DRAMATURGIA

Coletivo teatral debate o apagamento das narrativas LGBTQIA+ ao longo da história

Historicidade das narrativas LGBTQIA+ é tema de aula pública promovida pelo coletivo Rainha Kong nesta terça-feira (08)

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |
Coletivo Rainha Kong em atuação no espetáculo "O Bebê de Tarlatana Rosa", em 2016. A peça foi baseada em conto do escritor João do Rio - Nat Fejfar

Quem conta a história da população LGBTQIA+?  Quais discursos políticos e estéticos corpos até então marginalizados são capazes de reproduzir? Quem dissemina e como comunica essas narrativas? 

Responder a essas perguntas é o norte de “As Histórias Vistas de Baixo”, o mais novo projeto do coletivo teatral RAINHA KONG, companhia formada em 2015, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), para discutir a historicidade desta população nas artes cênicas e performativas. 

Vitinho Rodrigues, fundador do grupo, conta que é preciso desmistificar a ideia de que não existiam expressões diversas de gênero e de sexualidade antes dos anos 1970, e dos movimentos de Stonewall.

Prova disso, está no primeiro espetáculo lançado pela Rainha Kong, em 2016, intitulado "O Bebê de Tarlatana Rosa", peça que traz uma perspectiva queer do conto homônimo do jornalista e escritor João do Rio, escrito nos anos 1920.

"Estivemos durante toda a história, durante todo o período, mas porque muites LGBTs não acessavam os espaços de poder para contar as histórias, ou não duravam para contá-las, essas histórias foram sendo apagadas, ou foram sendo lidas de uma maneira que não nos representavam", conta.

A iniciativa da Rainha Kong faz parte da 36ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. A última das três aulas públicas programadas pelo coletivo, acontece nesta terça-feira (8), e aborda a construção de personagens LGBTQIA+ da dramaturgia e literatura brasileira, sob a ótica de Ave Terrena -  dramaturga, poeta e professora da Escola Livre de Teatro de Santo André.

Os encontros virtuais são transmitidos pelo canal no Youtube da Casa 1, que coordena a comunicação do projeto, e marcam o mês de luta do movimento e população LGBTQIA+.

"Fomento ao teatro é uma lei incrível e histórica, e ela deve ser ocupada por todes, por todos os grupos de teatro, por todos os coletivos, coletivas, enfim. Então, isso faz com que a gente ganhe força e que ganhe tração dentro dessa realidade muita dura, que é a da censura, e que é a da pandemia", destaca Vitinho. 

Uma linguagem inclusiva

Para além da discussão da representatividade nas artes cênicas, o combate aos preconceitos embutidos na linguagem também se fortalecem entre os corpos emergentes da dramaturgia contemporânea.

Na opinião de Vitinho, é ainda desafiador consolidar uma forma de comunicação que rompa com a estrutura binária da língua portuguesa.

"É muito louco como mesmo com a imposição da língua, a língua tendo também de uma certa fora um caráter de opressão, a gente consegue avançar com essa linguagem. E eu penso sempre no Pajubá, por exemplo, que era essa maneira das travestis se comunicarem em segredo. Então, a vivência e a convivência com a língua, ela extrapola a normatividade da língua", destaca.

Em entrevista recente ao Brasil de Fato, Gabriela Augusta, fundadora da consultoria em diversidade Transcendemos, aponta que mais do que uma simples substituição de pronomes e artigos, praticar uma comunicação neutra, que retira marcas de gênero, passa necessariamente por um processo de reflexão.

"Na medida em que você adota esse conjunto de práticas da linguagem inclusiva, ou da comunicação inclusiva, você está se posicionando a favor da diversidade, acho que isso é bastante importante para trazer pertencimento as pessoas, para que as pessoas confiem na sua empresa, confiem em você, porque falando de um indivíduo, você falando de uma forma com menos marcadores de gênero, por exemplo, você está demonstrando que é uma pessoa que se importa, que você quer um mundo mais justo para todos, todas, todes", finaliza. 

Edição: Isa Chedid