Análise política

Por que os senadores do Paraná são carta fora do baralho na CPI da Covid?

Cloroquina, decretos e concursos, lotação nos hospitais, índice de letalidade. O estado do Paraná tem muito a explicar

via Porém.net |
Senadores do Paraná não são atuantes na CPI - Montagem: Porém.net

Quem acompanha os depoimentos na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid deve anotar algumas figurinhas carimbadas. As três principais cartas são os senadores Omar Aziz (PSD-AM), Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (REDE-AP). Essa trinca conduz os questionamentos com relação a cloroquina, vacinas, imunidade de rebanho e outras medidas de enfraquecimento dos esforços contra a pandemia.

Do outro lado desse buraco, como coringas, estão os senadores Marcos Rogério (DEM-RO), Fernando Bezerra (MDB-PE) e Luis Carlos Heinze (PP-RS). A CPI ainda tem nomes importantes nos questionamentos, como Humberto Costa (PT-PE), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Fabiano Contarato (REDE-ES), Simone Tebet (MDB-MS), Eliziane Gama (Cidadania-MA), entre outros. No entanto, os três senadores do Paraná, Alvaro Dias (Podemos), Flávio Arns (Podemos) e Oriovisto Guimarães (Podemos), são cartas fora do baralho.

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Motivos para entrar nessa discussão não faltam. Assim como Manaus, o Paraná sofreu com uma cepa mais agressiva. O governador bolsonarista Ratinho Junior acompanhou diversas medidas aliadas ao presidente Jair Bolsonaro. Entre elas, as principais são o uso da cloroquina e hidroxicloroquina durante a pandemia e a incompetência na compra da vacina russa Sputinik V.

Em abril de 2020, o estado apostava suas fichas no remédio sem comprovação científica. Incentivado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como solução no tratamento da pandemia, o estado distribuiu 17 mil comprimidos do medicamento cloroquina para todas as Regionais e 28 hospitais de referência.

Posteriormente, já em 2021, o site do governo ainda recomendava o uso da cloroquina no combate à Covid-19. A Nota 17/2020 seguia entre as orientações da secretaria como “terapia adjuvante” a ser utilizada em pacientes em estado grave. É justamente esse um dos principais temas discutidos na CPI com o ex-ministro Eduardo Pazuello e com a Capitã Cloroquina - Mayra Pinheiro - com relação à Crise de Manaus. Mas, curiosamente, os senadores paranaenses não entraram nesta discussão.

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Alvo de questionamentos na CPI, o uso da cloroquina ainda está entre as notas técnicas do Paraná / Reprodução

Ah, hoje, 01 de junho, se você entrar no site do governo do Paraná, a nota Uso da cloroquina como terapia adjuvante no tratamento de formas graves da COVID-19 (Versão 1) ainda está lá, orientando, “a critério médico, o medicamento cloroquina como terapia adjuvante no tratamento de formas graves da COVID-19, em pacientes hospitalizados, sem que outras medidas de suporte sejam preteridas em seu favor.”

A recomendação “não recomendável” é criticada pelo deputado estadual paranaense Requião Filho (MDB). Para ele, o estado atua com incompetência, negligência, imprudência e/ou imperícia. “Quando o uso da cloroquina é refutado pela OMS [Organização Mundial da Saúde], pela ciência e até mesmo pelo seu maior garoto propaganda, o Governo Federal, manter as recomendações para seu uso no site do Estado do Paraná ou só pode ser por incompetência, negligência, imperícia ou imprudência”, destaca o deputado.

Faltam vacinas e respostas

A crise das vacinas também envolve o Paraná. No fim do ano passado e começo deste ano, o governador prometeu contrato com a vacina russa. Milhões de reais foram separados para isso. Mas o Paraná não só levou chapéu do Consórcio do Nordeste como não respondeu ao pedido para que apresentasse interesse na compra da Sputinik V posteriormente. Coincidência ou não, é a mesma acusação que é alvo o governo Bolsonaro com relação a compra da vacina da Pfizer e da Coronavac.

O Paraná também boicotou o isolamento social diversas vezes. O governador realizou concursos públicos, promovendo aglomerações, jogou no colo dos prefeitos a responsabilidade de decretar lockdowns e, neste momento, mantém escolas abertas, reabrindo outras, enquanto suspende o atendimento presencial na Secretaria de Educação e nos núcleos regionais.  São muitos os elementos para os senadores paranaenses participarem da CPI da Covid. E até para despertar a investigação dos deputados estaduais.

Outro lado da Covid

Embora não participem ativamente da CPI, os senadores comentam a pandemia. Recentemente, Alvaro Dias disse que é “muito importante esse passo liderado pelos governadores. A aceleração da vacinação vai permitir  a retomada das aulas presenciais, tão necessárias para garantir a proteção física.”

Já Flávio Arns se preocupa com o tema Covid quando o assunto envolve retorno das aulas presenciais. Oriovisto Guimarães, por sua vez, mostra estar atento à CPI. “A Comissão Temporária sobre a Covid-19 é de suma importância para complementar os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito que trata do mesmo assunto. Enquanto a CPI busca descobrir onde estão os erros da pandemia, nós, membros da Comissão Temporária, temos como objetivo descobrir os pontos assertivos, em busca de mais vacinas para todos os brasileiros”, tuitou.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lia Bianchini