À própria sorte

Garimpeiros atacam 3ª comunidade indígena (RR); já são 9 pedidos de socorro ignorados

Essa é o terceiro ataque em Roraima em menos de uma semana; grupo atua encapuzado e usa arma de fogo contra indígenas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Balas recolhidas após um dos primeiros ataques de garimpeiros a Comunidade Palimiú, na Terra Indígena Yanomami - Reprodução/Júnior Hekurari Yanomami

Mais uma comunidade indígena foi atacada nesta semana por garimpeiros ilegais em Roraima. A Comunidade de Korekorema está localizada na região do Palimiu, Terra Indígena Yanomami, onde outras duas comunidades já foram alvo de balas e bombas de gás lacrimogêneo. 

Esta é a terceira comunidade atacada em menos de dois meses e, juntas, elas já somam mais de 10 atentados a balas. O clima de ameaças persegue os Yanomami desde o dia 27 de abril, quando os indígenas da Comunidade do Palimiu interceptaram uma carga de quase mil litros de combustível para aeronaves do garimpo. 

Desde o episódio, os invasores perseguem, ameaçam e atacam os povos originários da região, que já enviaram nove pedidos de socorro às autoridades. 

Duas crianças, de um e cinco anos, morreram afogadas ao cair no Rio Uriracoera enquanto fugiam dos tiros de um ataque à comunidade do Palimiu em 11 de maio deste ano. 

Após este episódio, um cachorro foi morto com um tiro pelos garimpeiros ilegais como forma de ameaça aos indígenas que há quase dois meses não conseguem dormir, caçar ou pescar por conta dos ataques. 

O clima tenso na região se dá por falta de atenção do governo federal, que há mais de três semanas ignora a decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou que o governo garantisse a segurança dos indígenas Yanomami e Munduruku.

No último dia 14 de junho, o Ministério da Justiça e Segurança Pública autorizou o uso da Força Nacional de Segurança Pública na Terra Indígena Yanomami, onde os atentados e ameaças são diários. 

Já são nove pedidos formais de socorro

Desde que os atentados começaram, a Hutukara Associação Yanomami (HAY)  já enviou nove ofícios e divulgou duas notas públicas denunciando a situação vivida na região e pedindo que as autoridades competentes garantam a segurança dos indígenas. 

Na noite da última quarta-feira (16), um novo atentado aconteceu na Comunidade Korekorema. Além desta, outras duas comunidades na região, Palimiu e Maikohipi, também foram alvo de ataques nesta semana. 

Mais um pedido de socorro foi enviado na tarde desta quinta-feira (17) à FUNAI, à PF/RR, ao MPF/RR e à 1ª Brigada de Infantaria da Selva do Exército (1ª BIS). 

No documento, a Hutukara destaca que por volta das 21h do dia 16 de junho, "um grupo de garimpeiros encapuzados dispararam tiros contra as casas da Comunidade de Korekorema, obrigando os Yanomami a se esconderem na floresta". 

"O episódio se soma à infindável sequência de ataques armados sofridos pelos indígenas Yanomami desde o início do ano e, junto ao recente ataque em Maikohipi, e aponta que a escala de violência continua se expandido para outras comunidades da região", denuncia o documento. 

Dario Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara que assina o ofício, explica que a vida dos indígenas está em risco. "Enquanto a circulação de garimpeiros armados permanece intensa e desobstruída, as comunidades Yanomami e Ye'Kwana seguem sob permanente ameaça contra suas vidas". 

"Mais uma vez reiteramos a urgência que o poder público atue de forma sistemática e permanente para conter a atividade do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, inclusive por meio do estrangulamento de logística por via fluvial, aérea e terrestre e assim garantir a segurança nas comunidades", finaliza o documento. 

O vice-presidente da associação, que está em Brasília denunciando os ataques dos invasores, declarou em coletiva de imprensa no último dia 15, que teme que a decisão de autorizar o uso das Forças Armadas na região seja apenas uma forma de desmobilizar os indígenas que estão lutando pela sobrevivência e não uma política efetiva de segurança. 

A região do Palimiu segue sem atendimento médico desde que os ataques começaram, já que os agentes do Distrito Sanitário Yanomami (DSEI-Y) foram retirados da unidade de saúde. 



 

Edição: Vivian Virissimo