caso alguém as recuse ou as infrinja deverá ser convidado a se retirar da manifestação.

 O ato, em Juiz de Fora, contou com cerca de 100 estudantes e se manteve organizado e com disciplina durante toda sua duração. As fileiras foram de suma importância para manter o ambiente mais seguro e sem contato físico entre as pessoas presentes, além de demonstrar que estamos ocupando as ruas com responsabilidade e consciência.

As comissões trabalharam de forma muito assertiva e temos um saldo positivo, tanto do ponto de vista das questões operacionais, quanto de passar nosso recado e pintar novamente as ruas de povo.

Povo nas ruas, Bolsonaro a culpa é sua!

Vivemos um dos momentos mais sombrios e tristes da história, muitas vidas e sonhos levados embora, o povo passando fome e sem garantias de sobrevivência e proteção. Estamos longe de sair dessa grave crise sanitária, econômica, social e política por isso é necessário levantarmos nossas forças e dizer que não aceitaremos mais um genocida no comando de nosso país.

No próximo dia 29 de maio, as ruas de todo Brasil vão ser tomadas de novo, queremos Vacina Já para todos e todas, queremos um auxílio emergencial digno, queremos estudar - tirem as mãos de nossas universidades - queremos VIVER!

Confira nas páginas da Frente Brasil Popular de Minas Gerais o horário e local do ato em sua cidade e venha construir com a gente essa luta pelo FORA BOLSONARO, pois só a luta coletiva é capaz de transformar.

 

*Ana Carolina Vasconcelos é militante do Levante Popular da Juventude e Luiza Gonçalves Lovisi Travassos é estudante de Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e militante do Levante Popular da Juventude.

*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Rebeca Cavalcante e Rafaella Dotta