Minas Gerais

OPINIÃO

Artigo | A alma da fome é política

Para o mineiro Betinho, a fome não é apenas uma questão estrutural: “A alma da fome é política”

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |
"O impacto da fome também é imunológico. A drástica piora na alimentação dos brasileiros implica também na capacidade do corpo de combater o vírus" - Créditos da foto: Midia NINJA

A fome é um assunto recorrente em nosso país-continente. Ela existe e está escancarada em todos os cantos de um Brasil pandêmico, sem rumo e quase sem esperança. Há pessoas e instituições que acreditam na meritocracia e na teoria de uma abundância sem noção. No país, se existe algo abundante, está concentrado nas mãos de apenas 10% da população. O atual desgoverno ignorou a gravidade da pandemia da covid-19 e usou o negacionismo científico para legitimar sua incompetência para gerir políticas públicas de saúde.  

Na última década, a fome já dava sinais de acréscimo no país e ficou mais agravada na pandemia. Em 2020, de acordo com o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, 19 milhões de pessoas viviam em situação de fome no Brasil. Em 2018, eram 10,3 milhões. Em apenas dois anos houve um aumento de quase 28%, o que coloca mais de 9 milhões de brasileiros no mapa da fome.  O impacto da fome também é imunológico. A drástica piora na alimentação dos brasileiros implica também na capacidade do corpo de combater o vírus, conforme aponta diversos estudos científicos.  

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Em sua pesquisa sobre a fome durante a pandemia no Brasil, a socióloga Sirlândia Schappo apresentou um panorama abrangente sobre questões que continuam sendo negligenciadas no país: “a ausência do direito humano à alimentação envolve não apenas a falta de renda ou a disponibilidade de alimentos, mas de vários outros fatores, como acesso ao alimento, a falta de condições adequadas para produzir o alimento, o não acesso à terra e a falta de condições de saúde ou de habitação”.

 Apesar da vasta extensão territorial do Brasil que apresenta grande potencial agrícola, existe uma concentração fundiária que impossibilita a ampliação de projetos de agricultura familiar que possam garantir a erradicação da fome. Esse problema, tão vergonhoso para qualquer nação, poderia ser amenizado com a reforma agrária, como defendia o sociólogo Herbert de Souza, que lutou contra a fome com o movimento “Ação da cidadania”. Para o mineiro Betinho, a fome não é apenas uma questão estrutural: “A alma da fome é política”. Com intuito de ampliar essas reflexões de pirilampos, disponibilizo o seguinte poema:

Malabares

Não me venham com ilusão

O contorcionismo é diário

O malabarismo é pela cesta

- Básica, não é?

Então não me venham com ilusão

- É pão que a gente quer!

Éverlan Stutz é jornalista, professor, ator, compositor e poeta

Edição: Elis Almeida