MULHERES

Violência no RJ vitimou 15 grávidas desde 2017, afirma plataforma Fogo Cruzado

Até março deste ano, quase 700 mulheres foram baleadas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Kathlen Romeu
Jovem de 24 anos estava grávida de quatro meses e foi baleada na cabeça, no Lins, Zona Norte do Rio - Reprodução

A morte de Kathlen Romeu, grávida de quatro meses, na última terça-feira (8) é a 8ª morte de gestante na Região Metropolitana do Rio de Janeiro desde 2017. Segundo a plataforma Fogo Cruzado, 15 mulheres grávidas foram baleadas no Grande Rio, sete delas morreram. Desses 15 casos, nove bebês não resistiram.

Segundo a Fogo Cruzado, apesar de todas terem sido vítimas da violência armada, as 15 grávidas baleadas no Grande Rio foram vitimadas de diferentes formas: 6 delas foram vítimas de balas perdidas, 4 foram vítimas de execução/homicídio, 3 foram baleadas durante roubo ou tentativa de roubo, 1 foi baleada com indícios de tortura e 1 não teve motivação identificada. 

Até março de 2021, a plataforma, que compila dados de segurança pública no estado do Rio, registrou 681 mulheres baleadas na Região Metropolitana do Rio: 258 delas não resistiram e morreram.

Os motivos dos tiroteios que mais deixaram mulheres baleadas foram operação ou ação policial, que fez 194 vítimas ao todo (45 mortas e 149 feridas). Roubo e tentativa de roubo veio em seguida, totalizando 117 vítimas (34 mortas e 83 feridas). Homicídio e tentativa de homicídio (111 vítimas: 74 mortas e 37 feridas); execução e tentativa de execução (68 vítimas: 59 mortas e 9 feridas).

Vítimas mulheres em disputa entre facções/milícias somam 36, sendo 13 mortes e 23 feridas. Em apenas 10% dos casos, não foi possível identificar as circunstâncias dos disparos.

Quase metade das mulheres baleadas na Região Metropolitana do Rio foram vítimas de balas perdidas. Foram 314 mulheres atingidas que não tinham nenhuma participação ou influência direta nos tiros, mas que sofreram igualmente com os efeitos da violência armada: 59 delas morreram.

Chama atenção também que 12% das vítimas (85 mulheres) foram baleadas quando estavam dentro de casa: destas, 49 morreram. E outras 11 eram agentes de segurança: 7 morreram.

Ação da UPP

A designer de interiores Kathlen Romeu estava grávida de quatro meses e foi baleada na cabeça durante confronto na região. Ela estava caminhando na rua com a avó próxima à localidade conhecida como Beco da 14 quando teve início a troca de tiros entre policiais e criminosos. A jovem chegou a ser socorrida e levada por policiais para o Hospital Salgado Filho, no Méier, bairro da Zona Norte, mas não resistiu ao ferimento.

Em nota, a Polícia Militar informou que não estava sendo realizada uma operação, mas que fazia patrulhamento de rotina da UPP quando o carro foi alvo de tiros.

Em entrevista à TV Globo na manhã desta quarta-feira (9), o  pai de Kathlen disse que há um mês decidiu tirar a filha da comunidade, onde vive a avó, por conta da frequência de tiroteios no local.

"Noventa e nove por cento da comunidade são pessoas de bem. A mesma operação que tem constantemente na nossa área não tem na Zona Sul. Eu tirei ela de lá por causa da violência. Minha filha era a coisa mais especial da minha vida. Uma pessoa do bem, inteligente", disse o pai de Kathlen.

Repercussão

Nas redes sociais, a hashtag #Kathlen foi um dos assuntos mais comentados em todo o Brasil, com repercussão entre políticos e artistas. Anielle Franco disse que lembrou da irmã, a vereadora Marielle Franco, executada em março de 2018, no Rio Comprido, região central do Rio.

"Não consegui dormir quase nada pensando na família da Kathlen. Fiquei pensando na primeira noite sem minha irmã. Depois pensei naquela ida fatídica ao IML (Instituto Médico Legal) que precisei fazer. Mari nutria sonhos. Kathlen carregava o seu. É sonho atrás de sonho sendo interrompido. Que dor!", escreveu Anielle.

Protesto

Um ato em frente ao Palácio Guanabara, sede do governo estadual, em Laranjeiras, Zona Sul da capital, está marcado para esta quarta-feira (9), às 18h. O protesto é contra a política de segurança que vem sendo colocada em prática pelo governador Cláudio Castro (PSC) durante a pandemia.

A organização do ato recomenda que todos e estejam de máscaras e que levem álcool em gel para higienização das mãos. Na chamada para o protesto, os organizadores lembraram o governo vem desrespeitando decisão do Supremo Tribunal Federal que impede ações policiais em comunidades durante a pandemia.

"Leve sua vela, seu cartaz, sua dor e revolta! Encheremos o Palácio Guanabara com símbolos que representam a política de morte que este governo produz todos os dias em nossas favelas e periferias. O governador Cláudio Castro e sua polícia vem afrontando o STF e descumprindo a liminar de suspensão das Operações Policiais no Estado do RJ", afirmam os organizadores.

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Eduardo Miranda