Memórias revistas

Pesquisadores brasileiros criam plataforma online sobre a contestação de monumentos

Projeto Demonumenta debate fenômeno que se ampliou a partir dos protestos do Black Lives Matter em 2020

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
A estátua do Borba Gato em São Paulo vem sendo debatida sob a luz do passado do bandeirante - Wiki commons

A exaltação de personagens, datas e marcos relacionados à escravidão e exploração colonialista está em contestação no mundo todo e, para compreender e documentar esse fenômeno no Brasil, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) criaram o projeto Demonumenta.

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Em uma plataforma disponível ao público, o grupo disponibiliza estudos e análises sobre a contestação de monumentos arquitetônicos, movimento impulsionado pelo brutal assassinato do cidadão estadunidense George Floyd.

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Em maio de 2020, Floyd foi asfixiado por um policial, que manteve-se ajoelhado sobre o pescoço da vítima. Durante a ação, ele chegou a pedir que o agente não o matasse e disse, diversas vezes, que não conseguia respirar.

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O crime causou repercussões globais, com protestos contra o racismo que tomaram as ruas de diversos países, encabeçados pelo movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam). Os monumentos em homenagem a figuras que se beneficiaram e defenderam a exploração do povo preto nos períodos coloniais se tornaram alvo das manifestações.

O que significa retirar estátuas de escravocratas do espaço público?

No Brasil, os questionamentos também tomaram força. Dois exemplos são as intervenções na estátua de Borba Gato e no Monumento às Bandeiras, em São Paulo, apontados como símbolos da escravidão. 

O projeto Demonumenta pretende alimentar um "debate aberto sobre a colonialidade embarcada nas instituições, monumentos, arquiteturas e acervos públicos". Entre janeiro e fevereiro, foram realizados encontros que contemplaram o debate sobre patrimônios arquitetônicos “incômodos” relativos à Independência do Brasil e à Semana de Arte Moderna de 1922.

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Em um desses encontros, a professora Giselle Beiguelman, que atua na equipe de coordenação do projeto, concluiu sobre a importância das discussões "Nós precisamos pensar que lugares, que instituições e, especialmente, quais estéticas da memória falam com o nosso presente e nos permitem interrogar o passado para construir outros futuros".

Desde abril, o projeto se reúne em Grupos de Trabalho que analisam temáticas da História Urbana, histórias e patrimônios indígenas e afro-diaspóricos, Realidade Aumentada, Visão Computacional e estéticas da memórias. Toda a documentação sobre os trabalhos está disponível no site da iniciativa. 

Edição: Vinicius Segalla