Na mira do Senado

Gabinete paralelo: Queiroga admite conversas com Nise, Carlos Bolsonaro e Osmar Terra

Ministro tenta negar existência de grupo de aconselhamento a Bolsonaro para ações contra a pandemia

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Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, falou pela segunda vez aos senadores da CPI da Pandemia - Jefferson Rudy/Agência Senado

Em seu segundo depoimento à CPI da Covid, nesta terça-feira (8), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que já recebeu e mantém contato “individualmente” com membros do chamado “gabinete paralelo”, como o ex-ministro e deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), o vereador Carlos Bolsonaro, o Carluxo, e a médica negacionista Nise Yamaguchi, de quem recebeu um protocolo de cloroquina que seria usado em Cuba.

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Por outro lado, disse desconhecer a existência do gabinete. “Não tenho contato com o grupo".

O relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), citou evento para o qual Marcelo Queiroga foi convidado, nos dias 29 e 30 de maio deste ano, que tinha a participação de integrantes do gabinete paralelo.

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O ministro não compareceu, mas enviou o secretário-executivo da pasta, Rodrigo Cruz. Marcelo Queiroga disse desconhecer sobre os assuntos tratados na ocasião e evitou usar a expressão “gabinete paralelo”.

“O fato de os médicos defenderem tratamentos diferentes não significa que o ministro não pode participar. Porém, não participei. Não sei o que o secretário tratou lá, ele não falou comigo”, respondeu.

Veto à médica Luana Araújo

Marcelo Queiroga também respondeu sobre o cancelamento pela Casa Civil da nomeação da médica Luana Araújo para a secretaria-extraordinária de enfrentamento à pandemia.

Entretanto, o ministro disse que a decisão foi tomada por ele. Isso porque a exclusão de Luana Araújo “traria harmonia” ao debate sobre a cloroquina.

“Ela começou a sofrer muitas resistências em relação a temas que são tratados aqui, divergência de médicos. Não seria importante para contribuir na harmonização desse contexto”, alegou.

Ele disse que o veto à médica foi uma “questão política entre médicos” e elogiou o currículo de Araújo. Seguiu dizendo que ela é “muito qualificada”, mas que não iria contribuir para temas como o tratamento precoce. “Ela não tinha perfil para contribuir para o meu projeto à frente do ministério”, disse.

Calheiros, então, perguntou por que o ministro manteve na pasta a médica Mayra Pinheiro, conhecida como “capitã cloroquina”, se a priorização era “harmonizar” sobre as divergências em torno de medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento da covid-19.

Queiroga alegou que Mayra coordena o programa Médicos pelo Brasil e não trabalha no combate à pandemia.

“Por bem, achei melhor manter a doutora Mayra. Não considerei exonerar a Mayra, porque ela está fazendo o trabalho dela no que foi designada.”

Entretanto, na gestão de Eduardo Pazuello, Mayra Pinheiro foi enviada a uma missão em Manaus para tratar de políticas de enfrentamento à pandemia, com o objetivo de implemenar um protocolo para a administração do chamado “kit covid”.

Sem infectologistas

Ele afirmou ter autonomia para tomar decisões à frente do ministério da Saúde, como teria sido o cancelamento da nomeação de Luana Araújo, e para estabelecer as políticas da pasta.

Porém, apesar de sua alegada autonomia, Queiroga ressalvou que há limites para suas decisões: “Isso não significa carta branca para fazer tudo o que quiser”. Questionado então sobre a quantidade de militares no ministério, disse que não poderia “chegar num dia e exonerar todos que estão trabalhando ali”.

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Em diversos momentos, Marcelo Queiroga disse ser contra o tratamento precoce e o “kit covid”, concordando que os medicamentos não têm eficácia contra a covid-19.

Ele também revelou que o Ministério da Saúde tem “perdido quadros” e que não tem médicos infectologistas dentro da pasta, apenas consultores. Renan Calheiros respondeu que a afirmação “é grave, pois mostra que os infectologistas não estão sendo ouvidos na elaboração de políticas públicas.”